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Esther tinha acabado
de colocar o fone no gancho quando Naomi, por sua vez, começou
a discar. Tínhamos acabado de receber a notícia de outro
ataque suicida em Israel, matando, ferindo dezenas de nossos irmãos.
Os alunos das respectivas classes de meus filhos tinham decidido se unir
num esforço de preces. Cada um deveria chamar cinco amigos, pedindo-lhes
que fizessem uma cadeia de telefonemas para mais cinco, pedindo-lhes que
rezassem pelos feridos no ataque.
Esther, tendo completado seus chamados, sentou-se com um Livro de Salmos
no colo, preparada para começar. Naomi leria em seguida.
Enquanto isso, Shira, de sete anos, observava atentamente suas irmãs
mais velhas. Menina inteligente, ela entendia a gravidade do ocorrido.
Com um olhar firme no rosto, Shira estava procurando uma maneira para
que ela, também, pudesse contribuir de alguma forma.
Um momento depois, minha determinada filha tinha nas suas a mãozinha
gorducha de seu irmão de três anos, enquanto o levava até
o sofá da sala. Ela certificou-se de que estavam ambos confortavelmente
sentados antes de abrir seu Livro de Salmos.
Shira procurou os dois capítulos mais curtos do livro. Então,
com cuidado e esforço, ela começou a recitar cada palavra,
com voz autoritária, esperando pacientemente que o irmão
repetisse. Os dois continuaram dessa maneira, palavra por palavra e versículo
por versículo.
As vogais de várias daquelas palavras pouco familiares estavam
embaralhadas na pronúncia de Shira, e se tornavam ainda mais confusas
na repetição feita por Yisroel. Apesar disso, os dois continuaram
orgulhosamente, lenta mas firmemente, até que dois capítulos
inteiros foram recitados.
De vez em quando Shira fazia uma pausa para comentar: “Muito bem
Yisroel!” Isso, bem como a voz divertida de Shira, mantiveram a
concentração de Yisroel até que eles completaram
a tarefa designada por Shira.
Poucos instantes depois, Shira voltou-se triunfante para seu irmão
mais novo e, numa voz doce, perguntou: “Você sabe por que
acabamos de dizer isto?” Mais uma vez, ela estava assumindo o papel
de professora.
Os olhos azuis de Yisroel se arregalaram e ele prestou mais atenção
a ela. “Porque,” ela continuou, “muitas pessoas estão
sendo feridas em Israel. Estamos rezando por elas,” explicou. “E
agora, como nós dois pedimos tão gentilmente, Hashem (D'us)
ouvirá nossas preces e não vai mais deixar que judeus sejam
feridos.” Ela sorriu confiantemente para ele.
“Sim”, respondeu Yisroel, apegando-se a cada palavra dela
e sorrindo em retorno, “agora Hashem ouvirá, e não
haverá mais judeus feridos.” Shira então fechou o
livro, e de mãos dadas os dois foram colocá-lo de volta
na prateleira. Os dois estavam sorrindo, satisfeitos com sua ação
e sem sombra de dúvida na mente de que D'us atenderia o pedido
deles.
Em muitas ocasiões difíceis em minha vida, tenho refletido
sobre a atitude de meus filhos pequenos. Encanto-me com a sua confiança
infantil de que tudo dará certo. Invejo sua confiança inabalável
em D'us, que Ele ouviu seus pedidos e vai responder imediatamente de maneira
positiva.
E admiro profundamente sua total certeza de que suas contribuições
pessoais farão uma diferença, convencidos de que cada uma
de suas preces é valiosa e urgentemente necessária.
Se mais pessoas acessassem a percepção da realidade da própria
criança interior - não com arrogância, mas sim com
confiança, de que cada uma das nossas ações é
importante - creio que cada um de nós estaria tentando ainda com
maior empenho, e conseguiria muito mais. E talvez - D'us então
nos ouviria - com mais frequência.
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