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Pode
parecer estranho sugerir uma conexão entre a tragédia de
11 de setembro e um filósofo grego que viveu há quase 2.500
anos, mesmo assim é isso que pretendo fazer. Chamo a isso o fantasma
de Platão, e tem assombrado a imaginação do Ocidente
desde então.
Platão, um dos maiores pensadores que jamais viveram, era motivado
pela busca do conhecimento e da verdade. Como, neste mundo do acaso e
de mudança, podemos chegar ao conhecimento que está além
do acaso e da mudança? Sua resposta era que a realidade não
é a profusão caótica de coisas que vemos, tocamos
e sentimos: os milhares de diferentes tipos de cadeiras, casas ou árvores.
A realidade jaz naquilo que é comum a cada um: a forma de uma cadeira,
casa ou árvore. As coisas são particulares; a verdade é
universal. Este era o pensamento profundo de Platão. Acredito que
esteja profundamente errado.
Isso leva à crença – superficialmente compulsória
mas completamente falsa – de que, quanto mais universal é
a cultura, mais perto da verdade está. Afinal, se a verdade é
a mesma para todos em todos os tempos, então, se estou certo, você
está errado. Se eu me preocupo com a verdade, devo converter você
a meu ponto de vista, e se você se recusa a ser convertido, fique
atento. A partir dessa premissa ocorreram os maiores crimes da História,
e muito sangue humano foi derramado.
A civilização ocidental conhece cinco grandes culturas universalistas:
Grécia Antiga, Roma Antiga, Cristianismo medieval, Islamismo, e
o Iluminismo. Três eram seculares, duas religiosas. Trouxeram presentes
inestimáveis ao mundo, mas também trouxeram grande sofrimento,
embora não exclusivamente aos judeus. Como um maremoto, varreram
para longe os costumes locais, antigas tradições e maneiras
diferentes de fazer as coisas. Foram para a diversidade cultural aquilo
que a industrialização representa para a biodiversidade.
Extinguiram formas de vida mais fracas. Diminuíram a diferença.
Atualmente, estamos passando pela sexta ordem universal: o capitalismo
global. É a primeira a ser motivada, não por uma série
de idéias, mas por uma série de instituições,
dentre elas o mercado, a mídia e a Internet. Porém seu efeito
é não menos profundo. Ameaça todas as coisas, locais,
tradicionais e particulares.
Há
uma diferença fundamental entre D’us e religião.
D’us é universal, a religião é particular
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Onze de Setembro
aconteceu quando duas culturas universalistas – cada uma profundamente
ameaçadora à outra – encontraram-se e colidiram.
Está na hora de exorcizarmos o fantasma de Platão. Deixe-me
dizer isso clara e inequivocamente: o universalismo é o oposto
cultural do imperialismo. Nem toda verdade é universal. A verdade
científica é. A verdade espiritual, religiosa e pelo menos
algumas verdades morais não são. A glória do mundo
humano é sua diversidade: os seis mil idiomas diferentes, centenas
de fés, a multiplicidade de culturas, a absoluta variedade das
imaginativas expressões da raça humana, na maioria das quais,
se escutarmos atentamente, ouviremos a voz de D’us nos dizendo algo
que precisamos saber.
As verdadeiras morais universais são poucas e existem para proteger
as diferenças culturais e religiosas: a santidade da vida humana,
a dignidade da pessoa humana, e a liberdade que precisamos que seja verdadeira
para nós mesmos, enquanto é uma bênção
para outros. Colocado desta forma, há uma diferença fundamental
entre D’us e religião. D’us é universal, a religião
é particular.
Servimos a D’us, autor da diversidade, quando respeitamos a diversidade.
D’us não quer que todas as fés e culturas sejam as
mesmas, assim como um pai amoroso não deseja que seus filhos sejam
todos iguais.
Quando as civilizações universais colidem, o mundo balança,
e vidas se perdem. Conseguiremos a paz neste mundo problemático
somente quando aprendermos que D’us ama a diferença e também
nós devemos fazê-lo.
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