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Segundo a Torá, o mundo tem uns meros cinco mil e quinhentos anos
de idade, e foi criado em seis dias. Certamente a ciência moderna
prova que o mundo tem bilhões de anos e que o homem passou por
um processo de evolução, dessa maneira arquivando a história
bíblica de Bereshit? Pode-se seguir honestamente crenças
religiosas antiquadas quando a ciência prova outra coisa?
A definição de ciência e religião
A ciência, numa definição ampla, significa conhecimento.
Referimo-nos especificamente à ciência como o conhecimento
certificado por meio de observação e experimentos, criticamente
testado, sistematizado e classificado segundo princípios gerais.
Para ser mais específico, deve-se distinguir entre a ciência
empírica e experimental que lida e está confinada a descrever
e classificar fenômenos passíveis de observação,
e a ciência especulativa que trata dos fenômenos desconhecidos,
às vezes fenômenos que não podem ser duplicados em
laboratório. O termo "especulação científica"
é na verdade uma incongruência, pois nenhuma especulação
pode ser chamada de conhecimento no estrito sentido da palavra. Quando
muito, a especulação científica pode apenas descrever
teorias deduzidas de certos fatos conhecidos e aplicados ao âmbito
do desconhecido.
Religião significa uma crença em alguma coisa. Em termos
de religião judaica, é a crença na natureza Divina
da Torá – Torah min Hashamayim; que a Torá recebida
por Moshê e dada ao povo judeu é de origem Divina e é
a palavra de D’us. Assim sendo, a Torá é a sabedoria
Divina, e como D’us é verdade, também Sua Torá
o é. A Torá é chamada com freqüência de
Torat Emet, que significa a Torá da verdade.
A partir
dessas duas definições vemos que a ciência formula
e lida com teorias e hipóteses, ao passo que a Torá lida
com verdades absolutas. Estas são duas disciplinas diferentes e
uma "conciliação" é absolutamente impossível.
A Torá está no âmbito da verdade do absoluto. Aquilo
que a Torá diz é verdadeiro não porque foi provado
cientificamente, ao contrário, é verdadeiro porque foi revelado
por D’us. A ciência não lida com absolutos, e sim com
fenômenos observáveis e produz princípios baseados
em suas observações.
A ciência de ontem e a ciência do amanhã
No século dezenove a opinião prevalecente entre os cientistas
e modernistas era que o raciocínio humano era infalível
em deduções "científicas" e que ciências
como Física, Química, Matemática, etc., eram a verdade
absoluta, ou seja, não meramente verdades aceitas, mas a absoluta.
Falando em termos judaicos, isso queria dizer o estabelecimento de uma
nova idolatria, não de madeira e pedra, mas a veneração
das ciências e filosofias contemporâneas.
Na verdade, tendo em vista as opiniões dogmáticas e deterministas
da ciência daquela época, foi criada toda uma literatura
apologética por bem intencionados advogados religiosos e alguns
rabinos que não viram outra maneira de preservar o legado da Torá
em suas comunidades "esclarecidas", exceto reinterpretações
tênues e deturpadas de determinadas passagens da Torá a fim
de acomodá-las com a opinião prevalecente no mundo. Sem
dúvida eles sabiam interiormente que estavam sugerindo interpretações
da Torá que diferiam da Torat Emet, mas pelo menos eles acharam
que não tinham outra alternativa.
A
pergunta "Por que criar um fóssil?" não
é mais válida que a pergunta "Por que criar
um átomo?" Certamente, este tipo de pergunta não
pode servir como um argumento sólido, muito menos como
base lógica para a teoria da evolução.
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No século
20, porém, especialmente nas últimas décadas, a ciência
finalmente se despiu das suas embalagens medievais e todo o complexo da
ciência mudou. A presumida imutabilidade das chamadas leis científicas
e o conceito de absolutismo na ciência em geral foram revogados
e agora considera-se a opinião contrária, conhecida como
"Princípio do Indeterminismo". Nada mais é certo
na ciência, mas somente relativo ou provável, e os achados
científicos são agora apresentados com considerável
reserva e validade temporária, passível de ser substituída
a qualquer tempo por uma teoria mais avançada.
A maioria dos cientistas aceitou este princípio de incerteza –
enunciado por Werner Heisenberg em 1927 – como sendo intrínseco
a todo o universo. A atitude dogmática, mecânica e determinista
do século 20 acabou. O cientista moderno não espera mais
encontrar a verdade na ciência. A opinião atual e universalmente
aceita é que a ciência deve se reconciliar com a idéia
de que, qualquer que seja o progresso que ela faz, sempre estará
lidando com probabilidades, não com certezas ou absolutos.
Vejamos dois exemplos da metamorfose da descoberta científica.
Há um versículo em Cohêlet 1:4, "A terra fica
para sempre", que parece sugerir que a terra fica parada e o sol
se move ao redor dela. Esta apresentação era inteiramente
aceitável no princípio da era comum, especialmente quando,
no segundo século, Ptolomeu aperfeiçoou a construção
de Aristóteles sobre como o sol e os planetas se moviam ao redor
da terra em órbitas circulares com rotação adicional
ao redor de certos pontos nestas órbitas.
Aquela opinião foi adotada por todos os cientistas e especialmente
entre o clero religioso, que considerava a terra como o centro do universo.
Cerca de 1.500 anos depois, Nicolau Copérnico fez uma revolução
na astronomia, dizendo que a terra girava ao redor do sol. De repente
esta nova descoberta científica jogou por terra toda a crença
religiosa. Até hoje, na maioria das escolas, as crianças
aprendem que a terra gira ao redor do sol e que este é um fato
provado pela ciência. Sugerir de outra forma seria considerado não-científico.
No entanto esta educação é preconceituosa, pois a
teoria da relatividade de Einstein eliminou a idéia do espaço
absoluto e do movimento absoluto. Segundo Einstein, a ciência em
princípio não pode decidir se a terra fica parada e o sol
gira ao redor dela, ou vice versa. No livro A Filosofia do Tempo, por
Hans Reichenbach, um discípulo de Einstein, ele demonstra que todos
os seguintes conceitos são claramente possíveis sob um ponto
de vista científico:
1 – A terra fica parada e o sol gira ao seu redor.
2 – O sol fica parado e a terra gira ao redor dele.
3 – Ambos giram ao redor de um determinado ponto. Não há
maneira de provar qual das alternativas acima é correta ou preferível.
Para objetivos práticos é mais simples calcular eventos
astronômicos se presumirmos que o sol está parado e a terra
se move ao redor dele. O principal motivo de Copérnico era tornar
mais fáceis os cálculos, mas esta não é uma
razão suficientemente boa para atribuir "verdade" a este
conceito. Desconsiderar o versículo bíblico que sugere que
a terra fica parada é totalmente não-científico.
O problema com o debate ciência versus religião é
o que foi mencionado previamente – que a maioria das pessoas aceitava
a descoberta científica como absoluta, o que impossibilitava e
excluía a crença religiosa. Mesmo atualmente, anos depois
da publicação da Teoria da relatividade, embora os cientistas
aceitem a teoria em suas capacidades profissionais, eles a ignoram no
contexto do debate filosófico, preferindo apoiar antigas idéias
de absolutismo. Eles continuam a ser governados por pré-concepções
ideológicas, cegamente opostas à Torá, que foram
absorvidas em sua consciência desde a infância, mesmo quando
estas pré-concepções contradizem o conhecimento profissional.
Outro bom exemplo de uma teoria sempre em mutação é
aquela da luz. Os antigos gregos desenvolveram uma teoria "corpuscular"
da luz, i.e., que a luz é um fluxo de minúsculas partículas
emanando de uma fonte e se movendo linearmente em todas as direções.
A teoria da óptica geométrica foi desenvolvida com base
nesta presunção. Esta teoria serviu com sucesso a humanidade
durante séculos, para desenhar e construir lentes, prismas, espelhos
planos e curvos, auxiliares para a visão, e mais tarde os microscópios,
telescópios e outros sistemas ópticos. Descobriu-se então
que a luz também segue um movimento ondulado e portanto isso foi
reinterpretado como ondas eletro-magnéticas com um comprimento
de onda muito curto. Cientificamente, a teoria corpuscular desenvolveu-se
numa teoria de ondas. No início do século 20, Albert Einstein
sugeriu que, na verdade, a luz possui uma natureza dual, i.e., a unificação,
em uma entidade, de dois conceitos opostos de uma partícula de
matéria e de um movimento de onda. Esta nova idéia tornou-se
a base da fundamental teoria da mecânica quântica.
É interessante notar que a Cabalá usa a luz como metáfora
para o poder de D’us. Fala em termos de Or Ein Sof – a luz
Infinita. Um dos princípios da fé é que D’us
é onipotente e pode encerrar opostos. O fato de a luz possuir uma
natureza dual e poder carregar um oposto a transforma na perfeita metáfora
para a Divina energia. Neste terceiro estágio do desenvolvimento
da teoria da luz, fica claro que esta unificação de dois
conceitos sublinha a unidade de D’us dentro da Criação.
(veja O Rebe de Lubavitch sobre Ciência e Tecnologia", pelo
Professor Herman Branover em B’Or Ha’Torah, vol. 9).
A idade do universo
Um problema que incomoda a muitos é esta contradição
aparentemente irreconciliável: a ciência alegando que o mundo
teria bilhões de anos e a opinião da Torá de que
o mundo tem 5765 anos de idade (na data deste artigo).
Além disso, esta contradição tem levado alguns cientistas
religiosos bem-intencionados a re-interpretar as passagens de Bereshit
dizendo que os dias da Criação referem-se a períodos
ou eras, e não a dias comuns. Eles sugerem que como o sol, a lua
e as estrelas apenas estiveram "pendurados no céu" no
quarto dia da Criação, portanto o dia de 24 horas não
poderia ter existido até pelo menos o quarto dia. Além disso,
alegam eles, se alguém atribuísse vastos períodos
de tempo a cada um dos dias da Criação, todas as teorias
da evolução e o Big Bang poderiam se encaixar muito bem
com a Torá.
No entanto, esta interpretação entra em conflito com o mandamento
do Shabat – uma mitsvá considerada por nossos Sábios
como equivalente à toda a Torá. Pois, se alguém pegar
as palavras "um dia" fora do contexto e significado puro, na
verdade anula toda a idéia do Shabat como o sétimo dia declarada
no mesmo contexto. A idéia da observância do Shabat está
baseada na declaração clara e inequívoca da Torá:
"Pois em seis dias D’us fez o céu e a terra, e no sétimo
dia Ele cessou o trabalho e descansou." – dias, não
períodos.
Como foi mencionado previamente, estas tentativas de re-interpretar a
Torá são, obviamente, o legado anacrônico do século
19. Hoje em dia não existe justificativa para perpetuar este "complexo
de inferioridade". Certamente não há bases para se
apegar a opiniões que foram eliminadas dos livros escolares sobre
ciência.
É lamentável pensar que aqueles que deveriam ser os campeões
da opinião da Torá e seus advogados, especialmente entre
a juventude judaica em geral e a juventude acadêmica em particular,
são tímidos ou até envergonhados para postulá-la.
O exposto acima não tem a intenção de diminuir a
ciência ou o método científico, ao contrário,
deve haver uma diferenciação entre a ciência efêmera
e as teorias extraídas da especulação científica.
Isto contrasta com a Torá, que é eterna e imutável.
Quando a Torá é modificada ou alterada por motivo de concessão,
seja a qualquer extensão, deixa de ser verdade. E a verdade permanece
a mesma para todas as pessoas e para todos os tempos. Se alguém
aceita a eternidade da Torá, e isso pode apenas ser com base de
Torah min Hashmayim, então seria absurdo dizer que, embora a Torá
tenha sido dada por D’us, os tempos mudaram, como se o Criador e
Governador do universo não pudesse ter previsto que haveria um
século 21 quando determinados grupos de pessoas, como os cientistas
ou "modernistas", estariam inclinados a aceitarem apenas uma
Torá comprometida, não a Torá da verdade.
Vamos examinar
mais de perto os métodos empregados pelos cientistas para descobrirem
a idade do universo. A ciência tem dois métodos gerais de
dedução:
1 – O método da interpolação (para distinguir
da extrapolação), por meio do qual, conhecendo a reação
sob dois extremos, tentamos deduzir qual poderia ser a reação
a qualquer ponto entre os dois.
2 – O método da extrapolação, por meio do qual
são feitas deduções além do alcance conhecido,
com base em certas variáveis dentro do alcance conhecido. Por exemplo,
suponhamos que conhecemos as variáveis de um determinado elemento
dentro de uma variação de temperatura de 0 a 100 e, baseados
nisso, estimamos como seria a reação a 101, 200 ou 2.000.
Dos dois métodos, o segundo é claramente o mais incerto.
Além disso, a incerteza aumenta com a distância do alcance
conhecido e com o decréscimo desse alcance. Assim, se o alcance
conhecido está entre 0 e 100, nossa dedução a 101
tem uma probabilidade maior que a 1001.
Vemos logo que todas a especulação sobre a origem e idade
do mundo vem dentro do segundo método, mais fraco. A fraqueza se
torna mais aparente se tivermos em mente que uma generalização
inferida a partir de um antecedente conhecido para um antecedente desconhecido
é mais especulativa que uma inferência de um antecedente
para um conseqüente, como pode ser demonstrado de maneira muito simples.
Quatro dividido por dois é igual a dois. Aqui o antecedente é
representado pelo dividendo e pelo divisor, e o conseqüente pelo
quociente. Conhecer o antecedente neste caso nos dá um resultado
possível – o quociente – número dois.
No entanto, se pudéssemos saber o resultado final, ou seja, o número
dois, a resposta permite diversas possibilidades, às quais se chega
por métodos diferentes: 1 + 1 = 2, 4 – 2 = 2, 1 x 2 = 2,
4 : 2 = 2. Note que se outros números entrarem na conta, o número
de possibilidades nos dando o mesmo resultado é infinito (pois
5 – 3 = 2, 6 – 4 = 2, etc., ad infinitum.)
Acrescente a esta outra dificuldade que prevalece em todos os métodos
de dedução. As conclusões baseadas em certos dados
conhecidos, quando estendidas para áreas desconhecidas, somente
podem ter validade com a presunção de "tudo mais é
igual", o que equivale a dizer, numa identidade de condições
prevalecentes e sua ação e contra-ação uma
sobre a outra. Se não pudermos ter certeza de que as variações
ou mudanças teriam ao menos uma relação próxima
em grau com as variáveis existentes, se não pudermos ter
certeza de que as mudanças terão qualquer semelhança
da mesma espécie, se, além disso, não pudermos ter
certeza de que não houve outros fatores envolvidos – tais
conclusões de inferências são completamente inválidas!
Para ilustrar melhor numa reação química, seja de
fissão ou de fusão, a introdução de um novo
catalisador no processo, mesmo que em quantidade ínfima, pode mudar
todo a duração e forma do processo químico ou começar
um processo inteiramente novo.
Ora, toda a estrutura da ciência é baseada em observações
das reações e processos no comportamento de átomos
em seu estado atual, como eles existem na natureza. Os cientistas lidam
com aglomerações de bilhões de átomos quando
estes já estão juntos, e como eles se relacionam com outras
aglomerações de átomos já existentes. Os cientistas
sabem muito pouco sobre os átomos em seu estado puro – como
um único átomo pode reagir sobre outro único átomo
num estado de separação – muito menos sobre como partes
de um único átomo em quantidades mínimas; algumas
delas elementos com potência catalisadora das quais pouco se conhece.
3 – A formação do mundo, se aceitarmos estas teorias,
começou com um processo de coligação (união)
de átomos separados, ou componentes do átomo, e sua conglomeração
e consolidação, envolvendo processos e variáveis
totalmente desconhecidos.
Em resumo, de todas as teorias "científicas" fracas,
aquelas que tratam da origem do cosmos e sua data são, como é
admitido pelos próprios cientistas, as mais fracas de todas.
Não admira que (e isso, por acaso, é uma das refutações
óbvias destas teorias) as várias teorias "científicas"
sobre a idade do universo não apenas se contradigam entre si mas,
em alguns casos, sejam incompatíveis e mutuamente exclusivas, pois
a data máxima de uma teoria é menor que a data mínima
de outra.
Se alguém aceitar tal teoria sem criticá-la, isso pode apenas
levá-lo a um raciocínio errôneo e inconseqüente.
Considere, por exemplo, a assim chamada teoria evolucionária da
origem do mundo, baseada na presunção de que o universo
evoluiu a partir de partículas atômicas e sub-atômicas
existentes que, através de um processo evolutivo, se combinaram
para formar o universo físico e nosso planeta, no qual a vida orgânica
de certa forma se desenvolveu, também por um processo evolutivo,
até surgir o homo-sapiens. É difícil entender por
que alguém deveria realmente aceitar a criação de
partículas atômicas e sub-atômicas num estado –
que é francamente incognoscível – e inconcebível
– porém ficar relutante para aceitar a criação
dos planetas, ou organismos, ou um ser humano como sabemos que existem.
O argumento da descoberta dos fósseis de maneira alguma é
uma prova conclusiva da grande antiguidade da terra, pelas seguintes razões:
1 – Em vista das condições desconhecidas que existiram
nos tempos "pré-históricos", como já mencionado
– condições que poderiam ter causado reações
e mudanças de natureza e tempo inteiramente diferentes daquilo
que se conhece atualmente sobre os processos da natureza – não
se pode excluir a possibilidade de que os dinossauros existiram há
5.000 anos e se fossilizaram sob formidáveis cataclismos naturais
no decorrer de alguns poucos anos, em vez de em milhões de anos,
pois não temos medidas ou critérios de cálculos concebíveis
sob estas condições conhecidas.
2 – Mesmo supondo que o período de tempo que a Torá
dá para a idade do mundo seja curto demais para a fossilização,
pode-se aceitar prontamente a possibilidade de que D’us criou os
fósseis, ossos ou esqueletos (por razões somente conhecidas
por Ele), assim como ele pôde criar organismos vivos prontos, um
homem completo, e outros produtos prontos como o petróleo, carvão
ou diamantes, sem qualquer processo evolutivo.
Quanto à pergunta, se o último raciocínio é
verdadeiro, para começar, porque D’us teve de criar os fósseis?
A resposta é simples: não podemos saber o motivo pelo qual
D’us escolheu esta maneira de criar em preferência à
outra e, qualquer que seja a teoria da criação aceita, a
questão ainda continuará não respondida. A pergunta
"Por que criar um fóssil?" não é mais válida
que a pergunta "Por que criar um átomo?" Certamente,
este tipo de pergunta não pode servir como um argumento sólido,
muito menos como base lógica para a teoria da evolução.
Que base científica existe para limitar o processo criativo somente
a um processo evolucionário, começando com partículas
atômicas e sub-atômicas – uma teoria repleta de lacunas
inexplicadas e complicações – enquanto se exclui a
possibilidade da criação segundo a narrativa bíblica?
Pois, se esta possibilidade for admitida, tudo se encaixa certinho num
padrão e toda a especulação sobre a origem e idade
do mundo se torna desnecessária e irrelevante.
Certamente não se pode questionar esta possibilidade dizendo: Por
que o Criador deveria criar um universo completo, quando teria sido suficiente
para Ele criar um número adequado de átomos ou partículas
sub-atômicas com poder de coligação e evolução
para se desenvolverem na atual ordem cósmica? O absurdo deste argumento
se torna ainda mais óbvio quando se transforma na base para uma
teoria frágil como se estivesse baseada em argumentos sólidos
e irrefutáveis, afastando todas as outras possibilidades.
Evolução
Antes de mais nada, precisamos declarar que a teoria da evolução
não aparece na narrativa da Torá sobre a criação.
Mesmo que esta teoria fosse substanciada e a mutação das
espécies ficasse provada em testes de laboratório, mesmo
assim isso não iria contradizer a possibilidade de o mundo ter
sido criado conforme o relato da Torá, em vez de pelo processo
evolutivo.
E ainda mais, como toda esta teoria é altamente especulativa e,
embora durante os anos de pesquisa e investigação desde
que a teoria foi primeiro apresentada, tenha sido possível observar
certas espécies de animais e plantas com um curto período
de vida no decorrer de milhares de gerações, mesmo assim
jamais foi possível estabelecer uma transmutação
de uma espécie para outra, muito menos transformar uma planta em
animal. Tal teoria não pode ter lugar no arsenal da ciência
empírica.
A teoria da evolução é um exemplo típico de
como uma teoria altamente especulativa e fraca cientificamente capturou
a imaginação das massas e tem permitido a elas desconsiderar
a narrativa bíblica, apesar do fato de que a teoria não
foi substanciada cientificamente e não tem qualquer verdadeira
base científica. É quase como se os cépticos estivessem
procurando uma razão para desacreditar. Seu axioma equivocado era
que a Torá está errada e eles precisavam de alguma teoria
em substituição. A evolução era perfeita.
Fornecia uma teoria da criação sem D’us e estimulava
a tendência ateísta. Na verdade, é altamente não-científica;
a ciência pura deve estar baseada em dados efêmeros.
A natureza humana também afetou o debate. Embora as várias
teorias tentando explicar a origem e idade do mundo sejam fracas, estão
adiantadas porque é uma questão de natureza humana buscar
uma explicação para tudo em seu ambiente e qualquer teoria,
mesmo que absurda, é melhor que nenhuma, pelo menos até
que uma explicação mais plausível possa ser engendrada.
Alguém poderia perguntar por que, na ausência de uma teoria
mais sólida, a narrativa bíblica não é aceita
pelos cientistas? A resposta novamente será encontrada na natureza
humana. É uma ambição humana natural ser inventivo
e original. Aceitar a narrativa bíblica priva a pessoa da oportunidade
de mostrar engenhosidade analítica e indutiva. Portanto, desconsiderando
a narrativa bíblica, os cientistas devem criar motivos para justificar
isso, e se refugiam em classificá-la como mitologia primitiva e
antiga, pois não pode ser discutida com base científica.
Convergir, não divergir
Com o passar do tempo, a ciência descobrirá realmente as
verdades da Torá. Em vez de serem vistas como divergentes, a ciência
e a religião estão convergindo. Há uma história
sobre um grupo de cientistas que estava subindo a montanha da criação.
Quando chegaram ao cume, encontraram um rabino sentado, estudando. Ele
levantou os olhos do livro e disse aos perplexos cientistas: "Eu
falei que era verdade!"
Este fato foi previsto pelo antigo texto cabalista, o Zôhar. Sobre
o versículo em Bereshit 7:11: "No seiscentésimo ano
da vida de Nôach… todas as fontes de grande profundidade se
abriram e as janelas do céu foram abertas", o Zôhar
comenta: No seiscentésimo ano do sexto milênio, os portões
da sabedoria do alto serão abertos, assim como as fontes de sabedoria
de baixo, e o mundo estará preparado para ser elevado no sétimo
milênio.
O Zôhar predisse que no ano hebraico de 5600, que corresponde ao
ano 1840 da EC, haverá grande desenvolvimento tanto na sabedoria
do alto quanto na sabedoria de baixo. A sabedoria do alto refere-se ao
conhecimento esotérico no qual revelações importantes
foram feitas na disseminação da Filosofia Chassídica
a partir daquele ano. É bem conhecido o fato de que o fundador
do Movimento Chassídico, o Báal Shem Tov, certa vez, através
de misteriosos meios cabalistas, entrou no palácio celestial de
Mashiach e perguntou a ele: "Quando o Mestre virá?" Mashiach
respondeu: "Quando os mananciais dos teus ensinamentos estiverem
largamente difundidos." Os principais desenvolvimentos nos ensinamentos
e disseminação do Chassidismo que ocorreram depois do ano
1840 são um verdadeiro cumprimento daquela indicação.
A sabedoria de baixo refere-se aos grandes avanços na ciência,
que também começaram por volta daquela época. As
grandes revoluções industriais, que ocorreram em meados
do século 19, abriram caminho para os grandes avanços tecnológicos
dos anos recentes.
A conexão entre estas duas sabedorias é que elas convergirão.
Na Era Messiânica, está profetizado que (Yeshayáhu
40:5), "… a glória de D’us será revelada,
e toda a carne verá junta que a boca do Eterno falou." Como
uma preparação para a revelação messiânica,
haverá uma explosão na descoberta científica, revelando
a verdade da sabedoria esotérica da Torá.
De fato, as descobertas nas ciências naturais tem jogado uma nova
luz sobre as maravilhas da criação e a tendência moderna
tem sido rumo ao reconhecimento da unidade permeando a natureza. De fato,
a cada avanço da ciência, a unidade subjacente no mundo físico
tem se tornado mais claramente perceptível; a tal ponto, que a
ciência está agora procurando a fórmula ideal que
englobará todos os fenômenos do mundo físico em uma
única equação abrangente.
Com um pouco mais de percepção, pode ser visto que a unidade
na natureza é o reflexo do verdadeiro monoteísmo em seu
conceito judaico. Pois, como os judeus concebem o monoteísmo, não
é apenas a crença de que há um único D’us,
mas que a unidade de D’us transcende também o mundo físico,
de modo que há apenas uma única realidade, ou seja, D’us.
De fato, o princípio da unidade é a essência do Judaísmo
– pois Avraham primeiro proclamou o monoteísmo num mundo
de idolatria – que atingiu a plenitude na revelação
no Monte Sinai. Pois o verdadeiro monoteísmo, como professado por
nós, não é somente a verdade de que há apenas
um único D’us e ninguém como Ele, mas que não
há "nada além d’Ele" (Ein Od); ou seja,
a negação da existência de qualquer realidade, exceto
D’us, a negação do pluralismo e dualismo, até
mesmo da separação entre o material e o espiritual.
Como foi notado previamente, quanto mais avançam as ciências
físicas, mais a pessoa se aproxima do princípio de unidade,
até mesmo no mundo material. Antes, era a opinião aceita
que a pluralidade e o composto no mundo material seriam reduzidos a algumas
centenas de elementos e entidades básicos, e as forças e
leis físicas foram consideradas como sendo separadas e independentes,
para não mencionar a dicotomia entre a matéria e a energia.
No entanto, nos anos recentes, com o avanço da ciência, os
elementos básicos foram reduzidos a diversos maus componentes elementares
dos átomos – elétrons, prótons e nêutrons
– e mesmo esses foram imediatamente qualificados como não
sendo os supremos "blocos" de matéria, até que
se descobriu que a matéria e a energia eram redutíveis e
conversíveis uma na outra.
É bem conhecido que o Báal Shem Tov ensinou, e Rabi Shneur
Zalman de Liadi explicou e ampliou, que cada detalhe na experiência
humana é uma instrução no serviço do homem
a D’us. Assim, aquilo que foi dito acima sobre o avanço da
ciência exemplifica também o progresso do avanço humano
no serviço de D’us. O homem possui dois elementos aparentemente
contraditórios, não menos compatíveis que a incompatibilidade
da matéria e espírito, cuja contrapartida no mundo físico
é matéria e energia, ou seja, a alma Divina e a alma animalesca.
Ou, num nível inferior, o yetser tov (boa inclinação)
e o yetser hará (má inclinação). Porém
esta incompatibilidade é evidente apenas no estágio infantil
de progresso no serviço Divino, comparado à pluralidade
dos elementos e forças que se presumia existir na natureza física.
Assim como a apreciação da unidade subjacente da natureza
cresceu com o avanço da ciência, também a perfeição
no serviço Divino leva à percepção da unidade
essencial na natureza humana, a tal ponto que o yetser tov e o yetser
hará se tornam um só, através da transformação
do yetser hará em yetser tov, pois caso contrário, obviamente,
não pode haver unidade e harmonia, pois tudo que é sagrado,
positivo e criativo não pode viver em paz e ser subserviente àquilo
que é profano, negativo e destrutivo.
E nesta unidade conquistada o judeu proclama: "Ouve, ó Israel,
o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um." Isto é
também o que nossos Sábios quiseram dizer quando falaram
que as palavras "E amarás o Eterno teu D’us de todo
o coração" (as palavras logo em seguida ao Shemá)
significam: amar a D’us com tuas duas inclinações,
o yetser hará e o yetser tov.
Conclusão:
A intenção deste artigo não é fazer aspersões
sobre a ciência ou desacreditar o método científico.
A ciência não pode agir a menos que aceite certas teorias
ou hipóteses, mesmo que não possam ser verificadas, embora
algumas teorias continuem a existir mesmo quando são cientificamente
refutadas ou desacreditadas. Nenhum progresso técnico seria possível,
a menos que determinadas leis físicas sejam aceitas, embora não
haja garantias de que a lei se repetirá. No entanto, a ciência
apenas pode lidar com teorias, não com certezas. Todas as conclusões
científicas ou generalizações apenas podem ser prováveis
em maior ou menor grau, segundo as precauções tomadas no
uso das provas disponíveis, e o grau de probabilidade necessariamente
decresce com a distância dos fatos empíricos ou com o aumento
das variáveis desconhecidas, etc. Tendo isso em mente, a pessoa
perceberá que não pode haver um verdadeiro conflito entre
qualquer teoria científica e a Torá. Pelo contrário,
uma cuidadosa análise das descobertas da ciência moderna
e do seu significado filosófico mostra uma convergência e
harmonia da ciência com a Torá.
Muitos judeus atualmente se tornaram alienados da Torá e do estilo
de vida judaico por causa do enorme, quase hipnótico, efeito de
uma ciência aparentemente onipotente. Milhares justificam este secularismo
pelo "fato" de que são "mais esclarecidos"
que as gerações passadas. Muitos no campo religioso preferem
ignorar (ou banir) a discussão do desenvolvimento da ciência
e tecnologia, ou ajustar a Torá ao pensamento moderno. Na verdade,
nenhuma atitude merece crédito.
A abordagem correta é que não há motivo para o judeu
observante de Torá ficar intimidado pela explosão da ciência
e tecnologia, ou para tomar uma atitude apologética. Ele deveria
sempre ter em mente o dito do Zôhar (vol. I pág. 161b): "D’us
olhou na Torá e criou o mundo." Isso significa que a Torá
é o projeto da criação, e o produto final (o universo)
não pode contradizer o projeto (a Torá) pela qual foi projetado.
Por definição, a Torá é a sabedoria Divina.
Portanto, a Torá é a suprema e única fonte da verdade,
completa e definitiva, o conhecimento sobre tudo, incluindo os objetos
e os fenômenos que a ciência examina. O conhecimento da Torá
brota de uma perspectiva "do Alto", ao passo que o conhecimento
científico, obtido pela processamento racional de informação
empírica, se origina "de baixo".
Por fim, estas fontes irão convergir. Podemos esperar ansiosamente
a Era Messiânica na qual a ciência, que em si é neutra,
será elevada para servir a propósitos sagrados. Um maior
desenvolvimento e análise científica nos ajudará
a compreender os conceitos da Torá.
A tecnologia levará o mundo a uma situação na qual,
como Maimônides descreve a Era Messiânica, "não
haverá fome nem guerra, inveja ou competição, pois
as coisas boas fluirão em abundância e todos os deleites
estarão tão disponíveis quanto o pó. A ocupação
do mundo inteiro será somente conhecer a D’us."
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