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Todos
têm dentro de si um diamante de um milhão de dólares.
Precisamos apenas lapidar as imperfeições para encontrá-lo.
A Mishná (Ética dos Pais 4:3) nos ensina: [Ben Azzai] estava
acostumado a dizer: "Não zombem de pessoa alguma, e não
desdenhem de alguma coisa, pois não há pessoa sem sua hora,
e não há coisa sem seu lugar."
O Rebe Shalom Dov de Lubavitch demonstrava grande afeição
pelas pessoas simples. Certa vez, um chassid que era mercador de diamantes
perguntou ao rabino quais virtudes ele via nessas pessoas sem instrução.
O rabino perguntou ao chassid se por acaso ele tinha consigo algumas de
suas mercadorias, e o negociante mostrou-lhe um pacote de diamantes. O
rabino apontou para uma pedra grande e disse: "Este de fato é
um belíssimo diamante."
O chassid sorriu. "Não, Rabino" – disse ele –
"este está cheio de defeitos."
"Mas é mais bonito que as outras pedras" – disse
o rabino.
O chassid explicou: "Por acaso é maior que os outros, mas
devido aos seus defeitos, que podem ser vistos com uma lupa, vale muito
menos. Veja aqui" – continuou – "esta é uma
pedra menor, que pode não parecer tão brilhante quanto as
grandes, mas é perfeita, e muito valiosa. Veja, Rabino, para conhecer
o valor dos diamantes é preciso ser um especialista."
"Entendo" – disse Rabino Shalom Dov – "mas
o mesmo é verdade sobre conhecer o valor das pessoas, onde também
se deve ser um expert.’
A pedra de um milhão de dólares
Há muitos anos, pude avaliar a verdade das palavras do rabino.
Eu tinha começado um projeto em Israel para reabilitar ex-condenados
que tinham se afastado da lei devido a sua necessidade de sustentar seus
hábitos com as drogas. Ao encontrar o primeiro grupo, tentei enfatizar
que pessoas com um bom senso de auto-estima têm menor probabilidade
de fazer coisas que as possam prejudicar, assim como alguém que
possui um belo automóvel novo toma cuidado para não amassá-lo
ou arranhá-lo.
Nesse ponto, um dos clientes me interrompeu, exclamando: "Você
espera que eu tenha um senso de auto-estima? Tenho 34 anos, e passei 16
anos de minha vida na prisão, tendo sido condenado oito vezes.
Quando saio da cadeia, ninguém quer contratar-me por causa de minha
folha corrida, e não consigo arrumar um emprego para sustentar-me.
Quando minha família é informada de que serei libertado
da prisão, eles ficam preocupados. Sou um fardo e motivo de constrangimento
para eles. Tenho certeza de que preferiam me ver morto! Como posso ter
auto-estima quando todos no mundo me consideram um inútil, e nada
além de excesso de bagagem da qual gostariam de se livrar?"
Fiquei chocado pelo desespero e pela aparente verdade contida nas suas
palavras, mas disse: "Avi, você já viu uma vitrine de
joalheria? Ali existem diamantes que valem milhares de dólares.
Você sabe como é a aparência desses diamantes quando
são extraídos da mina? Parecem pedaços de vidro sujos,
feios, sem brilho e sem valor. Alguém que os julgasse pela aparência
os jogaria fora sem pensar. No entanto, há um especialista que
examina a rocha, e talvez apanhe uma dessas pedras "sem valor"
e diz: ‘Oba! Acho que esta aqui vale um milhão de dólares!"
Um observador diria: ‘Jogue fora aquele pedaço de lixo e
lave suas mãos.’ Mas o especialista diz: ‘Espere, vamos
ver o que temos aqui.’ Ele então atira a pedra suja no processador
da fábrica, e por fim aparece um diamante estonteante, capaz de
cegar uma pessoa com seu brilho. Obviamente, não existe uma maneira
de alguém colocar tamanha beleza numa pedra suja, O que o processador
fez foi lapidar as camadas que ocultavam a beleza, e apenas expor o que
estava escondido.
"Avi" – disse eu – "você está
dizendo que não tem valor. Sou o especialista que pode ver o diamante
precioso dentro de você. Se ficar conosco, nós o ajudaremos
a revelá-lo."
Avi permaneceu em tratamento durante três meses, depois foi para
uma "casa de transição", conseguiu um emprego
e continuou a trabalhar por sua recuperação. Por fim, mudou-se
para viver independente.
Um dia Anette, administradora da casa de adaptação, recebeu
um chamado de uma família cuja mãe idosa tinha morrido e
deixado um apartamento repleto de mobília para a qual eles não
tinham utilidade. Queriam doá-la para a casa. Anette chamou Avi
para ver se ele encontrava uma forma de retirar a mobília, e Avi
disse que arrumaria um caminhão e cuidaria de tudo.
Dois dias depois, Avi telefonou para dizer que levara o caminhão,
mas no apartamento tinha visto que a mobília estava velha e estragada,
não podendo ser aproveitada. Anette disse que não podia
recusar uma doação, e que ele a levasse mesmo assim.
Avi carregou o caminhão, e descarregou tudo na casa de transição.
Estava subindo as escadas arrastando um sofá velho e quebrado quando
caiu das almofadas um envelope com 5.000 shekels (cerca de 1800 dólares).
Avi já tinha furtado bolsas e arrombado casas por menos de dez
shekels. Aqui ele tinha em mãos 5.000 shekels, de cuja existência
ninguém mais sabia. Não sendo muito versado em Lei Judaica,
ele poderia facilmente ter pensado que a lei de "achado não
é roubado" se aplicava ali, e que não teria sido crime
ficar com o dinheiro.
Avi chamou a família para relatar seu achado. Eles agradeceram,
e sugeriram que o dinheiro fosse doado à casa de transição.
Tempos depois, encontrei Avi e disse: "Eu não falei que havia
um belo diamante escondido dentro de você? Quantas outras pessoas
honestas teriam simplesmente embolsado o dinheiro sem falar uma palavra
a respeito? Seu diamante realmente brilha, Avi."
Numa subseqüente viagem a Israel, Anette mostrou-me uma placa que
Avi tinha afixado na porta da casa de transição: Está
escrito: CENTRO DE PROCESSAMENTO DE DIAMANTES
Rebe Shalom Dov entendia bem a Mishná. Não há pessoa
que deva ser menosprezada.
Você precisa apenas ser um especialista. |