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  O Dilema de um Banqueiro no Shabat
 
Por Dovid Zaklikowski
  Os judeus de Karlsruhe, na Alemanha, receberam o direito de viver como cidadãos e em condições relativamente pacíficas a partir do final do Século 17. A comunidade judaica então prosperou nessa cidade, localizada às margens do Rio Reno e a curta distância da França.

Shmuel Straus, um banqueiro nessa cidade, tinha uma vida feliz, livre para passar seu tempo extra criando os filhos, fazendo boas ações e estudando Torá na sua vasta biblioteca repleta de livros judaicos. Shmuel ganhava apenas o suficiente para sustentar a família sem preocupações. Era conhecido como um homem temente a D'us e fazia todos os seus negócios honestamente.

O primeiro empreendimento de Shmuel foi dirigir um pequeno banco, dado a ele por seu sogro logo após o casamento. Com uma permissão do governo, Shmuel fazia câmbio de moedas e investia dinheiro para as pessoas. Ele possuía um casaco especial com dois bolsos grandes; num deles colocava os documentos daquilo que tinha a receber e no outro dinheiro vivo.

Numa sexta-feira pela manhã, antes de ir para o brit, circuncisão ritual do filho de um amigo, ele vestiu o casaco que costumava no Shabat, feriados e ocasiões especiais, e transferiu os maços de notas que geralmente mantinha em outro casaco. Após a celebração, ele seguiu seu caminho para o trabalho como de costume, trocando dinheiro e aceitando pagamentos.

Ao meio-dia, parou de trabalhar para ajudar em casa nos preparativos para o sagrado Shabat. Depois que sua mulher acendeu as velas do Shabat, ele colocou seu casaco do Shabat, despediu-se da mulher e dos filhos pequenos e dirigiu-se à sinagoga, para as preces da noite de sexta-feira.

O Shabat era um dia especial para Shmuel, e ele o passava em prece, estudando e ficando com a família. Para a refeição sempre tinham muitos convidados. Aquele Shabat não foi diferente. Enquanto caminhava de volta da sinagoga para casa, aproveitava o tempo para pensar sobre as palavras de Torá que diria à mesa. Os convidados logo chegariam com suas famílias à casa de Shmuel.

Sentou-se num banco ao lado da avenida enquanto organizava seus pensamentos, quando de repente percebeu que os bolsos ainda estavam repletos de maços de dinheiro provenientes dos negócios daquele dia.

Criado na tradição de “não carregar no Shabat” – não transferir de um domínio privado (sua casa) para o domínio público (as ruas da cidade), ou vice versa, Shmuel gelou: não podia tolerar a ideia de usar dinheiro que tinha levado para casa no Shabat.

Sentado ali na rua deserta, ele de repente pensou sobre a alegria que teria ao saber que fizera a coisa certa, e rapidamente desabotoou o casaco, jogando as carteiras no chão. Uma sensação de alívio o envolveu. Ele sabia que teria de pagar muitas dívidas, e que seu futuro era incerto. No entanto, sua confiança em D'us lhe permitiu tomar uma decisão que sabia estar correta.

Aquele Shabat foi muito alegre para ele. Sentia que tinha passado no grande teste que D'us colocara em seu caminho, e tinha vencido brilhantemente. Seu júbilo adicional era um mistério para sua família e para os convidados que tinham tomado parte no jantar.

Quando o sol se pôs e as estrelas surgiram, Shmuel recitou a prece especial sobre o vinho na Havdalá, cerimônia que é realizada na conclusão do Shabat. Sua esposa acendeu a vela especial e a família passou o bessamim, fragrância especial, para tranquilizar a alma na despedida do lindo Shabat.

Após recitar a bênção após o vinho, Shmuel contou à família o que tinha ocorrido na sexta-feira à noite, revelando assim os motivos para o alegre Shabat. Ele contou também que aquele poderia ser o início de uma vida mais difícil. Sua esposa aceitou a vontade de D'us e assegurou à família que tudo correria bem.

Na mesma noite, Shmuel decidiu examinar o caminho que tinha feito, esperando encontrar as carteiras que tinha jogado. Quando Shmuel abriu a porta de sua casa, a família deu um suspiro de alívio, pois as carteiras estavam intactas com todo o dinheiro dentro.

Poucos dias depois, o Ministro das Finanças da região de Baden ouviu falar sobre o confiável Banco Straus, e entregou a Shmuel uma enorme soma de dinheiro. O investimento no banco aumentou e muitas pessoas abastadas investiram sua fortuna com Shmuel.

Hoje, o legado de Shmuel continua vivo em Jerusalém, onde o Pátio Straus, um local de estudo de Torá, leva o seu nome. Seus filhos venderam Straus&Company em 1938 quando fugiram da Alemanha e se estabeleceram na Califórnia.
     
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