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Quando
você se sente envolvido num poço fundo e escuro de desespero,
quando seu coração se sente partido em mil pedaços,
quando você simplesmente não consegue mais lutar contra os
dolorosos desafios nem mais um só momento…
Você simplesmente poderia não ter de fazê-lo. Seu momento
seguinte pode ser totalmente diferente do seu momento atual.
O filósofo Kierkegaard, que semeou as raízes da psicologia
existencial, escreveu de maneira eloquente: “Um ser, a todo instante
em que existe, está no processo de tornar-se, pois o ser…
é somente aquilo que vai se tornar.”
E apesar disso, a fonte de grande parte de nosso sofrimento é que
vemos nossas vidas de maneiras limitada, como uma foto instantânea,
acreditando que aquilo que temos agora representa como fomos e como seremos.
Porém tudo em nosso mundo continua num estado de fluxo. A cada
momento há uma enorme mudança. A mudança pode ocorrer
tão levemente que chega a ser imperceptível aos nossos olhos
e mente, mas está ocorrendo.
A mudança é incessante. Um vaso ou um móvel muda
a todo momento, mesmo que pareça permanente. Perde a cor e se torna
antigo, não de repente, mas momento a momento.
Isso é verdadeiro sobre objetos inanimados, e se aplica ainda mais
à dinâmica física, psicológica e espiritual.
A celula típica de nosso corpo morre após 100 dias ou algo
equivalente, A cada segundo, 2.5 milhões de celulas sanguíneas
nascem, e no mesmo segundo morre uma quantidade correspondente. Este ciclo
de nascimento e morte ocorre constantemente.
Nas palavras de Rollo May: “A personalidade pode ser entendida somente
como a vemos numa trajetória rumo ao seu futuro; um homem pode
entender a si mesmo somente à medida que se projeta para a frente.
Este é o corolário do fato de que a pessoa está sempre
se tornando, sempre emergindo, no futuro. O ser deve ser visto em sua
potencialidade.”
Alguns desafios não vêm e vão, mas coninuam a nos
afligir durante toda a nossa vida. Porém, mesmo então, um
novo conjunto de circunstâncias está constantemente sendo
concebido e formado, criando o processo de mudança.
William James escreve: “A grama do lado de fora da janela agora
me parece do mesmo verde quando está ao sol ou na sombra, e mesmo
assim um pintor teria de pintar uma parte em marrom escuro, outra em amarelo
brilhante para dar seu verdadeiro efeito sensacional. Não consideramos,
como uma regra, a maneira pela qual as mesmas coisas se parecem e soam
e cheiram a distâncias diferentes e sob diferentes circunstâncias.
“O mesmo objeto não pode facilmente nos dar a mesma sensação
outra vez… Cada pensamento que temos sobre um determinado fato é,
estritamente falando, único e somente tem uma semelhança
pequena com nossos outros pensamentos sobre o mesmo fato. Quando o fato
idêntico se repete, devemos pensar sobre ele de maneira nova, vê-lo
sob um ângulo um tanto diferente, e apreendê-lo em relações
diferentes daquelas nas quais apareceu da última vez.”
Em uma das narrativas mais comoventes de esperança emergindo de
dentro daquela escuridão avassaladora, a Torá registra a
primeira troca de palavras entre D'us e Moshê.
O povo judeu tinha passado pela mais severa degradação sob
a tirania dos seus opressores egípcios. D'us ordena a Moshê
que revele que Ele irá libertá-los do cativeiro. Moshê
responde perguntando o que deveria dizer em nome de D'us.
Moshê estava pedindo uma mensagem de consolo e esperança
para levar a um povo alquebrado cujo D'us aparentemente os tinha abandonado
durante as últimas décadas, deixando de ouvir seus gemidos
angustiados.
D'us responde de maneira elusiva. Moshê deveria transmitir aos escravos
judeus que o nome de D'us é “Eu serei aquele que serei.”
Por algum tempo, a escravidão se tornou pior depois da mensagem
de esperança de Moshê. Embora as sementes da redenção
estivessem semeadas, sob a perspectiva do povo, nada tinha mudado. E mesmo
assim, a situação estava mudando dramaticamente.
Talvez a mensagem de D'us ao povo extraviado seja a mensagem de D'us para
nós, em nossos momentos de angústia, que podemos conectar
a Divindade com “Eu serei aquele que serei” – o poder
de ser.
Somente quando somos capazes de perceber que ser é inseparável
de tornar-se, podemos nos libertar das amarras da servidão às
nossas ansiedades e hábitos que nos derrotam.
O presente é apenas aquilo que trouxemos de nosso passado, e aquilo
que usaremos para forjar nossos futuros imediatos. Trazer esta verdade
à nossa consciência pode nos ajudar a encontrar consolo à
medida que encontramos as provações no tempo presente de
nossa vida.
Portanto, quando as trevas parecem avassaladoras, quando a monotonia entediante
está levando você ao limite da insanidade, encontre conforto
na percepção de que nada em nosso mundo permance estático.
Não os nossos desafios atuais. Não quem nós somos.
Você, sua vida e as circunstâncias são uma parte integrante
do labirinto do plano cósmico de D'us, emergindo de novo a todo
instante.
Não existe o estático “ser”. Há somente
aquilo que fomos – e mais importante, aquilo que escolhemos nos
tornar.
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