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Esses Wiki
Leaks me fizeram pensar. Quando é apropriado esconder informação?
Quando é imoral, se não ilegal? Informação
demais é prejudicial? Até mesmo perigosa? Mortal? Como traçamos
aquela linha tenue entre proteção vs. supressão?
Na verdade não tenho interesse em debater a política aqui
ou mesmo lidar com os detalhes desses vazamentos. Também não
vou me aventurar a discutir as complexas ramificações da
Lei Judaica sobre fofoca ou calúnia (lashon hará) e como
os intrincados aspectos práticos dessas leis se aplicariam ou não
ao Wikileaks.
Porém eu gostaria de discutir os muitos paralelos que podemos usar
a partir dessa situação em nossas vidas.
Para começar, todos temos segredos. E todos deveríamos ter.
Contanto que a informação que não estamos compartilhando
seja no melhor interesse tanto de nós mesmos quanto daqueles das
quais a estamos escondendo. Todos sabemos que o excesso de informação
pode afastar alguém. Somente à medida que as coisas se solidificam
e haja uma base e confiança para partilhar é que revelamos
cada vez mais. Isso precisa ser seguro, e precisa ser benéfico
ao crescimento do relacionamento. Porém quanto mais acontece, mais
informação é divulgada.
Isso é claramente demonstrado na partilha de informação
com a própria família. Especificamente entre pais e filhos.
Seja como os pais administram suas finanças, ou as decisões
que tomam sobre as necessidades dos filhos, há detalhes e informações
intermináveis que são mantidos em sigilo. Não somente
não é adequado que o filho saiba como essas decisões
são calculadas e determinadas, mas não seria saudável
que o filho soubesse. Portanto, como pais estamos constantemente escondendo
informação pertinente aos nossos filhos, mas em benefício
deles. E obviamente aquilo que é revelado a um filho de três
anos vs. um na escola primária vs. um filho no ensino médio
pode variar bastante. Quanto mais velho o filho se torna, mais será
discutido e partilhado. Mas mesmo com um filho adulto, há certas
coisas que jamais podem ser explicadas ou informação que
jamais deveria ser divulgada.
Porém essa situação ente pai e filho, ou qualquer
situação na qual a informação não está
sendo compartilhada, somente pode funcionar de maneira sadia quando existe…
CONFIANÇA. A respeito de algo como dinheiro e filhos, nossos filhos
devem confiar de que quando se trata de como tomamos decisões financeiras
estamos freqüentemente tentando economizar para eles ou se estamos
gastando, é para suas necessidades e despesas. Quando eles confiam
em nós, em última análise confiam que tanto aquilo
que sabem quanto aquilo que não sabem é em seu melhor interesse.
Portanto quando escondemos algo deles, é porque estamos na verdade
lhes fazendo um favor.
Infelizmente, é a falta de confiança que existe entre governos
e políticos que levou ao Wiki Leaks, em primeiro lugar. Se realmente
confiamos que a informação sendo escondida de nós
era para a segurança nacional e para nossa proteção,
ninguém estaria interessado em vazar coisa alguma! Mas não
confiamos. Tememos que a informação esteja sendo escondida
de nós. Que não estejamos sendo informados de coisas que
merecemos saber. E por causa disso estamos procurando maneiras de entender
por nós mesmos. Foi assim que nasceu o Wiki Leaks, e vemos quão
rapidamente cresceu até ter se tornado algo tão poderoso.
Quando não há confiança, não pode haver verdadeiro
relacionamento. E a confiança somente pode surgir quando você
está certo de que aquele que está liderando você o
faz em seu melhor interesse. No misticismo judaico vemos isso fortemente.
O aspecto de liderança, de soberania, da capacidade de governar
é o nível de Malchut. Porém Malchut é considerado
o último, o nível final dos aspectos intelectuais e emotivos,
as sefirot, O motivo para isso é que um verdadeiro líder
no Judaísmo é o maior servo. Pois para liderar, a pessoa
deve estar procurando e preocupada com as necessidades de todos aqueles
que está liderando. E da mesma forma, quando você sabe que
seu líder está ali para você, e realmente atendendo
às suas necessidades, então você pode confiar de que
as decisões estão sendo tomadas para o melhor.
Costumava ser muito fácil esconder informação, mentir
sobre os fatos. Porém os tempos mudaram. Através da Internet
e da tecnologia, tudo está se tornando mais e mais transparente.
E com todas as preocupações e negativas, também há
algo muito positivo nisso. Precisamos saber como indivíduos que
se você fizer algo aparentemente em privacidade, pode levar segundos
para chegar ao Facebook ou se tornar um vírus no YouTube. Não
existe mais isso de ter uma foto que ninguém mais jamais irá
ver. Porém isso significa que ficaremos muito mais cuidadosos sobre
aquilo que faremos, onde seremos vistos ou como iremos nos comportar.
E isso é bom. Pois deveríamos saber que os outros estão
nos assistindo e outros estão cientes das nossas ações.
Essa nova era de transparência na verdade está finalmente
nos fazendo reconhecer que jamais estamos realmente sozinhos e que nosso
comportamento, tanto público quanto privado, afeta os outros. Assim
como você diminui a velocidade quando avista um carro da polícia
atrás de você, assim também, saber que nossas ações
podem se tornar públicas instantaneamente significa que aquelas
ações serão as melhores, o nosso melhor comportamento.
E vamos ser sinceros… estamos sempre sendo observados. Certamente
lá do Alto e com frequência, também por aqueles perto
de nós.
Porém de maneira alguma estou advogando que tudo se torne revelado
e que não deveríamos ter nada que permaneça privado
ou protegido. Mas estou feliz por estarmos chegando a um ponto onde não
podemos mais enganar, ocultar ou mentir sobre verdades que outros têm
o direito de conhecer. E obviamente, com esses Wiki Leaks, não
somos apenas nós como indivíduos que estamos fazendo essa
descoberta, mas governos e países estão se tornando cada
vez mais expostos. E essa parece ser uma lição importante
para todos nós. Está na hora de começarmos a reconhecer
que ao final do dia, quando algo sai do nosso âmbito privado do
pensamento e se transfere para nossa fala e ação, tem o
potencial de se tornar domínio público. E isso é
algo para se pensar.
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