|  | Poucos artigos 
        foram mais enfurecedores que a coluna de Thomas Friedman no New York Times 
        na época do levante popular no Egito. Intitulado A.E., Antes do 
        Egito, e D.E. Depois do Egito, o Sr. Friedman argumenta que Israel não 
        deveria ficar perturbado pelas convulsões sociais no Egito, e agora, 
        acima de tudo, deveria agarrar a oportunidade de fazer a paz com a Autoridade 
        Palestina!
 Você ouviu certo. Em meio a essa tempestade que irrompeu, ele afirma 
        que Israel deveria simplesmente ignorar a agitação crescente, 
        e entrar num acordo com os palestinos. Em suas próprias palavras 
        poéticas:
 
 “Esta é uma época perigosa para Israel, e sua ansiedade 
        é compreensível. Porém temo que Israel pudesse tornar 
        a situação ainda mais perigosa se ceder ao argumento que 
        se ouve de alguns oficiais israelenses veteranos hoje, de que os eventos 
        no Egito provam que Israel não pode fazer uma paz duradoura com 
        os palestinos. É errado e perigoso…
 
 “Para falar francamente, se os israelenses disserem a si mesmos 
        que a confusão no Egito prova por que Israel não pode fazer 
        a paz com aAutoridade Palestina, então eles estão propondo 
        a eles mesmos que se tornem um estado de apartheid – estarão 
        convencendo a si mesmos em absorver permanentemente a Margem Ocidentaleassim 
        plantando as sementes para uma maioria árabe governada por uma 
        minoria judaica entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.”
 
 Imagine esta cena: Sua casa, digamos, nos subúrbios de Westchester, 
        é cercada por inimigos que não querem você ali. Porém 
        você circundou sua casa com defesas poderosas, para proteger você 
        dos vizinhos hostis. Seus muros fortes repelem o inimigo, e mesmo quando 
        eles conseguem quebrá-lo de tempos em tempos, você tem suficiente 
        poder de fogo e engenhosidade para derrotá-los. Na verdade, após 
        várias incursões inimigas você acaba ficando com algum 
        terreno extra protegendo-o dos inimigos da vizinhança.
 
 Por que você continua a morar entre inimigos e não se muda 
        para locais mais amigáveis é outra história. Mas 
        você tem força e decisão para permanecer bem aqui 
        onde está, apesar das ameaças ao redor.
 
 Um belo dia, um de seus vizinhos adversários, calculando que uma 
        abordagem pacífica poderia ser melhor que a guerra, aborda você 
        oferecendo a mão em sinal de paz. Em troca tudo que ele quer é 
        a terra que você conquistou ao defender-se do ataque dele.
 
 Você concorda. A paz é feita. Ou assim parece.
 
 O que aconteceu com toda essa animosidade anterior do vizinho? Simplesmente 
        desapareceu? Toda a família dele – e a família em 
        geral – todos de repente se tornam seus amigos?
 
 Absolutamente não. A única coisa que mudou foi que esse 
        vizinho em particular, desafiando a resistência da família 
        e todos os outros vizinhos, sentiu que por enquanto um tratado de paz 
        com você serviu melhor aos interesses dele que ir para a guerra. 
        E isso não dói – talvez fosse essa a motivação 
        fundamental – que um rico financiador num país distante contribuiu 
        com 1,7 bilhões de dólares para os cofres dele, basicamente 
        comprando para ele o poder que ele precisava para continuar no controle, 
        apesar de seus muitos detratores locais.
 
 Esqueça tudo isso, dizem nossos amigos 
        ocidentais amantes da paz,e simplesmente faça as pazes com todo 
        aquele que lhe der a honra de tirar um pedaço da sua propriedade! 
        Passam-se cerca de 30 anos. A paz é mantida. Porém o fermento 
        não acabou. Na verdade, o líder poderoso, engordado pelas 
        fortunas que lhe são concedidas, criando uma sensação 
        artificial de normalidade, tornou-se corrupto e o ódio de seu povo 
        contra ele apenas cresceu. Até que finalmente a bolha estoura e 
        a dissenção irrompeu nas ruas, pedindo a cabeça dele.
 
 De repente, numa reviravolta, todo o equilíbrio que se notava foi 
        exposto a se tornar nada mais que um enfeite superficial, enfeitado e 
        almofadado por bilhões de dólares, que nada fizeram para 
        mudar a hostilidade de seus vizinhos para com você.
 
 Ou seja, você teve 30 anos de paz com esse vizinho em particular, 
        e não teve de concentrar sua energia e defesas nessa fronteira. 
        Mas da noite para o dia você percebeu que basicamente nada mudou. 
        Seu inimigo continuou sendo seu inimigo jurado. E para aumentar, você 
        abriu mão de seu estado tampão – quilômetros 
        e quilômetros de terra que poderiam servir como um impedimento, 
        que você não pode reclamar.
 
 À medida que a volatilidade se espalha ao seu redor, você 
        fica atordoado. O que vai acontecer agora que essa assim chamada vizinhança 
        amigável se volta contra você?
 
 Nesse ínterim, durante essas três décadas, seus outros 
        vizinhos não ficaram dormindo. Construíram suas forças 
        e novas vozes emergiram atacando os seus muros, clamando por um pedaço 
        de você.
 
 Mas, não tema. Eruditos e escritores de países distantes 
        asseguram a você –do conforto de suas salas de estar suburbanas 
        – que esses vizinhos são sinceros em sua busca pela paz. 
        Não se incomode se foram e alguns ainda continuam a ser seus inimigos 
        mortais. Não se incomode se toda sexta-feira os imãs deles 
        despejam ódio e veneno contra você e sua família. 
        Não se incomode por muitos deles se recusarem a reconhecer sua 
        legitimidade. Não se importe se todas as vezes, vemos a profunda 
        instabilidade do governo de seus vizinhos, mostrando claramente como nada 
        pode ser confiado ou previsto nessa região.
 
 Esqueça tudo isso, dizem nossos amigos ocidentais amantes da paz,e 
        simplesmente faça as pazes com todo aquele que lhe der a honra 
        de tirar um pedaço da sua propriedade!
 
 O problema com esses escritores é que eles veem o mundo através 
        de lentes distantes de riqueza e modernidade, completamente sem noção 
        – ou se formos benevolentes, fingindo ser intencionalmente alheio 
        – aos inimigos jurados que enxameiam ao seu redor.
 
 Em suas mentes ingênuas e condescendentes, o modelo ocidental secular 
        –moldado pelo Iluminismo (com ênfase na palavra Iluminar, 
        em oposição à obscura Idade Média) – 
        irá prevalecer sobre (aquilo que eles consideram ser) as primitivas 
        paixões religiosas do mundo muçulmano. Não se incomode 
        que haja apenas 1.6 bilhões de muçulmanos no mundo, e que 
        continue sendo a religião que mais acelera seu crescimento no globo, 
        dominando rapidamente a Europa.
 
 Creio que não se trata apenas de ingenuidade. Este escritor em 
        particular está investido em sua posição, e como 
        é comum entre pensadores arrogantes e cabeçudos, cujas mentes 
        também incharam além das proporções devido 
        ao seu sucesso pelos seus livros campeões de vendas, em vez de 
        verem a realidade e reconhecerem os erros, ele cava ainda mais fundo. 
        Além disso, ele despreza tanto o direito religioso que insiste 
        nos direitos bíblicos deles à terra, com aspirações 
        messiânicas, que ele não pode ver claramente nem mesmo quando 
        sua própria família está sendo assaltada.
 
 Além disso, ele e a maioria dos seus colegas ocidentais ignoram 
        – talvez devido à falta de verdadeira exposição 
        às realidades do dia-a-dia – as fortes paixões religiosas 
        destes vizinhos. Sua fé enxerga você como um intruso profano 
        e herege – como uma ferida infectada aberta – no meio da terra 
        sagrada deles. Enquanto seu lar existir, os lares deles estão comprometidos.
 
 Nesse caso, alguém considerou a opção 
        de que a Jordânia, Síria, Líbano, Egito e outros países 
        árabes próximos deveriam ser obrigados a absorver seus próprios 
        irmãos – assim como Israel absorveu mais de um milhão 
        de judeus expulsos dos países árabes após 1948?E 
        nenhuma quantidade de i-phones, tecnologia de computador, hambúrgueres 
        do Mc Donald e Coca-Cola mudará este fato. Para 99% dos seus vizinhos 
        – apesar de muitos deles sem dúvida serem amantes da paz 
        – a fé religiosa é mais importante que a paz. Se eles 
        não tivessem medo de perder uma guerra com você ou se não 
        fossem subjugados por alguns líderes ricos, eles se voltariam contra 
        você num segundo – um infiel profanando o espaço sagrado 
        deles.
 
 Quando muito, seu instável vizinho tem provado que você não 
        pode confiar numa ilusão de estabilidade ao seu redor. Portanto, 
        a necessidade de ser ainda mais temeroso só “tratados de 
        paz”com outros vizinhos.
 
 Agora, ele tenta afirmar que se você não fizer as pazes com 
        esses vizinhos próximos, ficará empacado num estado de apartheid 
        – “absorvendo permanentemente a Margem Ocidental e assim lançando 
        as sementes para uma maioria árabe governada por uma minoria judaica 
        entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.”
 
 Antes de tudo, mesmo se isso fosse verdadeiro – o que certamente 
        não é – a alternativa é muito pior. Seus vizinhos 
        não querem você ali. Jamais quiseram e jamais irão 
        querer. Sim, eles assinarão um tratado de paz com você para 
        conseguirem o que puderem agora. Mas quem garante que não vai acontecer 
        com eles o mesmo que aconteceu ao seu vizinho a oeste?!
 
 Especialmente considerando que há muitos outros vizinhos que estão 
        investidos na sua eliminação, e não descansarão 
        até incitarem e voltarem todos os seus vizinhos contra você 
        (até aqueles que são neutros), e silenciar aqueles que desejam 
        viver em paz com você.
 
 Em segundo lugar, o argumento do apartheid (que tem se tornado tão 
        popular) é simplesmente falho e baseado numa premissa falsa. Antes 
        dos anos de 1960 não havia essa entidade chamada “Palestinos”. 
        Na verdade, em março de 1977 o jornal holandês Trouw publicou 
        uma entrevista com o membro do comitê executivo da Organização 
        para Libertação da Palestina, Zahiir Muhsein, que disse: 
        “O povo palestino não existe. A criação de 
        um estado palestino é apenas um meio para continuar nossa luta 
        contra o Estado de Israel para nossa unidade árabe. Na verdade 
        hoje não há diferença entre jordanianos, palestinos, 
        sírios e libaneses. Somente por motivos políticos e táticos 
        falamos atualmente sobre a existência de um povo palestino, pois 
        os interesses nacionais árabes exigem que afirmemos a existência 
        de um ‘povo palestino’ distinto para se opor ao Sionismo. 
        Por razões táticas, a Jordânia, um estado soberano 
        com fronteiras definidas, não pode reclamar Haifa e Jaffa, enquanto 
        como palestino, posso sem dúvida reclamar Haifa, Jaffa, Beer-Sheva 
        e Jerusalém. No entanto, no momento em que exigirmos nosso direito 
        a toda a Palestina, não esperaremos sequer um minuto para unir 
        a Palestina e a Jordânia.”
 
 Nesse caso, alguém considerou a opção de que a Jordânia, 
        Síria, Líbano, Egito e outros países árabes 
        próximos deveriam ser obrigados a absorver seus próprios 
        irmãos – assim como Israel absorveu mais de um milhão 
        de judeus expulsos dos países árabes após 1948?
 
 Se você quer impedir o apartheid – e a mistura de nações 
        diferentes umas com as outras – por que os países árabes 
        não deveriam receber de braços abertos seus próprios 
        irmãos e irmãs?! Por que é Israel que tem de absorvê-los?
 
 Como pessoas sábias, por que ninguém considera – começando 
        com o auto-proclamado especialista no assunto, o Sr. Friedman – 
        que talvez o Estado da Palestina inteiro seja um complô para simplesmente 
        colocar uma base mais forte dentro e ao redor de Israel? E um dia, isso 
        ajudará a servir como um trampolim para a conquista de Israel.
 
 E isso não é apenas teoria. A maior parte, se não 
        todos, dos vizinhos de Israel é na melhor das hipóteses 
        abertamente tolerante com Israel (por trás das cenas é outra 
        história) e na pior das hipóteses, clama pela sua destruição 
        e fará tudo para mobilizar os vizinhos para essa causa.
 
 O Sr.Friedman está investido em nos 
        ensinar que o mundo é plano, e cada vez mais está encolhendo 
        à medida que nossas economias globais se tornam entremeadas, e 
        nossas redes sociais conectam a nós todos, transformando tudo que 
        é internacional em local.Qualquer semelhança com 
        ordem e contenção se deve a grandes somas de dinheiro vindas 
        do Estados Unidos para adoçar o profundo descontentamento em países 
        como o Egito, ou de um pequeno número de líderes na Arábia 
        Saudita que controlam seus cidadãos.
 
 A combustão enrustida não pode ser contida para sempre, 
        não importa quanto dinheiro e petróleo inundem a região 
        em camadas de negação e ilusão. Estamos agora testemunhando 
        esta agitação que vai surgindo, e certamente provocará 
        ondas através do Oriente Médio com resultados imprevisíveis.
 
 Esta é a triste história – e a verdadeira natureza 
        – dessa região. E não importa quantas colunas o Sr. 
        Friedman escreve e quantos livros ele vende, a trágica realidade 
        não mudará.
 
 O Sr.Friedman está investido em nos ensinar que o mundo é 
        plano, e cada vez mais está encolhendo à medida que nossas 
        economias globais se tornam entremeadas, e nossas redes sociais conectam 
        a nós todos, transformando tudo que é internacional em local.
 
 Mas acorde e sinta o cheiro do café, meu amigo: O mundo – 
        especialmetne quando se trata de paixões religiosas – é 
        bem redondo.
 
 Então, qual é a solução para este Oriente 
        Médio fermentando? O que Israel – aquela fatia de terra cercada 
        por centenas de milhões de vizinhos hostis – pode fazer entre 
        todas as tempestades que trovejam ao seu redor?
 
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