Publicado em17 de junho, no The Times, de Londres
Reproduzido com permissão do jornalista
Osias Wurman, da Rua Judaica e Cônsul Honorário de Israel
no Rio de janeiro
Há muito tempo está fora de moda na Europa falar em favor
de Israel. Em seqüência ao recente incidente a bordo de um
navio cheio de ativistas anti-Israel no Mediterrâneo, é
difícil pensar em uma causa mais impopular para lutar.
Em um mundo ideal, a intervenção do exército israelense
sobre o Mavi Marmara não teria terminado com nove mortos e alguns
feridos. Em um mundo ideal, os soldados teriam sido recebidos de forma
pacifica no navio. Em um mundo ideal, nenhum Estado, muito menos um
aliado recente de Israel, como a Turquia, teria promovido e organizado
uma flotilha, cujo único propósito era criar uma situação
impossível para Israel, fazendo-o escolher entre desistir de
sua segurança e do bloqueio naval, ou incitar a ira mundial.
Em nossas relações com Israel, devemos deixar para trás
a raiva que muitas vezes desvirtua o nosso julgamento. Uma abordagem
razoável e equilibrada deve encapsular as seguintes realidades:
primeiro, o Estado de Israel foi criado por uma decisão da ONU.
Sua legitimidade, portanto, não deve entrar em questão.
Israel é um país com instituições democráticas
profundamente enraizadas. É uma sociedade dinâmica e aberta,
que tem repetidamente se destacado nos campos da cultura, ciência
e tecnologia. Em segundo lugar, devido às suas raízes,
história e valores, Israel é uma nação de
pleno direito ocidental. Na verdade, é uma nação
ocidental normal, porém diante de circunstâncias atípicas.
Infelizmente, no Ocidente, Israel é a única democracia
cuja existência tem sido questionada desde a sua criação.
Em primeira instância, foi atacado por seus vizinhos que usavam
armas convencionais de guerra. Em seguida, enfrentou o terrorismo que
culminou com uma seqüência de ataques suicidas. Agora, a
pedido de radicais islâmicos e seus simpatizantes, enfrenta uma
campanha de deslegitimação através do direito internacional
e diplomacia.
Sessenta e dois anos após sua criação, Israel ainda
está lutando por sua sobrevivência. Punido com chuvas de
mísseis que caem no norte e sul, ameaçado de destruição
por um Irã que tem o objetivo de adquirir armas nucleares, e
pressionado por amigos e adversários, Israel, ao que parece,
nunca pode ter um momento de paz.
Durante anos, o foco de atenção do Ocidente tem sido,
compreensivelmente, voltado ao processo de paz entre israelenses e palestinos.
Mas se Israel está em perigo hoje e toda a região está
deslizando rumo a um futuro preocupante e problemático, não
é devido à falta de entendimento entre as partes sobre
como resolver este conflito. Os parâmetros de um acordo de paz
em perspectiva são claros, por mais difícil que possa
parecer para os dois lados dar o passo decisivo para sua implementação.
As verdadeiras ameaças à estabilidade regional, no entanto,
encontram-se no surgimento do radicalismo islâmico que vê
a destruição de Israel como o cumprimento de seu destino
religioso e, simultaneamente, no caso do Irã, como uma expressão
de suas ambições à hegemonia regional. Ambos os
fenômenos são ameaças que afetam não só
Israel, mas também toda a Comunidade Internacional.
O núcleo do problema reside na maneira ambígua, e muitas
vezes errônea, em que muitos países ocidentais estão
reagindo a esta situação. É fácil culpar
Israel por todos os males do Oriente Médio. Alguns até
agem e falam como se um novo entendimento com o mundo muçulmano
poderia ser alcançado somente se estivéssemos dispostos
a sacrificar o Estado judeu. Isso seria loucura.
Israel é a nossa primeira linha de defesa em uma agitada região
que está constantemente sob o risco de cair no caos; uma região
que é vital para a segurança energética mundial
devido à nossa dependência excessiva de petróleo
do Oriente Médio; uma região que forma a linha de frente
na luta contra o extremismo. Se Israel cai, todos nós cairemos.
Para defender o direito de Israel existir em paz, dentro de fronteiras
seguras, requer um grau de clareza moral e estratégica que muitas
vezes parece ter desaparecido na Europa. Os Estados Unidos mostram sinais
preocupantes de seguirem uma posição no mesmo sentido.
O Ocidente está atravessando um período de incerteza com
relação ao futuro do mundo. No sentido amplo, esta incerteza
é causada por uma espécie de dúvida masoquista
sobre nossa própria identidade; pela regra do politicamente correto;
por um multiculturalismo que nos obriga a curva-nos diante dos outros;
e por um secularismo que, cinicamente, nos cega, mesmo quando somos
confrontados por membros do jihad promovendo a encarnação
mais fanática de sua fé. Deixar Israel a sua própria
sorte, neste momento crucial, serviria apenas para ilustrar o quanto
afundamos e como nosso declínio inexorável agora se torna
eminente.
Isto não pode acontecer. Motivado pela necessidade de reconstruir
os nossos valores ocidentais, expressando uma profunda preocupação
com a onda de agressão contra Israel, e consciente de que a força
de Israel é a nossa força e a fraqueza de Israel é
a nossa fraqueza, tomei a decisão de promover uma nova iniciativa
chamada Amigos de Israel com a ajuda de algumas personalidades, incluindo
David Trimble, Andrew Roberts, John Bolton, Alejandro Toledo (ex-presidente
do Peru), Marcello Pera (filósofo e ex-presidente do Senado italiano),
Nirenstein Fiamma (autor e político italiano), o financista Robert
Agostinelli e o intelectual católico George Weigel.
Não é nossa intenção defender qualquer política
específica ou qualquer governo israelense em particular. Os patrocinadores
desta iniciativa, com certeza, devem discordar das decisões tomadas
por Jerusalém em algumas situações. Nós
somos democratas e acreditamos na diversidade.
O que nos une, no entanto, é o nosso apoio incondicional para
o direito de Israel de existir e de se defender. Os países ocidentais
que se unem com aqueles que questionam a legitimidade de Israel, para
que estes joguem com organismos internacionais as questões vitais
de segurança de Israel, satisfazendo aqueles que se opõem
aos valores ocidentais ao invés de se levantar com firmeza em
defesa desses valores, não estão cometendo apenas um grave
erro moral, mas um erro estratégico de primeira grandeza.
Israel é uma parte fundamental do Ocidente. O Ocidente é
o que é graças às suas raízes judaico-cristãs.
Se o elemento judeu dessas raízes for retirado e perdemos Israel,
também estamos perdidos. Quer queira ou não, nosso destino
está interligado.
**Foi Primeiro-Ministro da Espanha entre 1996 e 2004.