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A mais famosa declaração
jamais feita em toda a história – Os Dez Mandamentos –
começa com um palavra incomum de quatro letras : Anochi. A palavra
significa “Eu”, referindo-se a D'us – Eu o Eterno teu
D'us te tirei do Egito…” Porém “ani” é
o pronome hebraico comum para “Eu”.
O Talmud explica (Shabat 105 a) que Anochi é um acrônimo
para Ana Nafshi Ketovit. Numa tradução simples: Eu mesmo
escrevi [essas palavras e] as dei [a você]. Porém sob uma
inspeção mais cuidadosa e tradução real é
muito mais intrigante: “Eu escrevi Minha própria Alma e a
dei a você.” Ou mais poeticamente: “Minha alma está
inscrita nessas palavras que Eu dei a você.”
Como palavra inicial dos Dez Mandamentos, Anochi claramente deve encerrar
um profundo significado, que dá o tom e capta a essência
de todos os mandamentos e de toda a Torá. Na verdade, o Rebe Yossef
Yitschak enfatiza que a Torá inteira está contida nos Dez
Mandamentos; os Dez Mandamentos estão todos contidos nos primeiros
dois mandamentos, que por sua vez estão contidos no primeiro mandamento,
e o primeiro mandamento está refletido em microcosmo na primeira
palavra, Anochi. E como toda a existência se origina e está
incluída na Torá, que é o projeto com o qual o Arquiteto
cósmico construiu o universo, podemos concluir que Anochi ilumina
para nós um aspecto fundamental de toda a nossa realidade.
Anochi capta a essência e propósito de toda a existência:
para inscrever e revelar a alma em toda palavra nossa e em toda nossa
experiência.
Isso não é pouca coisa. Vivemos num universo altamente fragmentado
e compartimentalizado. A maior dicotomia é entre corpo e alma,
matéria e espírito. Porém, por baixo da superfície
fissurada uma unidade subjacente conecta todas as peças. A princípio
parecemos todos separados uns dos outros – cada um de nós
com nossa própria gama de experiências, diferentes exposições
e trajetórias de vida. Mas quando começamos a nos comunicar
uns com os outros, descobrimos traços em comum, reações
compartilhadas, interesses mútuos, que transcendem nossas diferenças.
Por mais diiversos que possamos ser, aprendemos a celebrar marcos semelhantes,
sorrir de experiências similares, derramar as mesmas lágrimas,
sofrer as mesmas dores.
A compartimentalização humana é aguda e poderosamente
expressa nas palavras de Bertrand Russel. Quando lhe indagaram como ele,
um professor de ética, podia comportar-se de maneira não-ética,
Russel disse; “Sou também um professor de matemática
e não sou um triângulo.”
Os acadêmicos com frequência se orgulham de sua isenção:
“Posso ser completamente conhecedor de um determinado tópico
e isso não afetar meu comportamento.” Contraste essa atitude
com as palavras de Maimônides, que um verdadeiro erudito é
reconhecido pelas suas ações; como ele fala, caminha, dorme
e trabalha. Um fluxo contínuo entre saber e comportamento.
Russel estava seguindo nada menos que as leis naturais de todos os seres
– “o caminho de toda carne” – que é impulsionado
e justifica a compartimentalização fundamental entre ideais
e ações. Aquilo que você ensina não é
necessariamente aquilo que faz, e vice-versa. Sua escrita não necessariamente
reflete sua alma. Maimônides, por outro lado, estava seguindo a
deixa de Anochi – integração contínua entre
alma e palavras.
A abertura dos Dez Mandamentos, Anochi, define a essência do propósito
da vida, de todas as nossas interações e todas as nossas
palavras – para manifestar a alma unificadora em nosso universo
fragmentado.
Se D'us não tivesse inscrito Sua alma nas palavras, nosso relacionamento
com o Divino comtinuaria afsatado. O mesmo se aplica ao nível humano.
Se todas as nossas interacões fossem comerciais e mundanas, jamais
teríamos uma conexão, uma verdadeira conexão, uns
com os outros.
Ao inscrever Seu espírito em Suas palavras, toda palavra, agora
imbuída com profunda espiritualidade, evocou uma tranquilidade
unificadora em toda a existência. Como o Midrash lindamente descreve
o estado do universo quando D'us falou todas essas palavras (Shemot 20:1):
Nenhum pássaro piou, nenhuma ave voou, nenhum boi mugiu, nenhum
dos anjos mexeu uma asa, o serafim não disse “Sagrado, Sagrado”,
o mar não rugiu, as criaturas não falaram, o mundo inteiro
ficou num silêncio profundo e a voz proclamou: “Eu sou D'us,
o teu D'us.”
[Cá entre nós, Dez Mandamentos não é uma tradução
acurada do original hebraico “Aseres há’Dibrot,”
que na verdade significa Dez Palavras, ou Dez Declarações.
Palavras parecem tão mais reconfortantes que mandamentos…]
Podemos também e devemos aprender isto a partir da comunicação:
para inscrever nossas almas em nossas palavras, para que cada pronunciamento
nosso se torne um canal transparente para a expressão de nossa
alma.
A verdadeira comunicação não é meramente o
processo de transmitir mensagens, ideias e sentimentos. Trata-se de um
relacionamento – uma conexão e vínculo entre as partes
se comunicando uma com a outra.
Um escritor, um orador, um compositor inscreve – grava – sua
alma em sua obra. Isso lhe permite atingir dentro da alma do leitor ou
do ouvinte. Palavras vindas do coração entram no coração.
Uma obra que careça de sinceridade e alma não causará
impacto.
Pense dessa maneira: Durante um dia comum, quantas das suas conversas
são sobre assuntos superficiais, faladas com palavras vãs?
Quantas de suas interações e transações são
experiências transitórias? Quantos de nossos desejos e anseios
são fugazes e de pouca duração?
Nossa missão – aceitar a pista de D'us imbuindo Sua alma
dentro das palavras Divinas que Ele dividiu conosco – é atingir
mais profundamente dentro de nós mesmos, revelar a alma em cada
uma de nossas experiências, até as casuais e triviais.
Imagine como as pessoas reagiriam a você se ouvissem o seu espírito
cantando em vez de o seu corpo gemendo; sua alma acenando em vez de seu
porta-voz ameaçando; suas palavras gentis em vez de exigências
agressivas.
Fale com seu coração e alma, e você também
pode trazer paz a um mundo turbulento e caótico. |