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A Arte de D'us

  Por Levi Brackman
 

É impressionante como se encontra frequentemente respostas a perguntas antigas nos lugares mais inesperados. Num domingo, visitei a Tate Modern em Londres, uma famosa galeria de arte moderna. Algumas das peças em exibição são realmente notáveis. Enquanto eu estava admirando a arte, ocorreu-me um simples fato: enquanto a arte foi outrora o retrato sobre tela de uma situação da vida real, a arte moderna se esforça para transmitir os pensamentos e a imaginação do artista de maneira mais direta. Isso é o que realmente me fascina nesse gênero de arte: é uma janela para a mente de outras pessoas.

Para a maioria, o único meio de comunicação é a fala. Porém, a fala nunca pode comunicar a total profundidade daquilo que alguém gostaria de partilhar; inevitavelmente o uso diverso da linguagem cria barreiras e os limites do vocabulário são restritivos. A música com frequência tem sucesso onde a linguagem falha. Em última análise, aqueles musicalmente talentosos são capazes de se comunicar através da música, que embora incapaz de transmitir ideias profundas, consegue provocar intensa emoção no ouvinte. No entanto, nem a linguagem nem a música têm a capacidade de retratar os pensamentos, sensações e imaginação do comunicador até o ponto em que a arte, em particular a arte moderna, consegue.

Um artista que retrata uma vista cênica o faz sob um ponto de vista subjetivo, reproduzindo a cena o mais próximo possível da realidade. Na arte moderna, em vez de reproduzir aquilo que eles veem fora de si mesmos, os artistas retratam aquilo que veem com os olhos da mente. Portanto o resultado pode parecer enganador ao leigo. A verdade é, porém, que quando os artistas revelam seus verdadeiros pensamentos pessoais e a imaginação para o público o resultado é muito poderoso. Não é sempre que podemos ler os pensamentos de outra pessoa de maneira tão direta.

Baseada no Gênesis, a Cabalá ensina que D'us criou o mundo usando o poder da fala. Segundo os cabalistas é este poder que sustenta perpetuamente o universo, exceto no Shabat quando D'us parou de criar. Isso é interpretado para significar que no sétimo dia da criação D'us não sustenta mais o mundo através da fala; em vez disso, é sustentado por meio do pensamento de D'us. Como o pensamento é uma faculdade mais elevada que a fala, o Shabat é um dia sagrado porque neste dia o mundo é sustentado por uma faculdade Divina mais elevada. Num certo sentido, no Shabat os pensamentos de D'us são revelados ao mundo.

Este conceito sempre me apresentou uma dificuldade. O sistema cabalístico é criado sobre a ideia de que D'us criou o homem à Sua imagem, portanto ao entender a natureza do homem a pessoa possa ter algum entendimento - embora bastante limitado - das obras do Criador. No ser humano, a fala é o método básico de comunicação, enquanto o pensamento geralmente é incapaz de comunicar-se sem o meio da fala. Ou assim eu acreditava.

Caminhando pelas salas do Tate Modern Museum naquela tarde de domingo, algo me atingiu: os pensamentos podem ser comunicados via arte na forma mais pura. O artista pinta a imagem exata da sua imaginação, as tintas e a tela colocando poucos limites na comunicação do pensamento do artista.

O mundo é um quadro e D'us é o artista. Durante a semana percebemos o mundo de maneira subjetiva, e o artista Divino nem sempre é perceptível de imediato através de Sua obra. No Shabat, porém, quando somos encarregados com a responsabilidade de entrarmos numa atmosfera onde vemos o mundo totalmente como um reflexo de D'us, o mundo pode ser visto como uma manifestação de Seus pensamentos imaginativos. Neste sentido, D'us é o protótipo do artista moderno, o universo é Sua galeria, e no Shabat ela está aberta ao público.

 

 

       
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