índice
  A História de Stacey
 
Anônimo
  “Preocupar-se não esvazia o amanhã de seus problemas, esvazia o hoje de sua força” – frase que vi numa placa na casa de alguém.

“É a economia, idiota.”

Nos dias de hoje, é só isso que se ouve. Os números e relatórios sombrios não param de chegar. Todo dia ouço falar de mais um membro da comunidade que perdeu o emprego, ou teve uma redução no salário. Outros estão raspando o tacho apenas para seguir em frente. Estamos realmente vivendo tempos difíceis. Como líder espiritual de meus constituintes, sou convocado constantemente para ajudar pessoas em necessidade.

Agora, para não ser mal entendido: prezo meu papel como líder espiritual para alguns e ombro amigo ou conselheiro para outros. Com tantos fardos, porém, alguns parecem não ver a luz do dia.

Veja você, ao contrário do que se acreditava e se dizia má mídia, Chabad é uma organização financeiramente descentralizada. Na verdade comemoramos este fato. Isso promove criatividade, competição sadia e permite que o sistema de mercado livre funcione; e cria o melhor sistema de contatos judaicos que jamais existiu. Esse sistema descentralizado força cada centro Chabad a gerar os próprios fundos para operar, crescer e expandir suas atividades e operações – e ao mesmo tempo alimenta e veste as crianças, entre as muitas despesas.

Portanto vez ou outra me vejo dando os conselhos inteligentes dos sábios a um membro, enquanto internamente estou lutando a mesma batalha. Meu senhorio deseja renovar o aluguel com taxas justas de mercado, porém aquelas taxas são mais do que podemos pagar, devido aos acontecimentos e aos níveis atuais de contribuição. Portanto estou rezando para outra pessoa e com frequência falando também comigo mesmo.

Recentemente, falei por telefone com um doador que em tom de desculpa informou-me que sua contribuição costumeira dos últimos anos seria suspensa por tempo indefinido. Dois filhos na faculdade, sua renda diminuindo, simplesmente não havia lugar para “extras”. E Chabad, para ele, aparentemente era um “extra”. Um momento depois atendi outro telefonema de um indivíduo que queria falar sobre o emprego que perdera e do fato de que não podia suportar a pressão da família, das contas, sem saber o que o futuro lhe reservava.

Como posso inspirá-lo, se eu mesmo não estou inspirado? Como posso responder se eu próprio luto com a mesma questão? Também não sei o que o futuro me reserva…

Disse a ele que não sei o que o futuro reserva, mas tenho algo que posso partilhar.

Falei comigo mesmo que direi a ele aquilo que deveria estar dizendo para eu próprio. Para ajudar-me, tenho em meu escritório diferentes mensagens e cartas de inspiração escritas por diversos mestres chassídicos, as quais consulto em momentos de fraqueza, apoiando-me nelas e ali buscando inspiração. Meus comentários para este indivíduo vieram dessas mensagens.

“De que vale a fé se você sabe que tudo estará bem?” perguntei a ele. “É preciso sabedoria e força para fazer um investimento se você sabe que as ações subirão?” (Tudo bem, sei que este é um mau exemplo para os tempos atuais, mas você sabe o que quero dizer.) “É um desafio amar e D’us e ter fé n’Ele quando seu emprego é seguro e as contas estão todas pagas e há dinheiro na conta?

“A definição da palavra fé,” continuei, “é confiar em alguém ou em algo, especialmente sem uma prova lógica.” Se tivéssemos a prova de que tudo daria certo, bem então seria muito fácil! É quando as coisas não vão bem que precisamos cavar realmente fundo dentro de nós mesmos para encontrar aquela fé e a confiança essenciais em D’us, de que Ele não somente fará tudo dar certo para nós, mas que Ele fará tudo caminhar bem para nós.”

Conheço a família deste homem e disse a ele para olhar o que está dando certo em sua vida. Sua família é saudável, ele tem casa própria. Perdeu o emprego algumas vezes no passado, antes que a economia estivesse em crise, e teve a sorte de não ficar desempregado por um longo tempo.

Falei até algo mais intenso, transmitindo a ele todo o conceito chassídico de que pensamentos positivos realmente atraem novos reservatórios de energia Divina e bênçãos, e como ele pode melhorar sua situação sendo positivo e não desmoronando, mas “mantendo a fé”.

Concluímos a conversa e então voltei-me para mim mesmo e perguntei: “Você acredita naquilo que acaba de dizer?”

“Sim,” respondi.

“Bem, então,” continuei, “você sabe como é difícil para você encontrar verdadeiro consolo em toda a “sabedoria” que está distribuindo. Talvez você precise encontrar mais empatia por este indivíduo. Você tem tanto conhecimento e informação e ainda está lutando para ter fé nestes tempos difíceis. Imagine agora os outros, que não têm anos de educação em yeshivá e uma infância com criação saturada de espiritualidade – muito mais estes devem batalhar para encontrar a D’us e Sua bondade em tempos como esse?”

Não, você ainda não precisa chamar as autoridades; não estou ouvindo vozes e fazendo excessivos solilóquios. No entanto, vale a pena notar que enquanto nós de Chabad somos maravilhosos – para mim, pelo menos… - rezamos e inspiramos e acreditamos em cada palavra que dizemos, somos humanos também e temos os mesmos conflitos e temores que qualquer pessoa tem.

Ficamos firmes, talvez porque temos isso imbuído em nossa psique – como alunos do Rebe, estudantes da Filosofia Chabad e dos ensinamentos chassídicos – que talvez a melhor maneira de lidar com o medo daquilo que não podemos controlar é controlar as coisas que podemos. Ou seja, fazer o que é certo, ajudar outro judeu, não se sentir mal ou deprimido, mas ser proativo e produtivo.

E quando a noite vier e você estiver na quietude de seu lar e com seus temores, e realmente precisar encontrar a sua fé, sempre pode parar por alguns minutos e anotar seus pensamentos e talvez inspirar mais alguém, da mesma maneira que inspira a si mesmo.
     
top