Confiança

 
índice
 
Por Sara Chana Radcliffe
 

Segurança. Confiança. Elevada autoestima. Por que toda mãe espera que seu filho tenha essas características? Porque toda mãe deseja que o filho se sinta bem e realize coisas boas. Aquelas pessoas que sofrem de insegurança e falta de autoconfiança não apenas sentem ansiedade e sofrem, mas são refreadas pela sua hesitação, às vezes até incapacitadas por ela. Pode falhar na conquista de qualquer coisa de valor, deixando de marcar seu lugar neste mundo. É preciso confiança para tomar a iniciativa, assumir riscos, inovar e fazer uma diferença. É preciso confiança para realizar o próprio potencial. É claro que para as crianças é importante ter essa qualidade, mas há um detalhe: e se a mãe não a tem? E se ela for insegura?

Shifra é uma mãe desejosa de que seus filhos sejam fortes e realizadores. Ela anseia para que eles sejam populares e realizados, pareçam ótimos e tirem notas altas. Na verdade, ela tem todos os tipos de ambições para cada um. O único problema é que tudo isso vem da própria insegurança de Shifra. Seus irmãos são altamente realizados, e seus filhos muito bem-sucedidos; Shifra não deseja que sua família fique para trás, não somente por eles mesmos, mas também por ela. Se os filhos forem apenas médios, ela vai se sentir um fracasso. Portanto, ela dá duro com os filhos. “Se os seus primos conseguem fazer, vocês também podem,” ela diz a eles quando desejam relaxar. Shifra os faz trabalhar duro com tutores e professores, treinadores e mentores. Eles se ressentem com isso. Ainda são jovens, e não são ambiciosos. E, como a maioria das crianças, conseguem ler entre as linhas. Sentem o espírito competitivo da mãe e sua necessidade desesperada de que eles brilhem. Não querem ser exibidos; querem apenas ser aceitos e amados pelo que são.

Certa noite, Shifra tem um sonho vívido. Ela vê suas sobrinhas e sobrinhos em fila, recebendo prêmios e recompensas pelas suas realizações. Vê seus irmãos estourando de orgulho, e muitos estranhos oferecendo congratulações às famílias. Ela está de pé ali ao lado com os próprios filhos, em roupas comuns, brincando no chão. Alguém pergunta se os filhos dela também estarão recebendo prêmios. Shifra sorri e diz: “Não. Eles estão felizes como são – você pode ver por si mesmo.”

Então acorda e sente-se muito perturbada pelo seu sonho. Na vida real, ela ficaria mortificada se seus filhos ficassem fora do círculo de honra. E apesar disso, no sonho, ela parecia relaxada e calma, e os filhos estavam felizes. Na verdade, Shifra notou que nunca esteve relaxada assim; está sempre ansiosa, insistente, sentindo-se insegura e ameaçada. De repente sente-se exausta com aquilo tudo. Talvez não valha a pena. Talvez ela consiga sair daquela roda viva, e deixar de ser tão rigorosa. Que alívio seria! Mas como poderia fazer isto? Como poderia admitir para si mesma e sua família que ela e os filhos são apenas pessoas normais? Seria como dizer aos seus irmãos: “Eu desisto. Admito. Eu e meus filhos somos imperfeitos. Vocês são os vencedores, os superiores.”

Mas então, algo estranho aconteceu. Quanto mais Shifra pensava sobre a derrota humilhante, menos aquilo parecia importante. “Tudo bem, então é assim. E agora não temos mais de tentar tanto.” Ela começou a se sentir mais relaxada, mais confiante em sua nova postura. “Sim, aí está: sou uma pessoa normal com filhos normais, Não somos excepcionais.” Ela ficou repetindo a ideia, gostando cada vez mais, sentindo-se cada vez mais à vontade com ela, e mais certa daquela verdade. Ficou com aquilo na mente durante dias, até finalmente entender a ironia da sua experiência: ela estava realmente se sentindo confiante pela primeira vez. Estava experimentando as inevitáveis consequências da auto-aceitação: autoconfiança e segurança interior! Eram estas as exatas sensações pelas quais tinha ansiado a vida inteira – aquelas que queria desesperadamente que seus filhos tivessem.

Não entenda mal: Shifra não era uma pessoa inadequada. Nem estava abrindo mão de si mesma ou de seus filhos. Ela simplesmente entendeu que poderia ser ela própria, e que era bom ser como era. Quando deixou de querer ser como seus irmãos, e parou de tentar que seus filhos fossem como seus sobrinhos e sobrinhas, ela finalmente pode valorizar a si mesma e sua família, com suas forças e belezas únicas. “Talvez não ganhemos o prêmio na competição de natação, mas somos pessoas amorosas que trazem bondade ao mundo. Isso certamente tem valor!”

Shifra começou a sentir a verdade por trás da história de Reb Zusha. Foi um grande tsadic que era muito próximo do primeiro líder Chabad, o Alter Rebe. Ele nos ensinou a não nos compararmos com outras pessoas, mas sim a nos medir com nosso próprio potencial, porque em última instância, D'us não vai nos perguntar: “Por que você não foi tão grande quanto Moshê?” mas sim: “Por que você não foi tão grande quanto poderia ter sido?”

Quando tentamos ser outra pessoa, nosso ser interior se torna estressado e pouco à vontade, como se nossa alma estivesse dizendo: Você está indo na direção errada. Por outro lado, quando somos fiéis a nós mesmos, tentando ser o melhor que podemos ser, nossa alma alegremente se expande. Ela sabe que agora estamos no caminho certo, e isso nos enche com certeza e confiança de ir além, tentar com maior empenho e conseguir mais. Todas as pessoas têm suas forças e fraquezas. Temos de usar nossos dons e forças especiais para fazer o bem neste mundo, e temos de nos esforçar continuamente para melhorar nossas falhas. Aceitar a nós mesmos é a única maneira pela qual podemos usar tanto nossas forças quanto nossas fraquezas para o crescimento espiritual. Uma enorme confiança vem a nós e nossos filhos quanto nos esforçamos para sermos nós próprios – para nos tornarmos o melhor de nós mesmos.

       
   
top