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Para Einstein, com amor

  por Manis Friedman
 

Um encontro com o insondável não somente é inevitável, é também enobrecedor. Aquilo que sabemos nos torna inteligentes. O que não sabemos faz de nós pessoas mais simpáticas. Tratemos de entender isso:

"Para Ti o silêncio é louvor, D’us de Tzion, e a Ti devem as promessas serem pagas. Tu ouves nossa prece – a Ti toda a carne será levada" (Salmo 65).

O louvor cria um vínculo de proximidade entre aquele que louva e quem é louvado. Assim como na escada de prece que se apóia na terra e chega até o céu conectando o devoto a D’us por meio de louvores na prece, a própria descrição do que é Divino e nobre eleva o devoto acima de sua existência diária; ele a transcende. Ele é mais nobre.

"A Ti o silêncio é louvor" significa que nossa conexão Contigo (o Próprio D’us) aflora por intermédio do silêncio. O que é, então, este silêncio, que consegue conectar o homem com o ein-sof, a luz infinita?

Uma pessoa pensante sabe que o reino do conhecimento engloba o conhecido e o desconhecido. A pessoa que pensa sente grande prazer ao entender claramente um assunto, completa e conclusivamente.


O local silencioso na alma não é passivo. A mente refinada aprecia a sutileza dentro desse silêncio; uma imobilidade, uma ânsia, uma esperança.

Quando ele encontra algo insondável, não abandona o assunto, mas estuda-o através de um processo de eliminação. Ele não pode entender o infinito, pois não sabe o que é, mas será bem claro sobre aquilo que não é. Saberá precisamente o que há de inexplicável no infinito, e o quê, exatamente, o faz ser assim.

Albert Einstein, contemplando seu universo finito, está ancorado a uma experiência religiosa cósmica – "a emoção mais bela e mais profunda é a sensação do místico. Quem não conhece esta emoção é um estranho, que não se deixa arrebatar em reverência, está como que morto." Isso ele descreve como a "experiência religiosa mais verdadeira".

Porém a pessoa que raciocina não pára por aqui. A busca continua. Pois ela sabe que o entendimento deve se render àquilo que está acima dele ou seja, gehfil – a percepção que resulta do entendimento, mas também o transcende. A lógica pode ser capturada em palavras, o gehfil não. O gehfil também não é fortalecido pela evidência, nem enfraquecido pelas contradições.
O grande físico Max Planck escreve: "A ciência é um esforço interminável rumo a uma meta que a intuição poética pode apreender, mas que o intelecto jamais pode entender."

Toda conclusão a que se chega no âmbito do conhecimento é discutível. Toda a lógica pode e terminará por ser substituída por uma lógica maior. A pessoa pensante deseja chegar a uma verdade imutável, ou a uma inegável realidade. Isso a leva para além do âmbito do conhecimento num mundo de hergesh, um gehfil ou reconhecimento da verdade. Um lugar em nossa alma onde o círculo da verdade é apreendido – "intuição poética".

Esta verdade-hergesh, uma vez atingida, não pode ser desafiada por argumentos ou lógica. É imutável.

Assim, grandes mentes falam sobre os modestos efeitos da reverência e admiração. Aqueles que mais avaliam a magnitude da criação, partículas de protoplasma apequenadas por um universo que em si é uma partícula ínfima da matéria num vácuo infinito, erguem seus olhos para o céu e se perguntam: "Quem criou tudo isso?"

"Êxtase, reverência, arrebatamento" – tudo isso o Sr, Einstein experimentou.

O lindo mistério está no momento de transição, quando a mente vai da lógica ao hergesh. Quando a mente chega aos limites externos do reconhecível é surpreendido pelo silêncio. Entra num lugar em nossa alma onde não há ‘ruído’ – todos os desejos, ânsias, necessidades, temores e opiniões estão imóveis. Tudo aquilo que faz de uma pessoa quem, e aquilo que é, não pode penetrar nesse local na alma, e portanto, é silencioso.


Caro Sr. Einstein: Uma verdadeira experiência religiosa é um relacionamento com o Divino. Não basta se encantar com a beleza de sua mulher ou extasiar-se pela sua devoção incondicional, e maravilhar-se pela doçura que transforma até um cérebro notável em pieguice. Se sua mulher diz: "Estou com fome", você não pode responder: "Psiu, estou em êxtase, estou me maravilhando. Estou adorando você." E quando ela diz "Mas eu gostaria muito de comer alguma coisa", você não pode dizer; "Eu te amo". Você deve mover-se do reino da observação para o reino de hergesh, onde a fome dela é real, inegável, e você deve reagir à realidade dela.

O local silencioso na alma não é passivo. A mente refinada aprecia a sutileza dentro desse silêncio; uma imobilidade, uma ânsia, uma esperança. Na imobilidade há uma ânsia de reconhecer a verdade. A ânsia desperta a esperança. Ele espera e anseia, aguarda e espera, por um hergesh.
Esta parte da alma é chamada tzion, um marco ou sinal. Um marco existe não em si mesmo, mas para indicar a existência de outro. Esta parte da alma está silente de toda necessidade e existe apenas para reconhecer as necessidades do outro.

Sr. Einstein, não fique parado em admiração. Vá para o hergesh! Você descobriu o Criador, agora veja-O como Ele é. O que Ele quer com a criação? Quais são Suas necessidades? O que você pode fazer por Ele? E sinta as necessidades de sua esposa. Sirva-a da maneira que ela precisa ser servida.

Tzion é a Divindade da alma. "D’us em Tzion." E naquele local cumprimos uma promessa. O voto que fizemos antes do nascimento – "Seja justo e não pecador." É a promessa que fizemos no Sinai. "Faremos e ouviremos." Naquele local sabemos que "A Ti nossa promessa será cumprida." Um voto deve ser honrado. Inevitavelmente, todos os votos devem ser cumpridos. Assim, "A Ti toda a carne virá." Pois Ele deseja que a mitsvá seja cumprida na carne. Da reverência e assombro mudamos para hergesh, sentimos Sua necessidade, e colocamos tefilin, comemos matsot, imergimos no micvê…

Sr. Einstein! O Criador, perante quem ficamos humildes em reverência, criou o universo, você e sua reverência. Você não deveria ansiar por conhecê-Lo? Siga o caminho de hergesh até Sua realidade. Escute sua esposa como ela soa naquele local de silêncio. Cumpra o seu voto. Vá até a imobilidade e sirva-a como ela precisa ser servida. Numa linguagem simples, Sr. Einstein, vá até ela e a abrace.


Rabi Manis Friedman é escritor e orador renomado. Sua percepção sobre o silêncio da alma é baseada em Likutei Diburim, uma antologia de palestras por Rabino Y. Y. Schneersohn, sogro do falecido Rebe. 
 
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