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Quando
tentei conceber pela primeira vez perguntei ao médico se eu teria
de passar por tratamentos de infertilidade toda vez que quisesse ter um
filho. Eu queria que ele me dissesse que uma vez que eu engravidasse,
poderia deixar de lado todas as injeções e comprimidos,
para conceber naturalmente. Ele não o fez. Em vez disso, respondeu
sinceramente: "Eu não sei."
Tratamento após tratamento, mês após mês, ano
após ano meu útero continuava vazio. Nada acontecia, exceto
que a dor em meu coração ficava mais forte. Eu me sentia
como se todas ao meu redor estivessem grávidas e tendo bebês.
Especialmente em minha comunidade é difícil não sentir
que você é "a única" sem filhos.
Clamei a D'us, implorei a Ele. Olhava para nossas matriarcas em busca
de orientação e ajuda para superar este teste. Conversei
com rabinos e amigos. Aos poucos percebi que eu não tinha controle
sobre isso. Era a primeira vez na vida que eu tinha uma revelação
tão clara da grandeza do meu Criador e como eu estava completamente
em Suas mãos.
Então parei de me preocupar. A voz teimosa dentro de mim que dizia
"Você terá filhos" jamais desapareceu por completo,
mas aquietou-se. Deixamos de lado os tratamentos convencionais, fizemos
uma pausa, e então decidimos tentar uma abordagem diferente. Mudamos
nossa dieta, tentei acupuntura e tomava ervas. Pouco depois concebi, e
meses depois nosso filho nasceu.
Demorei meses para perceber que eu realmente tinha um filho. Era difícil
acreditar que esta vida linda viera do meu corpo e que eu era sua mãe.
A gratidão que sinto é imensurável. Por que então
o anseio retornou, bem como o sofrimento e a incerteza?
Rezo diariamente pelos casais sem filhos e sinto-me culpada pelos meus
sentimentos. Por que não posso simplesmente ficar encantada com
aquilo que tenho – a bênção que D'us me deu?
Em vez disso, meus olhos se concentram na barriga das mulheres grávidas.
Vejo irmãos brincando juntos e famílias grandes caminhando
pelas ruas. Abraço meu filho e me pergunto se algum dia poderei
ter novamente a sensação da vida crescendo dentro de mim.
Pergunto-me se serei capaz de dar-lhe irmãos e irmãs para
brincar.
Voltei à acupuntura e à dieta. Nada aconteceu, ainda. Portanto,
estou esperando e me vejo na mesma situação de dois anos
atrás, embora hoje, tendo um filho, tudo mudou. A vozinha dentro
de mim insiste: "Você já tem um, não há
motivo para não ter outro." Porém a voz está
desaparecendo.
Estou outra vez completamente nas mãos do meu Criador. Admito a
Ele, para mim, que mesmo com tudo que faço, não tenho controle
sobre isso, sobre qualquer assunto. Vejo que abrir mão me ajuda
a passar pelos momentos mais sombrios.
Uma amiga minha perguntou-me como posso fazer isso: como eu pude desistir?
Expliquei a ela que abrir mão e deixar D'us tomar conta não
é desistir. Na verdade, é a única maneira de lutar
uma batalha.
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