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Discurso
na Conferência de Combate ao Antissemitismo
Otawa, Canadá, 9 de novembro de 2010
Há duas semanas visitei a Ucrânia pela primeira
vez.
Em Kiev depositei uma coroa de flores em Babi Yar, local de numerosas
atrocidades do Holocausto. Tive ali a mesma impressão que tinha
tido em Auschwitz em 2008 – que tais horrores desafiam toda a compreensão.
No Canadá,
temos dado alguns passos para avaliar e combater o antissemitismo em
nosso próprio país…No local dos assassinatos
em Babi Yar, eu sabia estar visitando um local onde o mal – o mal
em sua forma mais cruel, obscena e grotesca – tinha sido perpetrado.
Mas embora o mal dessa magnitude possa ser inimaginável, mesmo
assim é um fato. É um fato da história. E é
um fato da nossa natureza – que seres humanos possam escolher serem
desumanos. Este é o grande paradoxo da liberdade. Aquele enorme
poder, aquela grave responsabilidade – de escolher entre o bem e
o mal.
Não vamos nos esquecer de que mesmo nas horas mais sombrias do
Holocausto, os homens eram livres para escolher o bem. E alguns o fizeram.
Este é o eterno testemunho dos Justos Entre as Nações.
E não podemos nos esquecer que mesmo agora, há aqueles que
escolheriam o mal e decretariam outro Holocausto, se não fossem
vigiados. Este é o desafio que temos à frente nos dias de
hoje.
O horror do Holocausto é único, mas é apenas um capítulo
na longa e ininterrupta história do antissemitismo. Porém
em debates atuais que influenciam o destino do país judaico, infelizmente,
existem aqueles que rejeitam a linguagem do bem e do mal. Eles dizem que
a situação não é preta e branca, e que não
devemos tomar um lado.
Em reação a esse ressurgimento da ambivalência moral
nessas questões, devemos falar claramente. Lembrar o Holocausto
não é meramente um ato de reconhecimento histórico.
Deve ser também um entendimento e uma tarefa. Um entendimento de
que as mesmas ameaças existem hoje. E uma tarefa que é uma
solene responsabildiade lutar contra essas ameaças.
Dever de Entrar em Ação
Os judeus atualmente em muitas partes do mundo e muitos ambientes diversos
estão cada vez mais sujeitos a vandalismo, ameaças, calúnias,
e mentiras antigas.
Devemos combater ideologias antissemíticas,
anti-americanas e anti-ocidentais, que tem como alvos o povo judeu e Israel,
como fonte de injustiça e conflito no mundo, e usam, perversamente,
a linguagem dos direitos humanos para fazê-lo.Deixe-me chamar
a sua atenção para algumas tendências particularmente
perturbadoras. O antissemitismo conquistou um lugar nas nossas universidades,
onde às vezes não é a turba que é removida,
mas os alunos judeus sob ataques. E, debaixo da sombra de uma ideologia
de ódio com ambições globais, aquele que visa ao
país judaico como um bode expiatório, os judeus são
selvagemente atacados em todo o mundo, como ocorreu, mais espantosamente,
em Mombai em 2008.
Um impiedoso campeão daquela ideologia descaradamente ameaça
“varrer Israel do mapa”, e muitas vezes despreza as obrigações
que seu país assumiu sob os tratados internacionais. Eu poderia
ir mais além, mas sei que você concordará num ponto:
que isso tudo é bastante familiar.
Já vimos isso tudo antes. E não temos desculpas para sermos
complacentes. Na verdade, temos um dever de agir. E para todos nós,
isso começa em casa.
No Canadá, temos dado alguns passos para avaliar e combater o antissemitismo
em nosso próprio país… Pela primeira vez, estamos
lidando com o próprio registro do Canadá de antissemitismo
oficialmente sancionado. Criamos um fundo para educação
sobre a rejeição deliberada de nosso país aos refugiados
judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Porém é claro que devemos também combater o antissemitismo
além das nossas fronteiras, um fenômeno crescente e global.
E devemos reconhecer que, enquanto sua substância é tão
grosseira como sempre, seu método agora é mais sofisticado.
Devemos combater ideologias antissemíticas, anti-americanas e anti-ocidentais,
que têm como alvo o povo judeu e o país judaico, Israel,
como fonte de injustiça e conflito no mundo, e usam, perversamente,
a linguagem dos direitos humanos para fazê-lo.
Os Ferimentos para Provar
Devemos ser incansáveis ao expor este novo antissemitismo por aquilo
que é. Obviamente, como qualquer país, Israel pode estar
sujeito a críticas justas. E como qualquer país livre, Israel
se sujeita a esse tipo de crítica – sadia, necessária,
um debate democrático. Mas quando Israel, o único país
no mundo cuja própria existência está sob ataque –
é consistentemente citado para condenação, acredito
que estamos moralmente obrigados a tomar partido. A demonização,
os duplos padrões, deslegitimação, os três
Dês, são uma responsabilidade que todos nós temos
de enfrentar.
E por falar nisso, eu sei, porque tenho os ferimentos pra provar, seja
nas Nações Unidas, seja em outro fórum internacional,
o mais fácil a fazer é simplesmente concordar e seguir com
essa retórica anti-israelense, fingir que está sendo resolvido
de maneira imparcial, e desculpar-se com a etiqueta de “negociador
sincero”. Existem, afinal, muitos mais votos, muitos mais, em ser
anti-Israel do que em defendê-lo.
Quando Israel, o único país no
mundo cuja própria existência está sob ataque –
é consistentemente citado para condenação, acredito
que estamos moralmente obrigados a tomar partido.Mas, enquanto
eu for Primeiro Ministro, seja na ONU ou na Francofônia ou onde
for, o Canadá vai tomar posição, custe o que custar.
E amigos, não digo isso apenas porque é a coisa certa a
fazer, mas porque a história nos mostra, e a ideologia da multidão
anti-israelense nos diz muito bem se dermos ouvidos a ela, que aqueles
que ameaçam a existência do povo judeu são uma ameaça
para todos nós.
Use a Liberdade Agora
Eu já tinha notado o paradoxo da liberdade. É a liberdade
que nos torna humanos. Se vai levar ao heroísmo ou à depravação,
isso depende de como a usamos.
À medida que o espectro do antissemitismo se espalha, nossa responsabilidade
se torna cada vez mais clara. Somos cidadãos de países livres.
Temos o direito, e portanto a obrigação, de falar e agir.
Somos cidadãos livres, mas também os representantes eleitos
de pessoas livres. Temos um dever sagrado de defender os vulneráveis,
de desafiar o agressor, de proteger e promover os direitos humanos, a
dignidade humana, em casa e fora dela. Nenhum de nós realmente
sabe se escolheríamos fazer o bem, nas extremas circunstâncias
dos Justos. Mas sabemos que hoje existem aqueles que escolhem fazer o
mal, se tiverem permissão. Assim, devemos usar nossa liberdade
agora, e confrontar a eles e seu antissemitismo a cada passo.
Este é o objetivo de nossa intervenção hoje; nossa
determinação compartilhada de confrontar esse ódio
terrível. A obra que aceitamos, em nossos países e em cooperação
mútua, é um sinal de esperança.
Nosso trabalho juntos é um sinal de esperança, assim como
a existência e a persistência da terra judaica é um
sinal de esperança. E é aqui que a história serve
não para advertir, mas para inspirar.
Como eu declarei no 60º aniversário da fundação do
Estado de Israel, Israel surgiu como uma luz, num mundo que emergia da
profunda escuridão. Contra todas as probabilidades, aquela luz
não se extinguiu. Brilha reluzente, sustentada pelos princípios
universais de todas as nações civilizadas – liberdade,
democracia e justiça. Ao trabalharmos juntos mais unidos na família
das nações civilizadas, afirmamos e fortalecemos aqueles
princípios. E declaramos nossa fé no futuro da humanidade
e no poder do bem contra o mal. |