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  Por Que Um Cientista Diz a verdade?
  Por Chana Weisberg
 

“Não creio que Frankl deixou de fornecer um caminho rumo ao significado. Penso que é de certa forma uma profanação de sua mensagem. Ele escreveu um livro de psicologia, que naturalmente é um campo humanista e subjetivo, não um comentário ético ou bíblico,” disse-me uma amiga após ler meu último blog (AID) criticando a logoterapia, o método psicoterapêutico de Frankl para encontrar um significado.

Ela continuou: “Seria antiético para um terapeuta impor valores… a natureza da humanidade é ser subjetiva e felizmente é assim. Um código universal de moralidae não pode e não deveria existir!”

Minha amiga tocou num assunto interessante, e ela está em boa companhia.

Estabelecer valores de julgamentos tem sido visto por muitos psicólogos e cientistas como um afastamento ofensivo do método científico, que deve ser rechaçado a todo custo.

Segundo Thomas Harris, autor do best-seller I’m OK, You’re OK, “Algumas dessas pessoas insistem firmemente que pesquisa científica não pode ser aplicada a essa área. ‘É um julgamento de valor, portanto, não podemos examiná-lo’ - ou ‘Isto é no campo das crenças; portanto não podemos reunir dados plausíveis.’”

Valores e pesquisa científica podem – ou devem – ser misturados? Os critérios objetivos do pensamento e investigação científica devem estar sujeitos a um sistema de valores, crenças e morais que são aparentemente subjetivos?

Harris, cujo livro vendeu mais de 15 milhões de exemplares e segundo o Los Angeles Times “ajudou milhões de pessoas a encontrarem a liberdade para mudar”, argumenta que pode e deve.

“O que eles [pessoas que acham que ciência e valores não se misturam] deixam de ver é o fato de que o método científico depende totalmente de um valor moral – a confiabilidade dos repórteres de observação científica… Por que um cientista diz a verdade? Porque ele pode provar num laboratório que ele deveria?”

Harris cita Nathaniel Branden, outro membro importante da comunidade de psicólogos, o qual afirma que psiquiatras e psicólogos têm uma grave responsabilidade moral se declararem que “assuntos filosóficos e problemas morais não dizem respeito a eles, que a ciência não pode pronunciar julgamentos morais.” Aqueles que “fazem pouco das suas obrigações profissionais afirmando que um código racional de moralidade é impossível, pelo seu silêncio, dão a sanção para o assassinato espiritual.” (o itálico é meu – [autora])

Pois o que motiva um psicólogo ou cientista a fazer pesquisa para tornar mosso mundo um lugar melhor? Ele não é instigado pela convicção, estritamente indemonstrável da ciência, que o universo tem um rumo?

Como pode um terapeuta querer ajudar seu paciente a lidar com seus conflitos interiores sem acreditar nas habilidades inatas de um ser humano? Frankl declara: “Se pretendemos estimular o potencial humano naquilo que ele tem de melhor, devemos primeiro acreditar na sua existência e presença. E apesar da nossa crença na potencial humanidade do homem, não devemos fechar os olhos ao fato de que seres humanos com humanidade são e provavelmente sempre permanecerão sendo uma minoria. Porém é exatamente por este motivo que cada um de nós é desafiado a juntar-se à minoria.”

De fato, na raiz do movimento existencial está a crença de que o homem tem livre arbítrio para tornar-se responsável pelas suas ações. Ao analisar a contribuição dos existencialistas à terapia, Rollo May escreve: “O homem é o ser que pode ser consciente de, e portanto responsável por, sua existência. É a capacidade de tornar-se consciente do próprio ser que distingue o ser humano dos outros seres. Binswanger fala de ‘Escolha Dasein’ isto ou aquilo, significando ‘a pessoa que é responsável pela sua existência escolhendo…

“(Medard) Boss enfatiza que uma pessoa sente culpa porque “trancou algumas potencialidades essenciais em si mesma. Portanto tem sentimentos de culpa. Se você trancar as potencialidades, é culpado contra aquilo que é dado a você em sua origem, no seu âmago.”

Estes princípios subjacentes de terapia não são valores de julgamento? Essas declarações afirmam de maneira não-científica que todo ser tem um valor intrínseco e potencialidades essenciais que, se não usadas, o indivíduo é culpado de abuso. E aquele homem é distinguido entre todas as outras criações em sua percepção da responsabilidade para consigo mesmo e com o mundo.

Se estes não fossem membros da comunidade científica, muitas dessas alegações soariam quase como aquelas originadas de moralistas religiosos.

Até Sigmund Freud, considerado por muitos como o demolidor dos ícones religiosos, fez uma declaração incomumente religiosa. Quando lhe pediram para resumir a teoria psicoanalítica em uma frase, ele respondeu em sete palavras: onde o id estava, ali o ego estará. Ou seja, a psicoanálise tenta explicar o processo onde podemos (ou não podemos) substituir escolha por impulso.

Se fôssemos resumir a força moral da Torá, seria algo notavelmente similar – não faça aquilo que tem vontade de fazer; faça aquilo que D'us quer que você faça.

E então, julgamento de valores e pesquisa científica podem ser compatíveis?

Talvez uma questão mais fundamental seja: como a ciência pode ser eficaz sem julgamentos morais e de valores em seu alicerce?

Mas então o verdadeiro dilema – que se torna sempre tão complexo – é como definir o que esta moral deveria ser.

 
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