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Não
há palavras suficientes para descrever o mal, não há
imagens gráficas, não há uma imaginação
suficientemente doentia para descrever aquilo que nossos avós,
irmãos e irmãs, filhos e filhas, bebês e crianças
ainda não-nascidas suportaram nas garras dos seus assassinos.
Seis milhões de judeus foram assassinados por um motivo e um único
motivo. Porque eram judeus. Para nossos inimigos, não importava
se o judeu era uma pessoa assimilada ou muito religiosa. Um judeu era
um judeu.
Nossos inimigos conseguiram arrancar barbas, torcer a pele, empunhar armas,
arrancar dentes e gaseificar corpos. Porém não conseguiram
penetrar nas mentes, corações, almas e espíritos.
A neshamá judaica nunca foi diminuída, apenas enfraquecida.
A
cada ano que passa, devemos relembrar o horror, e como o nosso
povo morreu. Porém o mais importante, devemos nos lembrar
como eles viveram.
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Porém o mais
notável, talvez miraculoso, é que havia judeus que se apegavam
à Torá – o código moral e legal que tem orientado
nossa vida desde o Sinai – durante toda a sua provação.
Nos guetos, nos campos de concentração, nas marchas rumo
à morte, eles continuaram a consultar a Torá em busca de
orientação, fazer perguntas aos seus rabinos e líderes
espirituais. Do prático ao moral e ao filosófico, as perguntas
demonstram a fé que aqueles mártires tinham no seu Criador,
e a que ponto desejavam cumprir Sua vontade.
A maioria das perguntas
e respostas nunca foi registrada, e sobre o que elas eram, praticamente
tudo isso ficou perdido nos escombros e nas cinzas. Felizmente, alguns
preciosos volumes sobreviveram, e são um testemunho daquilo que
nosso povo tolerou. [Uma dessas obras é a Responsa do Holocausto,
de Rabi Ephraim Oshry.]
Soldados
alemães atormentando judeus - Olkusz, sul da Polônia
(31 de julho de 1940)
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Estes judeus se preocupavam
em saber o que deveriam ou não fazer, segundo a Torá. Quando
o mundo não fazia mais sentido, eles ainda procuravam certificar-se
de que suas ações, palavras e pensamentos eram puros e sagrados.
Quando o mundo ignorou D’us e Seus mandamentos, eles determinaram
que não o fariam.
Ao ler estas perguntas e respostas, a pessoa fica abalada pela sensibilidade,
o carinho e a consideração sobre cada uma. Mas talvez ainda
mais notável que as respostas em si seja o próprio fato
de que as perguntas nunca foram feitas, e a maneira pela qual estas almas
preciosas parecem não ver nada de "heróico" no
fato de as estarem fazendo, considerando-se simplesmente judeus vivendo
como judeus.
Uma mulher no gueto que tinha acabado de dar à luz queria saber
se poderia circuncidar seu bebê antes do oitavo dia, pois ela temia
que ele não vivesse sequer uma semana. Esta mãe amorosa
desejava assegurar que pelo menos ele morreria como um judeu circuncidado.
As pessoas perguntavam se deveriam ou não recitar bênçãos
sobre os alimentos quando a comida não era casher, ou se poderiam
recitar as preces matinais antes do nascer do sol, pois esta seria a única
hora em que não seriam notadas.
Um homem muito doente foi avisado que estava fraco demais para jejuar
em Yom Kipur, e portanto proibido de fazê-lo segundo a Lei da Torá.
Ele implorou para saber se mesmo assim poderia abster-se de comer. Embora
tivesse sido não-observante durante toda a vida, ele queria morrer
sabendo que tinha jejuado em seu último Yom Kipur.
Judeus
do Gueto de Lublin sendo levados aos trens
para serem deportados para Sobibor, o campo da morte (1942) |
Um pai queria saber
se poderia salvar seu único filho, selecionado para a morte certa,
por meio de suborno, sabendo que caso seu filho fosse salvo, outro morreria
em seu lugar.
Uma mãe perguntou se poderia matar seu bebê de maneira indolor,
pois no dia seguinte eles viriam pegar todas as crianças, e talvez
atirassem sua filha de três meses de um telhado ou então
diretamente no fogo.
Havia judeus que perguntavam as frases certas, e depois praticavam
cuidadosamente a bênção que é recitada quando
alguém está sendo assassinado al kidush Hashem, pela santificação
do nome de D’us.
Estas questões não foram respondidas com base em opiniões
ou sentimentos pessoais. Estes judeus queriam saber o que a lei da Torá
tinha a dizer sobre estes temas, e era obrigação dos rabinos
encontrar as respostas. Esta não era a primeira vez que estas perguntas
tinham sido feitas ou respondidas. Somos um povo que sabe muito sobre
sofrimento e perseguição. E somos um povo que sempre quis
fazer aquilo que é certo, o que é sagrado, independentemente
das circunstâncias.
A cada ano que passa, devemos relembrar o horror, e como o nosso povo
morreu. Porém o mais importante, devemos nos lembrar como eles
viveram. E ao fazê-lo, honramos a dignidade, o poder e a fé
que estes judeus tiveram. A coragem da fé é muito mais poderosa
do que a covardia do ódio.
Nossos inimigos tentaram nos tornar untermenschen – sub-humanos.
Tentaram nos aniquilar, livrar o mundo dos judeus. Mas eles não
sabiam com quem estavam lidando. Não sabiam o que significa ser
judeu. Pois o judeu não é aquele que meramente se esforça
para ser humano. O judeu é aquele que se esforça para ser
Divino. E isso nunca, nunca, pode ser destruído.
Sara Esther Crispe
é escritora, conferencista inspirada e mãe de quatro filhos.
Ela e o marido, Eabi Asher Crispe, atualmente são eruditos-residentes
no Chabad do Sudoeste da Flórida. |