Elie Wiesel nasceu em 1928 em Sighet, uma pequena aldeia
ao norte da Transilvânia, na Romênia, uma área que
fez parte da Hungria de 1941 a 1945. Wiesel foi o único filho homem
das quatro crianças de Shlomo, um dono de armazém, e sua
esposa Sarah (Feig) Wiesel. Ele era dedicado ao estudo de Torá,
Talmud e ensinamentos místicos do Chassidismo e Cabalá.
Os nazistas, liderados por Adolf Eichmann, entraram na Hungria na primavera
de 1944 com ordens de exterminar uma estimativa de 600.000 judeus em menos
de seis semanas. Wiesel tinha 15 anos quando os nazistas o deportaram
junto com a família para Auschwitz-Birkenau.
Sua mãe e irmã mais nova morreram nas câmaras de gás
na noite de sua chegada a Auschwitz-Birkenau. Ele e o pai foram deportados
para Buchenwald, onde seu pai faleceu antes que o campo fosse libertado
em 11 de abril de 1945. Somente depois da guerra Wiesel soube que suas
duas irmãs mais velhas, Hilda e Bera, também sobreviveram.
Após receber tratamento médico, Wiesel foi para a França
com outros órfãos, mas permaneceu apátrida. Ficou
na França, morando primeiro na Normandia e mais tarde em Paris,
trabalhando como tutor e tradutor. Ele finalmente começou a escrever
para diversas publicações francesas e judaicas. Porém
Wiesel jurou não escrever sobre suas experiências em Auschwitz-Birkenau
porque duvidava de sua capacidade de transmitir adequadamente aquele horror.
O silêncio auto-imposto de Wiesel chegou ao fim na
metade da década de 1950, quando entrevistou o vencedor do Prêmio
Nobel, o novelista francês François Mauriac. Profundamente
comovido pela história de Wiesel, Mauriac insistiu para que ele
contasse ao mundo suas experiências e que "prestasse testemunho"
em nome das milhões de pessoas que tinham sido silenciadas. O resultado
foi Night, a história de um adolescente que sobreviveu aos campos
e ficou devastado ao ver que o D'us que ele outrora adorara tinha permitido
que seu povo fosse destruído. Daniel Stern, do Nation's, descreveu
Night como "sem dúvida a mais poderosa relíquia literária
sobre o Holocausto".
Night foi escrito originalmente em iídiche, como uma obra de 862
páginas chamada Un die Welt Hot Geshvign (E o Mundo Ficou em Silêncio).
Ele reduziu este manuscrito a uma intensa narrativa em primeira mão
de suas experiências. Wiesel traduziu o manuscrito de iídiche
para o francês e deu-lhe o título de La Nuit (Noite). Foi
publicado em 1958 e a edição inglesa em 1960. Night está
escrito num estilo tenso, controlado. A linguagem econômica de Wiesel
permite que os eventos falem por si mesmos, num marcante contraste com
a realidade que ele descreve. Desde a publicação de Night,
Wiesel escreveu mais de 40 livros. Tornou-se cidadão americano
em 1963. Em 1969, casou-se com a escritora e editora austríaca
Marion Erster Rose, também sobrevivente do Holocausto. Sua esposa
editou e traduziu muitas das suas obras. Eles têm um filho, Shlomo
Elisha, nascido em 1972. Residem em Nova York.
Eu me lembro: aconteceu ontem ou eternidades
atrás. Um garoto judeu descobriu o reino da noite... Lembro-me de
sua angústia...O gueto. A deportação. O vagão
de gado selado. O altar de fogo sobre o qual a história de nosso
povo e o futuro da humanidade seriam sacrificados.
Desde 1976, Wiesel tem sido o Professor de Humanas na Universidade
de Boston, onde também possui o título de Professor da Universidade.
Anteriormente, ele atuou como Professor Ilustre de Estudos Judaicos na
Universidade da Cidade de Nova York (1972-76). Wiesel recebeu numerosos
prêmios por suas atividades literárias e ligadas aos direitos
humanos. Estes incluem a Medalha Presidencial da Liberdade, a Medalha
de Ouro do Congresso dos Estados Unidos e a Medalha da Liberdade, além
do título de Grande Oficial na Legião Francesa de Honra.
O Presidente Jimmy Carter designou Wiesel como Diretor do Conselho do
Memorial do Holocausto em 1978. Em 1986, Wiesel recebeu o Prêmio
Nobel da Paz. Pouco depois, Wiesel e sua mulher criaram a Fundação
Elie Wiesel para a Humanidade.
Wiesel tem defendido a causa dos judeus soviéticos, os índios
Miskito da Nicarágua, os "desaparecidos" da Argentina,
os refugiados do Cambodja, os Curdos, as vítimas do apartheid na
África do Sul, as vítimas da fome na África e mais
recentemente as vítimas e prisioneiros na antiga Iugoslávia.
Ao apresentar o Prêmio Nobel da Paz, Egil Aarvik, diretor do Comitê
Nobel, declarou sobre Wiesel: "Sua missão não é
conquistar a simpatia do mundo para vítimas ou sobreviventes. Sua
meta é despertar a nossa consciência. Nossa indiferença
em relação ao mal nos torna parceiros no crime. Esta é
a razão para seu ataque à indiferença e sua insistência
em medidas que visam a prevenir um novo Holocausto. Sabemos que o inimaginável
aconteceu. O que estamos fazendo agora para impedir que aconteça
novamente?"
Discurso de Aceitação do Prêmio Nobel da Paz por Elie
Wiesel:
É com um profundo senso de humildade que aceito a honra
que escolheram conceder a mim. Eu sei: sua escolha transcende a minha
pessoa. Isto tanto me assusta como agrada. Assusta-me porque eu me pergunto:
Tenho o direito de representar as multidões que pereceram? Tenho
o direito de aceitar esta grande homenagem em nome deles? Não tenho.
Isso seria presunçoso. Ninguém pode falar pelos mortos,
ninguém pode interpretar seus sonhos e visões mutiladas.
Agrada-me porque posso dizer que esta honra pertence a todos os sobreviventes
e seus filhos, e através deles, ao povo judeu, com cujo destino
eu sempre me identifiquei.
Cada momento é um momento de graça,
cada hora uma oferenda: não partilhá-las seria o mesmo que
traí-las. Nossas vidas não pertencem mais a nós somente;
pertencem a todos aqueles que precisam desesperadamente de nós.
Eu me lembro: aconteceu ontem ou eternidades atrás.
Um garoto judeu descobriu o reino da noite. Lembro-me do seu assombro.
Lembro-me de sua angústia. Tudo aconteceu tão depressa.
O gueto. A deportação. O vagão de gado selado. O
altar de fogo sobre o qual a história de nosso povo e o futuro
da humanidade seriam sacrificados.
Eu me lembro: ele perguntou ao pai: "Isso pode ser verdade? Este
é o Século Vinte, não a Idade Média. Quem
permitiria que tais crimes fossem cometidos? Como o mundo pode permanecer
em silêncio?"
E agora o garoto se volta para mim: "Diga-me," diz ele, "o
que você fez com o meu futuro? O que fez com a sua vida?"
E digo a ele que eu tentei. Tentei manter a lembrança viva, que
tentei lutar contra aqueles que se esqueceriam. Porque se nos esquecermos,
seremos culpados, seremos cúmplices. Então expliquei a ele
como éramos ingênuos, que o mundo não sabia e permaneceu
em silêncio. E que é por isso que jurei nunca ficar em silêncio
quando e onde quer que seres humanos passem por sofrimento e humilhação.
Devemos sempre apoiar os lados. A neutralidade ajuda o opressor, nunca
a vítima. O silêncio encoraja o atormentador, nunca o atormentado.
Às vezes devemos interferir. Quando vidas humanas estão
ameaçadas, quando a dignidade humana corre risco, as fronteiras
nacionais e as sensibilidades se tornam irrelevantes. Toda vez que homens
ou mulheres são perseguidos por causa de sua raça, religião
ou opiniões políticas, aquilo deve – naquele momento
– tornar-se o centro do universo.
Sim, eu tenho fé. Fé em D'us e até em Sua criação.
Sem fé nenhuma ação teria sido possível. E
ação é o único remédio para a indiferença:
o perigo mais insidioso de todos. Não é isso o que significa
o legado de Alfred Nobel? Seu medo da guerra não foi um escudo
contra a guerra?
Há muito a ser feito, há muito que pode ser feito. Uma pessoa…
de integridade pode fazer uma diferença, uma diferença entre
vida e morte. Enquanto houver um dissidente na prisão, nossa liberdade
não será verdadeira. Enquanto uma criança estiver
faminta, nossas vidas estarão repletas de angústia e vergonha.
"Decidi dedicar minha vida a contar a história
porque senti que tendo sobrevivido, devo algo aos mortos, e todo aquele
que não se lembra os trai mais uma vez."
O que todas estas vítimas precisam acima de tudo
é saber que não estão sozinhas: que não estamos
nos esquecendo delas, que quando suas vozes forem silenciadas lhes emprestaremos
a nossa, que embora sua liberdade dependa da nossa, a qualidade de nossa
liberdade depende da deles.
É isso que digo ao garoto judeu que se pergunta o que eu fiz com
os seus anos. É em nome dele que lhes falo e expresso a vocês
a minha profunda gratidão. Ninguém é capaz de sentir
gratidão como aquele que emergiu do reino da noite.
Sabemos que cada momento é um momento de graça, cada hora
uma oferenda: não partilhá-las seria o mesmo que traí-las.
Nossas vidas não pertencem mais a nós somente; pertencem
a todos aqueles que precisam desesperadamente de nós.
Agradeço ao Diretor Aarvik. Obrigado aos membros do Comitê
Nobel. Obrigado a vocês, povo da Noruega, por declararem nesta ocasião
única que nossa sobrevivência tem um significado para a humanidade.
Citações de Elie Wiesel
"A educação é a chave para impedir
que o ciclo de violência e ódio que manchou o Século
XX se repita no Século XXI."
"Digo que o medo deve ser seguido pela esperança. Espero –
que você faça algo a respeito. É um chamado à
ação."
"Vamos morrer. Eles sabiam disso, e suas últimas palavras
a suas famílias foram: ‘Eu amo vocês.’ Mesmo
no sofrimento, suas últimas palavras foram de amor… Pessoas
que poderiam ter se salvado e em vez disso correram de volta para salvar
outros. Se a humanidade é capaz disso, como posso perder a esperança
na humanidade?"
"Não tenho dúvida de que a fé somente é
pura quando não nega a fé de outrem. Não tenho dúvida
de que o mal pode ser combatido e que a indiferença não
é opção. Não tenho dúvida de que o
fanatismo é perigoso. E de todos livros do mundo sobre a vida,
não tenho dúvida de que a vida de uma pessoa vale mais que
eles todos."
"Já fui a toda parte, tentando evitar muitas atrocidades:
Bósnia, Kosovo, Macedônia. O mínimo que posso fazer
é mostrar às vítimas que elas não estão
sozinhas. Quando fui ao Cambodja, jornalistas me perguntaram: ‘O
que você está fazendo aqui? Esta não é uma
tragédia judaica.’ Respondi a eles: ‘Quando eu precisei
que as pessoas fossem, não o fizeram. É por isso que estou
aqui."
“Uma destruição, uma aniquilação que
somente o homem pode provocar, somente o homem pode impedir."
"Não perdi a fé em D'us.
Tenho momento de raiva e de protesto. Às vezes fiquei mais perto
d'Ele por causa disso.""Porque eu me lembro, eu me desespero.
Porque eu me lembro, tenho o dever de rejeitar o desespero."
“Por causa da indiferença, a pessoa morre antes de realmente
viver."
"A esperança é como a paz. Não é um presente
de D'us. É um presente que somente nós podemos dar um ao
outro."
"Decidi dedicar minha vida a contar a história porque senti
que tendo sobrevivido, devo algo aos mortos, e todo aquele que não
se lembra os trai mais uma vez."
"Não perdi a fé em D'us. Tenho momentos de raiva e
de protesto. Às vezes fiquei mais perto d'Ele por causa disso."
"Jurei nunca ficar em silêncio sempre e onde quer que seres
humanos estejam passando por sofrimento e humilhação. Devemos
sempre tomar lados. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima."