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Dr.
Luis Lederman, Phd em energia nuclear, ex-chefe do departamento de reatores
da Comissão Nacional de Energia Nuclear no Brasil e diretor e coordenador
geral de segurança nuclear da IAEA - International Atomic Energy
Agency. Em 2005 foi o único brasileiro e judeu membro da seleta
equipe do Dr. Mohamed ElBaradei, diretor geral da IAEA que recebeu o prêmio
Nobel da Paz.
1) Como você analisa o problema nuclear que está
acontecendo no Japão neste momento?
Extremamente sério. Um terremoto de magnitude 8.9 seguido de um
tsunami fez com que a usina ficasse sem energia elétrica externa,
danificou os geradores diesel de emergência e outros sistemas de
proteção da usina. Isso levou a perda de capacidade de remover
o calor gerado no reator e consequente super-aquecimento do combustível
nuclear. Neste momento a situação ainda não está
controlada, mas esperamos que venha a estabilizar-se nos próximos
dias sem maiores danos radiológicos à população
e ao meio ambiente já tão afetado pela destruição
causada pelo terremoto e tsunami. Eu estou no momento na sede da AIEA
em Viena acompanhando com outros especialistas o desenrolar dos eventos
e ações que estão sendo tomadas para controlar o
acidente.
2) O que pode ser feito para não acontecer problemas similares
como este no Brasil?
Felizmente o Brasil não está exposto a eventos sísmicos
e tsunamis que possam levar a cenários como o que esta ocorrendo
no Japão. Mesmo assim as usinas no Brasil estão projetadas
contra terremotos de magnitude definidas de acordo com os registros sismológicos
históricos da região onde estão as usinas e portanto
estão seguras.
3) Quais as consequências que este problema nuclear pode
causar aos moradores da região e aos países próximos?
Como eu disse o acidente ainda não terminou, mas as ações
de proteção que o Japão está tomando deverão
ser suficientes para proteger a população. De acordo com
o plano de emergência até agora foram evacuados os moradores
em um raio de 20km, os moradores da zona entre 20-30km estão recomendados
a permanecerem dentro de casa para evitar exposição a qualquer
radiação que possa chegar a esta zona e pastilhas de iodo
estão sendo distribuidas a estas populações para
proteção da tiróide. Estas medidas preventivas são
suficientes para proteger a população. Outras medidas poderão
ser tomadas se necessário de acordo com a evolução
do acidente.
Até o momento o acidente não oferece perigo aos países
próximos. A AIEA está analisando a informação
vinda do Japão e coordenando 24 h por dia a distribuição
desta informação a todos os outros países.
4) Uma explosão em um reator nuclear pode ser similar a
uma explosão de uma bomba atômica?
Absolutamente não. A explosão de uma bomba atômica
é uma geração incontrolada de uma quantidade enorme
de energia térmica (calor) que seguida de uma onda de pressão
e outra de radiação tem como objetivo causar a máxima
destruição fisica. Uma usina nuclear mesmo nas condições
de acidente como as que se encontram as usinas no Japão no momento
estarão defendidas por barreiras fisicas que protegem o núcleo
do reator e controlam as liberações radioativas ao meio
ambiente.
5) Você é a favor de energia nuclear como uma fonte de energia
de um país?
Sem duvida. Mais de 15% da energia elétrica gerada no mundo é
proveniente de usinas nucleares que tem contribuido para o progresso.
Por exemplo, o Japão depende em cerca de 30% da energia nuclear
e a França mais de 75%. Energia é essencial ao progresso
e qualidade de vida dos países. No Brasil a contribuição
da energia nuclear é bem menor, cerca de 1.5%, mas é essencial
como complemento ao sistema predominantemente hidroelétrico. Cerca
de 40 países estão no momento fazendo planos para a introdução
de energia nuclear. Eu tenho confiança que a situação
das usinas no Japão seja controlada breve e que a energia nuclear
continue a ser usada de modo seguro no futuro.
6) Por que você decidiu morar em Israel?
Após minha longa carreira profissional à serviço
do Brasil e da comunidade internacional, eu e minha esposa nos mudamos
para Israel para estarmos juntos a nossas filhas e netos. A união
familiar é um fator fundamental do judaísmo que eu e minha
esposa muito valorizamos.
7) Fale um pouco sobre sua aproximação ao estudo
do Talmud e práticas judaicas?
Como cientista o Talmud me atrai por sua lógica matemática
. Como judeu o Talmud nos revela a precisão, alto grau de questionamento
e a sabedoria que serviram de base à formulação da
lei judaica. As práticas judaicas são nossa identidade.
8) Como um cientista como você, considerado um dos maiores pesquisadores
e cientistas do mundo vê a D’us e explica o fato da ciência
não ser contraditória ao judaísmo?
Vejo a ciência como a linguagem que D’us nos deu para entender
dentro das nossas limitações a ilimitada grandeza de sua
criação.
9) Quais são seus planos para os próximos anos,
como cientista, como Olê Chadash (novo imigrante), como avô
e como judeu?
Como cientista continuar trabalhando para o uso seguro da energia nuclear.
Como olê integrar-me na sociedade israelense, aprender o idioma
Hebraico e contribuir como cidadão. Como avô transmitir aos
meus netos os valores morais que sempre orientaram minha vida e vê-los
crescer e criar novas famílias dentro de nossas tradições
e preceitos. Como judeu poder dedicar-me ao estudo da Torá e nossos
livros sagrados.
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