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Alef
– a diferença entre Exílio e Redenão
O Alter
Rebe, Rabi Shneur Zalman de Liadi,[1], queria ensinar o alfabeto a seu
filho. Chamou um de seus discípulos ao seu estúdio para
discutir o assunto. O Rebe disse: "Você tem uma mitsvá
e eu tenho uma mitsvá. A sua é sustentar sua família.
A minha é ensinar meu filho. Vamos trocar as mitvsot. Você
ensina meu filho, e eu pago para que você possa sustentar sua família."
O Alter Rebe continuou, explicando exatamente como suas instruções
deveriam ser cumpridas.
"Você começará com a letra alef. O que é
um alef?"
O Alter Rebe continuou melodiosamente em yidish: "A pintele fun oybin,
a pintele fun untin, a kav b’emtza- [O alef é] um ponto acima,
um ponto abaixo, e uma linha diagonal suspensa no meio."[2]
Formato
O que é um alef?
Se houvesse apenas um arranjo aleatório de golpes de pena para
fazer o leitor dizer o som "a", [3] a questão sobre o
que é um "alef" seria irrelevante. Cada aspecto da construção
do Alef foi Divinamente projetado para nos ensinar alguma coisa. Contraste
isso com uma criança aprendendo a ler Português pela primeira
vez. Ela nunca é ensinada por que um A maiúsculo
se parece com uma tenda e um a minúsculo se parece
com uma bolha de sabão.
Mas hebraico é diferente. O desenho de um alef é na verdade
feito de três letras diferentes: a letra yud ou o ponto acima; um
yud ou o ponto abaixo; e um vav diagonal, ou uma linha suspensa no meio.
O yud acima representa D’us, que está cima (ou além)
de nossa compreensão. Em comparação com Sua verdadeira
essência, nosso entendimento é um mero ponto.
O yud abaixo representa um Yid ou Yehudim – o povo judeu que habita
aqui na terra. A única maneira de podermos apreender a sabedoria
de D’us – até o ponto em que a pessoa é capaz
– é sendo humilde. Quando percebemos que somos apenas um
ponto ou um grãozinho comparados a D’us Todo Poderoso, nos
tornamos um receptáculo para receber Sua Divina sabedoria.
O vav diagonal representa a fé de um judeu, [4] que o une com D’us.
Há um outro ensinamento [5] postulando que o vav suspenso representa
a Torá. Como a Torá é o que une um judeu a D’us,
o alef representa esta unidade entre a humanidade e D’us. Este é
o desenho, ou formato, do alef.
Podemos ver que cada golpe do alef (como também de todas as outras
letras) tem um propósito especial, e que há muito mais a
aprender no alef-bet, do que simplesmente dominar seus sons.
Guematria
Toda letra do alef-bet (alfabeto hebraico) tem um valor numérico,
ou guematria. A guematria do alef é um, representando o único
(ou unidade de) D’us, como dizemos na prece "Ouve, ó
Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um."
Num nível mais complexo, explicamos que o formato do alef compreende
três letras: dois yuds e um vav. A guematria do yud é dez
– dois yuds são vinte. Um vav é seis; a soma dos três
é vinte e seis. Um dos nomes de D’us é o Nome de Quatro
letras Y-H-V-H, o Tetragrama, ou Nome Inefável. A guematria do
Yud (=10), o Hei (=5), o Vav (=6) e o Hei (=5) totaliza 26, o mesmo que
o yud-vav-yud do alef.
Através da conexão de suas respectivas guematriot, o alef
representa o Nome Inefável de D’us.
Significado
O Rebe [6] explica que o alef tem três significados diferentes.
Um é aluf, que significa mestre ou chefe. O segundo é ulfana,
uma escola de aprendizado [7] ou professor. O terceiro significado é
atingido ao se ler as letras da palavra de trás para a frente –
pela (pronunciada pelê) – maravilhosa. [8]A definição
de Aluf é "mestre". Isso deixa o mundo saber que há
um Criador; que D’us é o Mestre do universo, e que há
um Olho que vê, e um Ouvido que ouve. O universo não emergiu
simplesmente por si mesmo; há uma Força onipotente que realmente
forjou o firmamento ex-nihilo, a partir do nada criou alguma coisa. Assim,
D’us é o Aluf, o Mestre do universo.
Ulfana significa ‘escola" ou "professor". Não
apenas apresentamos D’us como Criador do universo, mas também
como o Professor de toda a humanidade. O papel de D’us como professor
é revelado com sua apresentação da Torá ao
povo judeu. A Torá, com suas 613 mitsvot ou leis, nos ensina o
que devemos fazer, e o que não devemos fazer. Através da
sabedoria Divina de Seu livro, D’us estabeleceu-Se no mundo ao nível
do supremo Professor.
Finalmente, temos o terceiro significado de alef: pelê, "maravilhoso"
que representa o nível esotérico ou místico da Torá-Cabalá
e os ensinamentos do pensamento chassídico. Conhecido como os "ensinamentos
de Mashiach", estes segredos da Torá compreendem seu nível
mais elevado.
O Báal Shem Tov entrou certa vez na câmara celestial [9]
de Mashiach e perguntou: "Mashiach, quando você virá?"
E Mashiach respondeu: "Quando os mananciais de teus ensinamentos
[os ensinamentos da Chassidut] se espalharem pelo mundo inteiro."
Assim, somente quando o nível de pelê – este nível
de maravilhoso pensamento esotérico – tiver permeado o mundo,
a chegada de Mashiach será iminente.
Isso pode também estar conectado a um conceito fundamental no Talmud.
O Talmud nos diz [10] que D’us criou o mundo para existir por 6.000
anos [11]. Os primeiros dois mil anos são chamados Tohu, ou caos.
A isso se seguiram dois mil anos de Torá. E os últimos dois
mil anos são os dias de Mashiach.
O que isso significa?
Rashi explica que os primeiros dois mil anos começaram com o primeiro
homem, Adam. Isso corresponde ao primeiro significado da letra alef: aluf-mestre
– pois o Midrash declara que Adam fez com que todos os animais e
feras se curvassem perante D’us, dessa maneira reconhecendo-O como
Mestre e Criador do universo. No entanto, aquela era foi classificada
como caos, porque a Torá ainda não havia sido revelada.
Os segundos dois mil anos, continua Rashi, começam com Avraham,
que introduziu a Torá. Como declara o Talmud, [12] Avraham aprendeu
e cumpriu a Torá muito antes de esta ser fisicamente outorgada
ao povo judeu no Monte Sinai. Sua aceitação da palavra de
D’us inaugurou a era da Torá – e assim o segundo significado
da palavra alef-ulfana, ou ensinamento.
O período final de dois mil anos é considerado os dias de
Mashiach; o conceito de Pelê. Esta era assombrosa tem o potencial
de introduzir paz e tranqüilidade ao mundo inteiro. Aqui, neste nível
final de alef, um ensinamento do Báal Shem Tov ilumina um ponto
interessante. O Alter Rebe sugere que a diferença entre as palavras
gola (exílio) e gueulá (redenção) é
a presença do alef. [13] Se um alef for inserido na palavra gola/exílio,
o exílio é elevado e transformado em gueulá/redenção.
Assim os últimos dois mil anos da Criação, a era
de Mashiach, são representados pelo alef. Tendo recebido o alef,
o povo judeu pode se mudar do exílio para a redenção.
Os estágios de D’us como Mestre do universo e como Professor
desabrocham nos dias de Mashiach, quando D’us será revelado
num nível maravilhoso. Tudo isso está contido na letra alef.
Notas:
1. 1812. O Primeiro Rebe, líder do Movimento Chabad-Lubavitch
2. HaYom Yom, 8 de Adar I. Editora Kehot, Brooklyn, NY, 1994; Veja também
Likkutei Sichos, vol. 2, p. 616, Vaad L'Hafotzas Sichos, NY.
3. O alef é na verdade uma letra cujo som é determinado somente
quando acompanhada por uma vogal
4. A linha vertical do vav representa hierarquicamente: a submissão
de um súdito a seu Rei
5. Veja em Likkutei Sichos, vol. 2, p. 616.
6. Sefer HaSichos, 5751, vol. II, p. 523.
7. Veja em Job 33:33-"And I will 'teach' you."
8. Ambas letras "pêi" (que possui o som de "p")
e fei (que tem o som de "f") estão interligadas. Para o
cálculo de guematriot, independente de seu som, seu valor numérico
sempre se mantém o mesmo.
9. Introdução de Kesser Shem Tov do Baal Shem Tov, Editora
Kehot, Brooklyn, NY; O Pensamento Religioso do Chassidismo Religious Thought
of Hassidism, Norman Lamm, Yeshiva University Press, NY, 1999, p. 550.
10. Sanhedrin 97a.
11. Período após o qual o mundo existirá em um estado
eterno de paz e tranquilidade.
12. Yoma 28b
13. Likkutei Torá, Behaalos'cha, p. 35c
Leia mais:
Os dez
significados do Alef-beit
Alfabeto Hebraico:
letras e padrões |