Bênçãos
e saudações:
…O senhor escreve que encontra-se perplexo quanto às respostas
à questões como: "Qual a finalidade da vida?"
e "Qual o significado de um judeu?" – e que dúvidas
e confusões afligem-no dolorosamente.
Como o senhor escreve que frequentou a universidade e estudou ciências,
provavelmente está familiarizado com o tipo de equacionamento de
um problema complicado. Se queremos comprovar um determinado sistema,
quanto às leis e princípios nele prevalescentes, começamos
pelas partes que se prestam mais facilmente à análise e
à verificação. Quando tivermos comprovado a maior
parte do sistema, passo por passo (ou progressivamente em complexidade).
Poderemos então, depreender com segurança que, se a maior
parte deste sistema se enquadra em certas leis específicas, o restante
do mesmo, também é regido pelas mesmas leis.
O próprio bom-senso justifica a admissão de que, se uma
determinada lei é válida numa vasta maioria de casos, isso
também ocorrerá num caso particular em que não possa
ser demonstrada com segurança.
Aplicando este método de enfoque ao Universo como um todo, estamos
cada vez mais convencidos, ano após ano, da lei e ordem que regem
a Natureza, incluindo a matéria inerte, até o átomo
diminuto, e particulas ainda menores.
A Ciência Nuclear descobriu harmonia e ordem, jamais imaginadas
antes, em aproximadamente cem elementos conhecidos até hoje. Num
Universo de tamanha harmonia e organização, obviamente o
homem também deve estar submetido à ordem e finalidade.
Indo um passo à frente, a conclusão inevitável é
que, uma vez que existem tais leis e tal ordem no Universo, deve haver
uma Autoridade Mais Elevada responsável pelas mesmas. A analogia
é bem conhecida: Quando temos em nossas mãos um livro impresso,
de centenas de páginas, contendo uma história concatenada
ou uma filosofia, não podemos sequer, por qualquer rasgo de imaginação,
admitir que uma garrafa de tinta foi derramada acidentalmente e produziu
o livro. Da mesma forma, é muito menos admissível –
infinitamente menos admissível – que o nosso universo, com
o seu número infinito de átomos, moléculas e partículas,
todas distribuídas em perfeita ordem e harmonia, existem por acidente.
Obviamente há um Criador e Arquiteto, o qual dispõe e relaciona
todas as diversas partes do Universo em perfeita união e harmonia,
em conformidade com o conjunto de leis que Ele cria e supervisiona. É
claro que todo o sistema está além da nossa compreensão,
uma vez que a nossa compreensão, bem como a nossa existência
como um todo, é apenas uma parte infinitesimal de toda a ordem
cósmica, e certamente não é, de forma alguma, comparável
ao do próprio Criador.
Evidentemente, é absurdo esperar poder compreender o Criador, e
mais ilógico ainda, negar Sua existência, devido à
nossa incapacidade em compreendê-lo. Pode uma unidade conter um
número infinito de unidades? E aqui, pelo menos há alguma
relação, pois tanto a unidade (Um), como um número
infinito de unidades (Uns) são objetos idênticos –
números, ao passo, que não há comunhão entre
a criação e o Criador.
Aplicando a analogia da ciência, um passo adiante: na física,
na química, etc., quando uma lei é deduzida de uma série
de experiências e comprovada por diferentes pessoas, sob condições
variáveis de pressão, temperatura, umidade, etc., eliminando
desta forma a possibilidade de erro, efeitos colaterais, etc., esta lei
é aceita e torna-se válida também para o futuro.
Esta "regra" científica é aplicável, também,
a acontecimentos e fenômenos no passado. Quando um determinado acontecimento
ou fenômeno é referido, admitido por muitos historiadores
e reportado de maneira idêntica, não há "dúvida
científica" de que o fato realmente ocorreu naquelas circunstâncias.
Exemplo de acontecimento histórico foi a Revelação
no Monte Sinai relatada de maneira idêntica por milhões de
homens, mulheres e crianças; pessoas de todos os níveis
de vida e antecedentes que presenciaram-na pessoalmente e depois relataram-na
fervorosamente a seus filhos, geração após geração,
sem interrupção, até os dias de hoje.
Em tempo algum, mesmo durante os piores pogroms e massacres de judeus
não houve menos do que milhões de judeus mantendo fervorosamente
esta tradição. É bem sabido que jamais na História
Judaica houve uma interrupção na cadeia de tradição
judaica do Sinai até os dias atuais.
Isto faz este acontecimento, o mais autêntico de todos os acontecimentos
históricos da História Humana.
Isto significa que a Torá que temos e veneramos é dada por
D’us e contém, não apenas a nossa maneira de viver,
mas também a chave para a nossa existência em todos os tempos,
uma vez que é eterna como o seu Doador. Não é um
livro de teoria, filosofia ou especulação, e sim um guia
prático para nossa vida diária, válida em todos os
lugares e em qualquer época, incluindo a América do século
XX. Aqui, na Torá, a Lei Escrita e Verbal, a finalidade da vida
humana nesta terra está claramente indicada.
Resumindo-a:
É viver de acordo com a Torá, cumprindo seus preceitos (Mitsvot
– Farás) e abstendo-se de suas proibições (Mitsvot
– Não farás). A Torá também preveniu-se
contra a natureza fraca do homem para as tentações e dilemas
que ele, criatura de carne e osso, enfrenta na vida. É difícil,
quase impossível para o homem, jamais falhar; e a Torá indicou
que, caso isso aconteça, não há necessidade de se
desesperar. Há sempre a possibilidade da Teshuvá –
o retorno a D’us – e ao bom caminho; e o próprio fracasso
pode se transformar em um trampolim para um salto à frente, e um
avanço cada vez maior.
Pode-se perguntar: se tudo o que foi escrito acima é tão
simples e lógico, como explicar o número comparativamente
pequeno daqueles que observam a Torá e as mitsvot, enquanto que
os transgressores são tão numerosos?
A resposta a esta pergunta também é bastante simples. Eu
sinto-a na minha própria carne: quando alguém medita sobre
sua própria conduta e suas realizações, particularmente
em sua vida cotidiana [não em períodos de elevação
espiritual especial, como nos dias de Yom Tov, etc.], não é
difícil ver que um número muito grande dessas ações
são motivadas por desejos e inclinações, e não
pelo intelecto. Isto é particularmente verdadeiro quando o conflito
não impõe a ameaça imediata de "represárias".
Quanto mais remoto o perigo das sanções, mais fraca se torna
a motivação intelectual e a conduta torna-se mais fortemente
influenciada por desejo e emoção; e mais ainda, quando as
sanções são de natureza "abstrata". Pois
o medo das sanções físicas (multas, confinamentos,
etc.) é mais eficaz do que a advertência por argumentação
em nome da moral, justiça, humanismo, etc.
Há também um fator adicional da natureza humana. Quando
o homem sucumbe à tentação e comete um "pecado",
ele pode experimentar uma de duas espécies de reação:
Se ele é honesto e corajoso ele reconhecerá seu ato pelo
que representa, – um fracasso–, bem como uma quebra de sua
própria vontade sincera e consciência. Reconhecendo o seu
fracasso como um sinal de fraqueza, ele procurará suplantá-lo
e agirá melhor na próxima vez; D’us terá compaixão
e o perdoará se admitir seu erro e resolver corrigi-lo.
Aquele, porém, que teme enfrentar a verdade e suas consequências
no caso de uma falha, começa a encontrar desculpas para si próprio
e para justificar sua ação negativa. Mais ainda: como "uma
transgressão acarreta outra em sequência", o complexo
de culpa, a necessidade de auto-justificativa, tornar-se-ão cada
vez mais persistentes e prementes, não só para acalmar sua
própria consciência atormentada, como para se defender aos
olhos dos outros.
O amor mascara todas as ofensas, principalmente o amor próprio,
e o suborno cega os olhos, mesmo dos sábios. Ele se tornará,
assim, parcial em seu próprio favor e em seu pensamento confuso
"Criará" uma filosofia pessoal, ou mesmo uma "weltanschauung"
para adaptar-se à sua conduta, que não somente a justificará,
como ainda transformará o vício em virtude. Desnecessário
dizer que é difícil alongar-se nesses assuntos numa carta.
Acredito, porém, que os pontos mencionados servirão como
pontos de partida para que o senhor medite e compreenda que o mundo não
é confusão, e que tudo e todos tem o seu lugar e a sua finalidade.
Se o senhor puder se considerar objetivamente liberto de preconceitos,
influências ambientais, bem como outras coisas, o senhor descobrirá
o seu próprio lugar, e a finalidade da vida, à luz do que
foi dito acima…
Com
bênção,
(Assinatura
do Rebe)