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Sempre me perguntei qual seria a motivação
de alguém que corre uma maratona e chega por último. O simpático
casal na casa dos sessenta, cruzando de mãos dadas a linha de chegada
– o que os leva a isso? Todo os anos, cerca de 36.000 pessoas se
alinham para participarem da Maratona de Nova York, um itinerário
assustador com 42 quilômetros de extensão que serpenteia
por todos os cantos da cidade. Daqueles milhares, somente um chegará
em primeiro. Por que as pessoas correm a maratona, sabendo que não
têm chance de chegar entre os dez primeiros, ou tampouco entre os
mil primeiros?
Fiz alguma pesquisa, lendo entrevistas de corredores da maratona. Para
início de conversa, completar uma maratona não é
o que se pode chamar de um passeio no parque. Todos os corredores, mesmo
aqueles que terminam em último, se preparam durante semanas com
treinos e alongamentos. Há uma grande diferença entre um
corredor – mesmo aquele que chega por último – e os
espectadores que assistem à corrida. Nenhum deles tem qualquer
esperança de vencer. Os participantes, porém, têm
um contentamento interior e uma profunda satisfação. Eles
fazem parte da corrida. Para eles, o simples fato de completar e maratona
em si já é motivo de coragem e orgulho, e não precisam
de um troféu.
A porção Behaalotechá da Torá (Bamidbar 8-12)
descreve o acampamento do povo judeu no deserto, e a maneira pela qual
eles viajaram. Após ouvirem o sinal tocado por trombetas de prata,
as doze tribos de Israel desfaziam acampamento, se alinhavam numa ordem
pré-estabelecida e marchavam rumo ao deserto. A tribo de Dan sempre
marchava por último. O trabalho deles era proteger a retaguarda
e apanhar quaisquer objetos que ficassem para trás – meias
perdidas, talvez, ou crianças extraviadas. Eles iam atrás
de todas as tribos.
Não é um papel muito glorioso. Nem de longe tão impressionante
como as tribos liderantes, como Yehuda, ou como carregar os vasos sagrados
como os Levitas. Mas era um trabalho que precisava ser feito.
Os ensinamentos chassídicos explicam que além de cuidar
do departamento de bagagens, os integrantes da Tribo de Dan também
tinham uma espécie de "setor de achados e perdidos".
Existe algo que os indivíduos podem perder quando estão
lá fora no fronte, abafando toda a glória. Eles podem perder
perspectiva. Podem perder sua sensibilidade para com os outros, e a consciência
de sua própria falibilidade.
A Tribo de Dan conseguia devolver isto às tribos que estavam à
frente. Eles estavam por último mas ainda estavam na corrida, os
olhos fixos na meta. Sem qualquer alarde, eles faziam o que tinham de
fazer e se concentravam nas necessidades dos outros. Com uma maravilhosa
mistura de modéstia e auto-estima, não sentiam necessidade
de marchar na frente. Sabiam que estavam fazendo exatamente o que D'us
queria deles.
A Tribo de Dan tornou-se minha inspiração, especialmente
naqueles dias em que estou me sentindo por baixo e parece que o mundo
está me deixando para trás. Aqueles dias em que ninguém
retorna minhas ligações ou lê os meus e-mails, e me
sinto deixada por baixo da pilha.
Porém talvez hoje haja alguém que precise de um sorriso
meu ou que está perdendo o equilíbrio, e eu posso ajudá-lo.
Talvez alguém precise de um amigo que retorne suas ligações
e responda seus e-mails.
Aqui dentro existe uma criança que precisa de toda minha atenção
enquanto ela me conta sobre o seu dia. Estou chegando em último
lugar, o vento está soprando no meu rosto. Nada é importante,
tudo é importante. Estou chegando em último, mas estou na
corrida.
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