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A cultura ocidental continua
seu experimento de trocar o amor pelo sexo, felicidade por prazer, compromisso
por relacionamentos em série, eliminando a palavra “não”
do vocabulário do desejo.
A história era tão triste quanto a manchete. Meninas têm
sido persuadidas pelo Big Brother, modelos de glamour e pela hiper-sexualização
da vida diária a se vestirem de modo chamativo muito antes de atingirem
a maturidade emocional. Elas o fazem para se tornar populares e porque
temem a rejeição se não o fizerem.
O resultado, dizem os psicólogos, tem sido um aumento nos sintomas
de perturbações emocionais, desordens alimentares e doenças
depressivas. Quanto mais as jovens se tornam obcecadas pela sua aparência,
menos vão bem nos estudos. Elas criam ambições estranhas
– 63 por cento das meninas disseram que queriam ser supermodelos
em vez de médicas ou professoras, e a quarta parte pensava que
ser dançarina de boate era uma boa profissão.
Aqui existe algo profundamente lamentável. Buscar a popularidade
através da aparência é enxergar-se como um objeto,
em vez de uma pessoa. Foi contra isso que as feministas com razão
lutaram em nome da dignidade e valor pessoal. É também parte
da morte inexorável da infância e a perda do seu espaço
protegido. Como perdemos rapidamente os ganhos pelos quais os reformadores
do Século Dezenove lutaram. Naqueles tempos seu alvo era a exploração
de crianças como trabalhadores. Hoje as crianças são
exploradas como consumidores, uma forma mais leve de escravidão,
porém mesmo assim um tipo de servidão.
A ironia é que isso foi feito em nome da liberdade. Porém
a liberdade de ser tornou-se a liberdade de comprar, que por sua vez se
transformou na tirania da moda. Portanto os anunciantes vencem, a inocência
perde, e crianças são oferecidas como sacrifícios
para a mais nova forma de idolatria.
A libido, o impulso sexual, sempre foi um dos mais poderosos determinantes
do comportamento, e é por isso que a maioria das civilizações
tentou, com maior ou menor sucesso, canalizá-la para formas construtivas
como o casamento. Uma das mais notáveis destas formas tem suas
raízes na Torá. Aquilo que é surpreendente Torá
é a maneira pela qual ela reconhece candidamente a beleza e a força
do desejo físico, como na obra O Cântico dos Cânticos.
Porém algo está expresso numa forma de promessa de compromisso
mútuo, transformando o desejo em amor, e o amor num vínculo
de fidelidade e lealdade. Os heróis e heroínas da Torá
– Avraham e Sarah, Elakanah e Hannah, Ruth e Boaz – são
pessoas que se tornaram extraordinárias pela sua devoção
uma à outra.
Num ousado gesto religioso, os Profetas viram o relacionamento ideal entre
D’us e nós em termos de relacionamento entre marido e mulher.
“Eu te consagrarei para mim para sempre, eu te consagrarei para
mim em integridade e justiça, amor e compaixão, eu te consagrarei
para mim em fidelidade e tu conhecerás o Eterno,” diz D’us
através do Profeta Hosea.
A civilização é a subjugação da natureza
pela cultura. Freud a definiu como a capacidade de adiar a gratificação
do instinto. O Judaísmo, de maneira menos puritana, viu-a como
a santificação do desejo através de sua sublimação
no grande ideal de famílias, lares e comunidades construídas
sobre o amor, confiança, parentesco e responsabilidade. Por qualquer
um destes padrões, a cultura contemporânea é uma regressão
a uma forma de barbárie, branda, porém não menos
corrosiva da alma. O resultado, como disse Theodore Dalrymple, é
uma sociedade na qual os adolescentes são adultos precocemente,
e os adultos são permanentemente adolescentes.
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