Viver com Mashiach significa que ao acordar amanhã, em vez de pensar no que fazer para me aperfeiçoar tanto no plano material quanto no espiritual, pensarei de que forma posso ajudar a melhorar o mundo.
     
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  Abrindo os olhos…  
 
 

Para a vinda de Mashiach

Todos nós já ouvimos histórias e relatos sobre sinais de que a vinda do justo Mashiach está próxima. Quem já não leu ou ouviu dizer em nome dos grandes tsadikim e mestres de nossa geração que a redenção de nosso povo está para acontecer? Por meio de sonhos, profecias, declarações, de várias maneiras essa notícia foi espalhada pelo mundo.

Durante quarenta anos de sua liderança, o Rebe discutiu e elaborou os mais variados contextos e assuntos. Desde explicações sobre a parte revelada da Torá, como o Talmud e o Código de Leis, até ensaios sobre a mística da mesma, como a Cabalá e a Chassidut. Desde interpretações de fatos da história judaica e do mundo, até instruções sobre temas da atualidade, como a questão da Terra Santa.

No entanto, nos últimos dois anos nos quais ainda podia discursar, o Rebe abordou apenas um único tema: a revelação imediata de Mashiach, que trará a Gueulá a todo o povo judeu. Até então o Rebe sempre enfatizou que o objetivo de todo nosso trabalho é trazer a Redenção. Mas, nestes últimos anos, todos os seus pronunciamentos discutiam somente como aquele dia era apropriado para Mashiach chegar. Diziam que todo o trabalho do exílio já havia terminado, e portanto, não existiam mais razões para a Gueulá tardar.

Sendo assim — perguntou o Rebe — qual a nossa missão agora no Galut? E ele respondeu: "Receber e dar as boas vindas ao Mashiach! Como fazemos isso? Devemos abrir os olhos e começar a viver na Era Messiânica.

Essas últimas palavras parecem ser um grande mistério. O que significa "abrir os olhos"? Como é possível viver na Era Messiânica com tanto sofrimento e desespero? Como podemos abrir os olhos quando há tanta injustiça social, tanto sangue derramado em vão?

Os dois últimos capítulos de seu livro de leis, conhecido como Yad Ylachazaká, o Rambam (Maimônides) dedicou para explicar como será a revelação de Mashiach e a Era Messiânica. No início do último capítulo ele escreve [ ]: "Não pense que na Era Messiânica anular-se-á alguma coisa do funcionamento do universo, ou que se renovarão coisas na Criação inicial, mas sim o mundo continuará funcionando normalmente, como sempre."

No final do capítulo, em sua última lei, diz ele: "Naqueles tempos não haverá fome nem guerra, nem inveja ou competições."

Aparentemente, o Rambam se contradiz: Primeiro afirma que não haverá mudanças e transformações no mundo, que tudo continuará igual. Depois, ele próprio qualifica a era da Redenção como uma nova era, na qual não haverá mais sentimentos ou sofrimento, coisas que sabemos serem absolutamente normais em nosso mundo?

Porém, a resposta para essa pergunta encontra-se exatamente neste paradoxo. A explicação e definição do Rambam sobre Mashiach é justamente a união, o ponto de encontro entre estas duas afirmações.

Mashiach significa que neste mundo que conhecemos, sem mudanças ou inovações, não haverá guerras, fome, inveja, competições. Significa que a Presença Divina será algo tão real, tão próximo de nossas vidas, que não haverá sequer espaço para sentimentos como ódio ou inveja. Conseqüentemente, não existirá mais maldade e egoísmo, os fatores das guerras e da fome. Será um mundo no qual a paz, a bondade, o amor e a harmonia preencherão tudo e todos, pois o ego de cada um não será mais importante, e apenas a verdade maior, a realidade Divina, será sentida e respeitada por todos. Como o próprio Rambam prossegue dizendo: "A única ocupação de todo o mundo será conhecer o Eterno, como diz o versículo: "A terra se preencherá com o conhecimento Divino, assim como as águas cobrem o leito do oceano."

Portanto, Mashiach não virá para fazer um novo mundo, um mundo de anjos. Isso não tem cabimento, nem vantagem. D’us criou o mundo e o manteve por quase seis mil anos para chegar ao fim e "destruí-lo", criando um mundo melhor? Dessa forma, o objetivo não seria atingido. O desejo do Criador é que neste mundinho que Ele criou, com suas regras e limitações, e no qual Ele próprio implantou sentimentos maus e egoístas, que nós deixemos isso de lado por uma vida mais significativa, e descubramos a Divindade que existe em todas as coisas. Mashiach não transformará nada, ele simplesmente abrirá nossos olhos, nos fará sentir.1

Com essa mesma linha de pensamento, podemos entender mais um detalhe sobre a futura Redenção. O Talmud, no Tratado de Sanhedrin, 98b, apresenta uma discussão entre os Sábios, se a Gueulá será intermediada por um rei chamado Mashiach ou se a salvação será efetuada pelo próprio D’us, sem um Mashiach. A conclusão é, como diz o Rambam, que sim, haverá um rei, que virá da casa de David, e ele guiará todo o povo para a Redenção. Mas, pensando bem, por que realmente precisamos de um Mashiach para nos redimir? D’us não poderia realizar todo o processo da Gueulá sozinho, sem a ajuda de um ser humano?!

A resposta é: claro que poderia! Mas, caso isso acontecesse, a Gueulá não seria a mesma, não seria tão real. Como explicamos antes, o verdadeiro significado da Redenção é que D’us será uma realidade no mundo, fará parte de nossa vida, fazendo com que nos libertemos de nossas limitações. E para que isso aconteça de forma completa, é necessário que a Gueulá venha por meio de um homem. Um ser humano como nós, com ódios, sentimentos e limites, mas que ao mesmo tempo tenha em si uma força infinita, um poder Divino. Alguém que tenha como único objetivo unificar o físico e o espiritual, a natureza e o sobrenatural, que nos demonstre como D’us e o mundo não são contraditórios, ao contrário, eles andam juntos.2

Assim, como diz o Midrash sobre Moshê Rabênu, o primeiro líder de nosso povo: "De sua metade para baixo, era um homem; de sua metade para cima, era Divino." Por esta razão, sempre existe um líder, um mestre Divino, a prova mais eloqüente da realidade Divina, que guia e ilumina toda sua geração com seus atos, suas idéias, sua inspiração. Que nos faz abrir os olhos…

Agora talvez possamos entender melhor as palavras do Rebe. Abrir os olhos significa, em primeiro lugar, perceber a época especial que estamos vivendo. Abrir os olhos significa entender que a queda do comunismo na antiga União Soviética é um sinal de que a Gueulá está se aproximando. Significa enxergar a globalização acelerada do mundo, que demonstra o quanto o universo é pequeno perante seu Criador. Significa acordar e ver como a descoberta do átomo existente em toda a matéria é uma prova clara de que tudo veio de uma mesma fonte. Implica perceber que a decisão dos representantes da ONU, transformar o dinheiro gasto com armas em verbas para a agricultura é uma profecia implícita de Yesha'yáhu sobre a Era Messiânica.

E num enfoque um pouco mais profundo, abrir os olhos seria notar o quanto o Serviço a D’us de nossa geração é querido e admirado por Ele. Mais do que no passado. O quanto nosso Serviço é mais sincero e verdadeiro, trazendo D’us à realidade terrena, mais intensamente que em qualquer outra geração. Na época do Êxodo do Egito ou do Beit Hamicdash, em que a Presença Divina era revelada e milagres e maravilhas aconteciam freqüentemente e o povo judeu vivia bem e em paz, física e espiritualmente, não havia grandes dificuldades em servir a D’us. Pelo contrário, faziam isso com orgulho e prazer, pois sabiam que essa era a verdade absoluta.

Em outras palavras, eles sentiam-se bem por servir ao Criador. Mais tarde, durante a Diáspora, o sofrimento de nosso povo foi grande. Perseguições, ataques, Inquisição, Holocausto. Mas, como se diz, sempre que há opressão, há resistência. O povo judeu sempre reagiu bem a todos os inimigos, encontrando forças até nas situações mais precárias e constrangedoras, para manter viva a chama do judaísmo. Porém, como dissemos, não há grande novidade nisso. A azeitona só produz seu óleo quando é espremida. As forças mais profundas vêm à tona na hora do aperto, nos momentos difíceis. Assim é a natureza.

No entanto, quando um judeu cumpre a Torá e suas mitsvot hoje em dia, uma época absolutamente normal em que não existem perseguições e decretos contra o judaísmo, e que todos têm a possibilidade, em qualquer lugar do mundo, de ser um judeu cumpridor das leis, mas que ao mesmo tempo não vemos grandes milagres nem sentimos a Presença Divina, este sim, é o verdadeiro e mais sincero Serviço ao Criador. Não por prazer, nem por resistência, mas sim porque esta é Sua vontade, Seu desejo.

Não estamos servindo aos nossos sentimentos ou à nossa natureza, mas sim a um Ser Superior, uma vontade maior.3 Este é o trabalho que traz definitivamente a realidade Divina à nossa vida, unindo a própria essência de D’us ao mundo físico. Essa é a finalidade da criação do universo. Isso é Mashiach. E abrindo os olhos dessa forma, conseguimos começar a viver a Era Messiânica. Quando analisamos nossa época atual e percebemos a missão única que nos foi designada, sentimos o mérito e, ao mesmo tempo, a responsabilidade que nos foi confiada. Isso nos possibilita, apesar da normalidade e naturalidade do mundo, entrar numa nova realidade, uma era na qual não existem fome, guerras, inveja ou competições. Apenas amor e compreensão, bondade e caridade, pois sabemos que, pela primeira vez na história, há a possibilidade de revelar ao mundo a unicidade do Criador, e isso depende de nós. Essa visão nos permite captar como a verdadeira revelação da essência Divina não está em milagres e maravilhas, mas sim no simples e sincero ato de servir a D’us.

Em palavras simples, viver com Mashiach significa que ao acordar amanhã, em vez de pensar no que fazer para me aperfeiçoar tanto no plano material quanto no espiritual, pensarei de que forma posso ajudar a melhorar o mundo. Como posso ser útil no sentido de tornar D’us parte de nosso cotidiano, no sentido de aproximar a Gueulá. Talvez acrescentar uma mitsvá ao nosso dia-a-dia? Ou, quem sabe, telefonar a um amigo carente que ficará feliz simplesmente pelo fato de eu ter me lembrado dele? Ou que tal fazer caridade a pessoas menos favorecidas somente com a intenção de ajudá-las? De ajudar entidades a ajudar mais pessoas? Existem muitas maneiras, o principal é que a intenção seja sincera. Invente a sua.

Por intermédio deste trabalho, abrir os olhos, e começar a viver na nova era na qual estamos entrando, a pessoa alcança uma realidade diferente, uma Redenção particular. Redenção no sentido de livrar-se de seu ego, que é o causador de todas suas limitações, como o ódio, egoísmo, inveja, tristeza. E então só haverá lugar para a alegria e a paz, numa vida cheia de bondade e compaixão.

E esta liberdade, com certeza, apressará mais ainda a vinda de nosso justo Mashiach, que nos recolherá juntamente com todo o nosso povo, e nos levará para nossa Terra, trazendo a Gueulá para todo o mundo, cumprindo assim a finalidade de toda a Criação, tornar esse mundo um lugar onde D’us possa habitar.

Vamos lá, pessoal! Só depende de nós!


1 - Isso não significa que não haverá milagres. Estes, com certeza, mais cedo ou mais tarde acontecerão na Era Messiânica, como consta claramente nos Profetas e no Talmud (como a ressurreição dos mortos, por exemplo). Porém, isso não faz parte da própria Redenção, não é o principal objetivo de Mashiach. Os milagres e maravilhas serão algo adicional, além da Gueulá.

2 - Como encontramos no versículo: "Acreditaram no Eterno e em Moshê, Seu servo." Vemos daqui que não é suficiente a fé em D’us, pois ela pode ser muito superficial. Precisamos também acreditar que D’us faz parte de nossa realidade, de nossa vida, e isso se expressa na fé no líder da geração.

3 - Isso só pode acontecer quando o mundo tem um funcionamento simples e natural, sem inclinações de nenhum tipo ou gênero (como disse o Rambam). E sobre essa época atual, diz a Torá: "O homem Moshê era muito humilde, mais que qualquer pessoa que já existiu na face da Terra." Moshê ficou humilde e pequeno aos seus próprios olhos, quando viu a nossa geração que cumpre as leis da Torá apesar de todas as dificuldades. Ele pensou: "Se eu estivesse lá, não sei se suportaria."

 

 

 
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