Lidando com a Fertilidade Secundária  
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Por Elana Mizrahi
 

Quando tentei conceber pela primeira vez perguntei ao médico se eu teria de passar por tratamentos de infertilidade toda vez que quisesse ter um filho. Eu queria que ele me dissesse que uma vez que eu engravidasse, poderia deixar de lado todas as injeções e comprimidos, para conceber naturalmente. Ele não o fez. Em vez disso, respondeu sinceramente: "Eu não sei."

Tratamento após tratamento, mês após mês, ano após ano meu útero continuava vazio. Nada acontecia, exceto que a dor em meu coração ficava mais forte. Eu me sentia como se todas ao meu redor estivessem grávidas e tendo bebês. Especialmente em minha comunidade é difícil não sentir que você é "a única" sem filhos.

Clamei a D'us, implorei a Ele. Olhava para nossas matriarcas em busca de orientação e ajuda para superar este teste. Conversei com rabinos e amigos. Aos poucos percebi que eu não tinha controle sobre isso. Era a primeira vez na vida que eu tinha uma revelação tão clara da grandeza do meu Criador e como eu estava completamente em Suas mãos.

Então parei de me preocupar. A voz teimosa dentro de mim que dizia "Você terá filhos" jamais desapareceu por completo, mas aquietou-se. Deixamos de lado os tratamentos convencionais, fizemos uma pausa, e então decidimos tentar uma abordagem diferente. Mudamos nossa dieta, tentei acupuntura e tomava ervas. Pouco depois concebi, e meses depois nosso filho nasceu.

Demorei meses para perceber que eu realmente tinha um filho. Era difícil acreditar que esta vida linda viera do meu corpo e que eu era sua mãe. A gratidão que sinto é imensurável. Por que então o anseio retornou, bem como o sofrimento e a incerteza?

Rezo diariamente pelos casais sem filhos e sinto-me culpada pelos meus sentimentos. Por que não posso simplesmente ficar encantada com aquilo que tenho – a bênção que D'us me deu? Em vez disso, meus olhos se concentram na barriga das mulheres grávidas. Vejo irmãos brincando juntos e famílias grandes caminhando pelas ruas. Abraço meu filho e me pergunto se algum dia poderei ter novamente a sensação da vida crescendo dentro de mim. Pergunto-me se serei capaz de dar-lhe irmãos e irmãs para brincar.

Voltei à acupuntura e à dieta. Nada aconteceu, ainda. Portanto, estou esperando e me vejo na mesma situação de dois anos atrás, embora hoje, tendo um filho, tudo mudou. A vozinha dentro de mim insiste: "Você já tem um, não há motivo para não ter outro." Porém a voz está desaparecendo.

Estou outra vez completamente nas mãos do meu Criador. Admito a Ele, para mim, que mesmo com tudo que faço, não tenho controle sobre isso, sobre qualquer assunto. Vejo que abrir mão me ajuda a passar pelos momentos mais sombrios.

Uma amiga minha perguntou-me como posso fazer isso: como eu pude desistir? Expliquei a ela que abrir mão e deixar D'us tomar conta não é desistir. Na verdade, é a única maneira de lutar uma batalha.

     
     
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