Dvora, a Profetisa (2650-2676)  
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  Por Nissan Mindel
 

Dos Juízes que governaram o povo judeu após a morte de Yehoshua, o quarto não foi um homem, mas sim uma mulher, uma das mais famosas de todos os tempos, a Profetisa Devora (Debora).
Antes dela houve Othoniel, Ehud e Shamgar, este último por um período muito breve.

Após a morte de Ehud os judeus abandonaram os caminhos da Torá e adotaram muitos dos ídolos do povo que os rodeava. Em conseqüência, D'us os entregou nas mãos do Rei de Canaã, Jabin, cuja residência real era a cidade de Hazor. Seu cruel general Sisera oprimiu os judeus durante vinte anos. Sisera possuía uma cavalaria bem armada e bem treinada. Usava também carruagens de ferro, os "tanques" daqueles tempos. Os judeus sofreram terrivelmente sob a crueldade de Sisera, e em seu desespero, clamaram a D'us.

Foi então que D'us lhes enviou a Profetisa Dvora. Ela foi uma das sete profetisas cujas profecias estão registradas na Torá. Viveu nas montanhas de Ephraim, entre Ramah e Beth-El. Cercada pelo pecado e pela idolatria, Dvora permaneceu fiel a D'us e Sua Torá. Era sábia e temente a D'us, e as pessoas a procuravam em busca de conselho e ajuda. Tinha seu tribunal a céu aberto, sob uma palmeira. Ali, onde todos podiam ouvi-la, ela advertia o povo judeu e insistia com eles para deixarem o caminho do mal e retornarem a D'us. Toda a nação judaica respeitava esta grande profetisa.

Dvora era casada com Lapidoth, que significa "tochas". Nossos Sábios dizem que, a conselho da esposa, ele fornecia grandes pavios e azeite para as lamparinas do santuário de Shiloh, que queimavam como tochas. Este, dizem os Sábios, era o efeito desta mulher sagrada sobre todos que a rodeavam: espalhar a lua da Torá. Nossos Sábios explicam que ela se sentava sob uma palmeira para mostrar ao mundo que o povo judeu estava todo unido e novamente voltava os olhos para D'us, como as folhas da palmeira se erguem juntas, em direção ao céu. Foi muito positivo o fato de Dvora ter tamanha influência, pois até o homem mais nobre e mais forte daqueles tempos tinha desistido de vencer a opressão e idolatria dos canaanitas.

Quando Dvora sentiu que tinha ajudado o povo a retornar para D'us, mandou chamar Barak, filho de Abinoam. Alguns dizem que ele era seu marido, e que "Barak" significa iluminação, um outro nome para Lapidoth. Seja como for, Barak era o homem mais influente daquela época em Israel, e Dvora pediu-lhe para formar um exército com dez mil soldados das tribos de Naftali e Zebulun, e reuni-los ao pé do Monte Tabor, nas Planícies de Esdrealon. Com este exército ele deveria atacar os opressores canaanitas.

Barak recusou-se a aceitar esta tarefa sozinho, sabendo que somente com a ajuda Divina e a inspiração da profetisa ele poderia vencer as temíveis carruagens de ferro e a cavalaria de Sisera. Dvora concordou em acompanhá-lo, mas advertiu-o de que embora ele pudesse vencer, a glória não seria dele, mas de uma mulher.

Sisera soube da chegada de Barak e levou seu imenso exército contra os judeus. Naturalmente, os soldados canaanitas, bem treinados e bem armados, não tiveram qualquer dificuldade a princípio. Logo estabeleceram uma posição vitoriosa. Mas D'us de repente levou confusão às fileiras dos soldados. A chuva transformou o campo de batalha em lama, e as carruagens ficaram atoladas. Assustados pela súbita reviravolta nos eventos, os poderosos guerreiros de Sisera fugiram em todas as direções. Os soldados judeus os perseguiram até a cidade de Sisera, Charoshet, e não escapou sequer um único soldado canaanita.

Quando Sisera percebeu sua derrota, desceu rapidamente da carruagem e fugiu a pé. Procurando um lugar para se esconder, entrou por acaso na tenda de Heber, o Kenita, descendente de Yitrô, sogro de Moshê. Heber era amigo de Jabin, Rei de Hazor, que governava os canaanitas. Sisera ficou contente de aceitar o convite da esposa de Heber, Yael, para ficar na casa até que o exército judaico tivesse passado.

Yael serviu-lhe comida e bebida e, exausto da batalha, Sisera logo caiu no sono. Vendo isso, a corajosa Yael decidiu fazer Sisera pagar por todas as crueldades que tinha cometido contra o povo judeu. Aproximando-se cautelosamente do guerreiro adormecido, ela enfiou um longo prego na testa dele, assim dando fim ao odiado opressor. Enquanto isso, Barak chegava à casa de Heber, perseguindo Sisera. Yael saiu para encontrá-lo e o cumprimentou com estas palavras: "Venha, e lhe mostrarei o homem que procura." Ela então levou Barak até o leito onde jazia o cruel general, morto.

Assim, as previsões de Dvora se concretizaram: a maior glória pela vitória pertencia a uma mulher, não a Barak, e a própria Dvora glorificou a corajosa Yael na imortal "Canção de Dvora".

A famosa Canção é muito semelhante à Canção de Moshê, que ele e Israel entoaram depois do milagre no Mar Vermelho. A extraordinária beleza e encanto do seu poema o equiparam à mais notável de todas as canções poéticas de gratidão a D'us em nossa sagrada literatura. Dvora começa elogiando os homens em Israel que se consagraram à guerra da libertação:

Então o terror se espalhou em Israel
E o povo se ofereceu de boa vontade
Bendito seja D'us.
Ouçam, ó reis; escutem, ó príncipes,
Eu cantarei para D'us;
Eu cantarei louvores para o D'us de Israel.


E a profetisa continua, cantando o poder de D'us nos dias de antigamente; ela descreve o sofrimento de Israel sob a opressão dos canaanitas, quando todas as viagens nas estradas foram abandonadas, e o povo não tinha armas para se defender.

Os governantes cessaram em Israel, eles cessaram
Até que eu surgi, Dvora,
Que eu surgi, uma mãe em Israel…
Meu coração está com os governadores de Israel
Eles se ofereceram de boa vontade entre o povo
Bendito seja D'us…


Então vem seu grito de guerra, e as tribos se reúnem sob seu estandarte:

Acorda, acorda, Dvora, acorda, canta uma canção!
Levanta, Barak, e lidera os cativos no cativeiro,
Tu, filho de Abinoam!…


Ela admoesta aquelas tribos de Israel que demoraram a se juntar a ela, preferindo ouvir as flautas dos pastores. Em contraste, ela mostra o exemplo de Zebulun e Naphtali, que ofereceram a vida nos campos de batalha. Então ela descreve a terrível batalha, e os milagres maravilhosos que ajudaram Israel a sair vitorioso.

Eles lutaram do céu,
As estrelas em suas rotas
Lutaram contra Sisera.
O regato Kishon os levou. Aquele antigo regato, o regato de Kishon.
Ó minha alma, leva-os embora com força!…


No final Dvora elogia a corajosa Yael por ter, com suas próprias mãos, matado o pior inimigo de Israel. E ela conclui sua canção de louvor a D'us com essas palavras:

Bendita acima das mulheres será Yael,
A esposa de Heber, o Kenita.
Acima das mulheres na tenda ela será abençoada…
Aos seus pés ele caiu, ele jaz; ao seus pés ele caiu, ele caiu;
Onde ele caiu, ali caiu morto…
Assim pereçam Teus inimigos, ó D'us;
Mas aqueles que O amam
Sejam como o sol avançando em sua força.


A meta de Dvora fora alcançada. Os opressores estavam derrotados e os judeus novamente livres para viverem sua vida com felicidade. Dvora e Barak ajudaram os judeus a permanecerem fiéis a D'us, que eles tinham abandonado durante o reinado canaanita. Durante vinte anos os judeus viveram em paz e felizes sob a sábia vigilância de ambos.

 

   
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