Olhe-se no espelho e veja seu rosto.

Você sofreu uma metamorfose incrível, negligenciou tudo a que você sempre acreditou.

Você não era assim e tenho certeza que nem queria chegar na verdade tão longe e não poderia imaginar que suas atitudes lhe levariam a este estado: pálido, olheiras profundas, maçãs da face côncavas, olhar opaco, apático, perdido...

Esta moléstia, anorexia, lhe é bem familiar, e envolve todos que estão a sua volta e desejam somente seu bem estar, uma vida potencialmente saudável para ser vivida com a plenitude de sua força e juventude.

Você não é, nem de longe, o que hoje você vê refletido no espelho. Vá além de sua imagem, e busque o que está por trás dela: seus sonhos, sua fé, sua força, o amor que cerca sua vida, a certeza que você tem tantos e infindáveis objetivos. Você somente está começando a cumprir sua missão neste mundo. Não a perca de vista. Vista a sua personalidade: alimente a sua alma. Ela precisa do seu corpo.

Esta doença, anorexia, tem sido chamada por muitos nomes, tem numerosos disfarces, e na realidade, não é nada de novo. Mas ela tem cura e só depende de você e de sua fé em vencer.

A Torá fala freqüentemente a respeito dela, e há uma metáfora, precisamente para esta doença. Em Bamidbar XI somos lembrados que durante o Êxodo os filhos de Israel estavam famintos por carne. Apesar do fato de que o maná caia em abundância e podia adquirir qualquer sabor, o que eles acreditavam querer era o alimento que haviam deixado para trás no cativeiro no Egito: aves, tomates, maçãs, cebolas.

Reclamavam que suas almas estavam ficando "ressecadas". Acreditavam que, em meio à esta fartura, estavam morrendo de inanição. Então, D'us lhes deu aquilo pelo qual ansiavam, o que achavam que precisavam. Forneceu grandes quantidades de codornas, e aqueles que pensavam estar famintos comeram tanto que "enquanto a carne ainda estava entre seus dentes, antes de ser mastigada," morreram (versículo 33).

Os filhos de Israel apesar de terem tudo, é como se subitamente não tivessem mais nada. Transformaram o milagre da vida a cada dia, que caia em forma de alimento (maná) dos Céus, pela mão de D'us, em algo sem gosto (quando na verdade poderia possuir o sabor que desejassem). Isto pode ser chamado de anorexia da alma. O que precisavam estava bem ali, à sua frente, ao alcance da mão, a seus pés: nem a mais e nem a menos. E desperdiçaram a chance.

É como o espelho que reflete a imagem da negação do milagre de existirmos, de termos que cuidar de nosso corpo, alimentá-lo e sustentar com amor e agradecimento e energia nossa alma.

Você precisa encarar sua imagem esquelética refletida, esverdeada, numa pele sem brilho, quase um nada. E não lamentar, nem se penalizar, nem sentir pena de si próprio. Isto não resolve nada. Como as mitsvot, preceitos judaicos, o que vale são as ações. Você deve agora buscar tudo que deixou suspenso em um tempo que deverá ser esquecido: reagir à imagem do espelho. Tomar uma atitude séria, drástica e positiva rumo à mudança, ao seu retorno a uma vida plena.

Encare os fatos e nutra o que está secando em você. Como uma planta que foi desenraizada; plante-a novamente em solo fértil. Sua mente e seu coração serão o solo e o adubo. Lembre-se que sua vida não depende de você, depende de D'us. Mas você precisa ajudar fazendo a sua parte: cuide-se! Ele está a seu lado, torcendo para que você O busque, peça Sua ajuda, permaneça do lado Dele, Lhe agradeça por todas as bênçãos que já enviou em sua vida e continuará enviando.

Pense nos judeus no deserto; tinham tudo, como você tem tudo. D'us lhes fornecia o alimento com regularidade, sem falhar, não apenas comida mas, no ato de recolher e comer o maná, a oportunidade de agradecer, de louvar o fato de que realmente faziam parte de alguma coisa muito maior que eles mesmos. Eles não se deram conta, ou simplesmente negaram, o fato de que eram os receptáculos para as bênçãos que lhes caiam. Você é um receptáculo.

Encontre tempo para alimentar-se com um pouquinho de D'us: dedique-se mais ao estudo da Torá, recite mais um Salmo, ligue para seus colegas, aproveite para conversar e sair com seus amigos, sua família. Você abstêm-se de alimentar sua alma, mas não deve estar se esquecendo de manter a boca fechada, sempre quieto e afastado... Naturalmente, assim que ingerir um pouquinho de espiritualidade, irá perceber que precisará de mais. Você logo sentirá mais fome. Como seu corpo, nossa alma necessita de suas vitaminas, e como seu corpo, sua alma provavelmente não perceberá o quão faminta estava, até que você lhe dê ouvidos e a alimente. Seu corpo tem que estar bem alimentado para sustentar a sua alma, uma chama Divina que brilha dentro de você o tempo todo.

É assustador para as pessoas fazer coisas novas. Mudar aquilo que pensa que desejava deixa muitas pessoas realmente nervosas. Muitos estão temerosos de perderem o controle. Entre outras coisas, um anoréxico tem muito medo de que, assim que comece a comer, jamais conseguirá parar.

Peça a D'us que continue lhe mandando o maná de nossos tempos modernos. Ele cai dos céus diariamente. Nosso maná do século XXI é nosso alimento através do mérito de nossas ações diárias, mitsvot que devemos cumprir. Ao acordar, agradecer por mais um dia. O que fazemos com nosso tempo importa e muito, e faz a diferença. Nossas ações possuem o gosto que desejarmos, dependerá apenas de nós. Pense no milagre que é poder usar cada parte de seu corpo, cada órgão para fazer algo novo a cada segundo, cada minuto, cada hora de seu dia. Isto hoje é um milagre!

Empanturrar-se, sacrificar-se ou abster-se demais com qualquer coisa pode condenar qualquer um a ter que passar uma temporada de molho, em um hospital. Mas privar-se da vida sadia, é um risco muito maior. É necessário buscar um equilíbrio, não dar de ombros ou virar as costas para si mesmo. Encarar de frente os problemas fará você chegar a perceber a força para reagir; não encontrará nos outros, mas na centelha Divina que existe dentro de você. Uma força de vontade vital que transformará ambas anorexias, material e espiritual, numa fonte eterna de alimento para seu corpo e sua alma.

Quantos de nós hoje equilibramos as necessidades físicas com aquelas de nosso espírito? Por que acha que, com o alimento da Torá à mão, tantos de nós preferem permanecer famintos?

Você como judeu, tendo fé em D'us e na Torá, tem o dever de ajudar a si mesmo a sair desta. "Engordar" sua imagem, duplamente: física e espiritualmente. Quanto bem você poderá praticar e ajudar outros que estão a seu lado, lhe amam e só desejam seu bem?

Amor ao próximo, começa com amor a si mesmo. Você só pode amar os outros no momento que amar a si próprio. Comece hoje mesmo!

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