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Era maio de 2010,
e eu estava sentado à mesa de meu escritório em casa olhando
para a tela do computador. Eu tinha sido um rabino conservador por 20
anos, mas todos nós temos o nosso momento em que avaliamos a vida
e refletimos sobre o nosso propósito, quando nos fazemos essas
grandes questões: o que realmente quero fazer? O que é importante
para mim? O que vou realizar no meu futuro? Enquanto contemplamos esses
pensamentos profundos podemos até começar a pensar que estamos
perto de uma resposta. Nessas horas é tão difícil
lembrar que a história já foi escrita.
A Terra de Israel estava em minha mente. Minha esposa Nancy e eu tínhamos
retornado recentemente de lá; e eu chorei no avião. Estou
com vergonha de dar detalhes, mas sempre ao sair, choro.
Decidi que queria fazer alguma coisa por Israel. Gostaria de fazer clipes
de vídeo de judeus que falam sobre o país. Eu perguntaria:
"Você tem algum comentário sobre Israel?", e eles
diriam o quanto gostam da espiritualidade ou do falafel ou da arqueologia
ou das praias. Pensei em colocar os comentários pró-lsrael
no meu site, e pronto, todo mundo assistiria. Todos os males e preconceitos
seriam corrigidos.
Na época, eu estava usando o meu site, Rabbilive.com, para transmitir
serviços religiosos aos soldados judeus americanos no Afeganistão,
no Iraque e em porta-aviões, e também para alguns judeus
muito preguiçosos em Boca Raton, Flórida. Achei que isso
seria o melhor lugar para postar meus clipes do falafel de Israel. Gostaria
de tocar esse botão mágico "vídeo viral"
no meu teclado e ajudar as relações públicas de Israel
no mundo. Enquanto isso, meu filho adolescente, Adam Natan, estava em
seu quarto, também ocupado. Ele tem o seu próprio site para
adolescentes conhecerem e discutirem temas judaicos. Ele é um jovem
bastante notável - foi para Washington por si próprio e
transmitiu toda a conferência AIPAC ao vivo em seu site.
No mesmo mês, Adam contatou a Casa Branca e pediu para participar
da celebração de Chanucá oferecida pelo presidente,
no próximo dezembro (ele sabe como entrar em contato com as pessoas
certas). Perguntaram se ele estava confuso: "Tem certeza de que quer
dizer a festa de Chanucá e não a celebração
da herança judaica no fim do mês?". "Ah, a celebração
da herança judaica", ele respondeu. A assessoria de imprensa
da Casa Branca teve a gentileza de fornecer credenciais de imprensa para
Adam, seu amigo Daniel Landau e eu. Tirei um tempo da minha agenda e fui
com os dois comemorar o Mês da Herança Judaica com o presidente.
Talvez esse fosse um bom lugar para encontrar um grupo de judeus para
minha pergunta "Você tem algum comentário sobre Israel?"
e colocar um holofote sobre a minha preciosa terra natal.
No dia 27 de maio de 2010, eu estava na sala de imprensa da Casa Branca
com o meu celular, ligando para toda e qualquer pessoa que eu conhecia,
me exibindo, "Você nunca vai adivinhar onde estou". De
repente, vi o ex-presidente Bill Clinton passar. Ele nos cumprimentou
rapidamente enquanto caminhava, e eu me virei para a pessoa ao meu lado
e disse: "Esse é o Bill Clinton". O homem respondeu:
"Eu sei. Eu sou Joe Biden".
Participamos da primeira conferência de imprensa do presidente Obama
em 10 meses, no Salão Leste da Casa Branca. O tema foi o vazamento
de petróleo no Golfo. Nós três tínhamos perguntas
brilhantes preparadas para fazer caso fôssemos chamados, mas infelizmente,
não tivemos essa sorte. O salão estava lotado de repórteres
experientes do mundo todo e apenas a um punhado foi dada a honra de fazer
uma pergunta. Helen Thomas, diretora de imprensa da Casa Branca, foi um
deles.
Após a sessão tínhamos uma hora até a celebração
da Herança Judaica. Notei que Helen Thomas caminhava em nossa direção.
Estávamos prestes a nos cruzar, então dei ao meu filho e
seu amigo um rápido resumo: "Ela é uma das repórteres
mais famosas do mundo e tem atuado na Casa Branca desde os tempos de Eisenhower
e Kennedy". Ela era o único membro da imprensa a ter um assento
próprio designado na primeira fila, no centro, na sala de imprensa
da Casa Branca. Ela era uma jornalista por 60 anos, eu era um jornalista
por 60 segundos. Achei que era hora de nos conhecermos. Então a
paramos e trocamos gentilezas. Levava uma mini câmera de vídeo
comigo e comecei a filmar. Ela olhou diretamente para a lente e deu alguns
conselhos graciosos sobre o jornalismo: "Você sempre vai manter
as pessoas informadas e vai sempre continuar aprendendo". "Você
tem algum comentário sobre Israel?", perguntei à Helen.
Providência Divina. O Criador-Mestre desta história e de
todas as histórias colocou em minha câmera o trecho de vídeo
que ajudaria Israel e mudaria a minha vida. "Diga a eles para darem
o fora da Palestina", disse ela. Se eu estivesse em um beco de Nova
York e um skinhead me dissesse isso, ia dar porrada. Mas estávamos
na Casa Branca, ela tinha 89 anos e, se você já viu a minha
foto, eu sou o skinhead. Foi tudo muito confuso. Então eu decidi
ser jornalista e lhe perguntei: "Para aonde eles devem ir?".
"Para casa", ela falou. "Onde é a casa deles?",
perguntei.
"A Polônia e a Alemanha", ela disse. De volta para casa,
para a Polônia e Alemanha. Quem me dera poder voltar para os shtetelach
e shtiebelach da Polônia. A cidade dos meus avós, Drobnin,
onde na sexta-feira à noite o cheiro de chalá sem dúvida
permeava a cidade, e as velas brilhavam nas janelas de cada casa. Gostaria
de poder voltar. Mas não tem um shtetl, uma vela, ou um judeu sequer
ainda lá. Os antissemitas os apagaram.
Voltamos para Nova York com esse vídeo. Liguei para um escritor
do jornal The Jewish Week e lhe contei o que aconteceu. Ele falou apenas
duas palavras: "No story". Senti antissemitismo no gramado da
Casa Branca e agora eu experimentei apatia judaica secular, em Nova York.
Eu queria postar o vídeo imediatamente no meu site, mas eu precisava
de um adolescente para descobrir como colocar algo em um site, e meu filho
estava amarrado com provas finais. Uma semana inteira se passou e o vídeo
ficou na minha câmera. Providência Divina. Algo aconteceu
no Oriente Médio naquela semana. Isso trouxe Israel para as manchetes.
Em 31 de maio de 2010, soldados israelenses embarcaram para averiguar
alguns barcos que insistiram em desafiar o bloqueio de segurança
da Faixa de Gaza. Os "pacifistas" em um dos barcos bateram nos
israelenses com hastes de metal e os atacaram com facas. Vários
dos ativistas foram baleados durante o confronto. O mundo inteiro estava
contra Israel. Helen Thomas estava na Casa Branca, poucos centímetros
à frente do presidente, diante de toda a imprensa internacional,
e disse: "Foi um massacre deliberado por Israel contra ativistas
da paz em alto mar". Naquela noite, meu filho tinha algum tempo.
Nós postamos o vídeo em torno das duas horas da madrugada
de sexta-feira. Repassamos para algumas pessoas, incluindo o blogueiro
judeu Jeff Dunetz, editor do blog "Yid With Lid". Depois do
Shabat liguei o computador para ver se alguém tinha assistido ao
vídeo. Eram mais de 700 mil visualizações. No domingo
se tornou viral, alcançando os milhões.
No momento em que as notícias da flotilha alimentavam os pontos
de vista poluídos de pessoas anti-lsrael e antissemitas, o meu
vídeo limpou o ar. Helen Thomas foi forçada a se demitir
em vergonha. Ela foi banida da Casa Branca; seu nome foi retirado do lugar
na primeira fila e de vários prêmios em todo o país.
Cada meio de comunicação no mundo se dirigiu a mim, o bom,
o mau e o feio. Recebi mais de 25 mil e-mails de ódio e ameaça.
A polícia e agências privadas se envolveram. Todos queriam
saber sobre o cara por trás da câmera. Minha caixa de entrada
foi inundada com toda a imprensa internacional pedindo uma entrevista.
Eu estava sobrecarregado. Então o telefone tocou. Era Ari Fleischer,
o secretário de imprensa do ex-presidente Bush. Ele me aconselhou
a manifestar a mensagem que eu queria transmitir ao mundo. Meu filho chegou
da escola e eu lhe contei que Ari Fleischer tinha ligado. Meu filho disse:
"Eu sei. Fui eu que falei para ele te ligar" (quem é
esse garoto?). Ele falou: "Pai, você pode falar com qualquer
pessoa no mundo. Para quem quer que eu ligue para você se aconselhar
sobre o que a nossa mensagem deve ser?". Pensei por um momento e
disse um nome. Logo o meu filho me entregou o telefone para falar com
Elie Wiesel. Perguntei-lhe: "Professor Wiesel, qual é a minha
mensagem para o mundo?". Ele disse que tinha lido no jornal que eu
frequento o Chabad todas as manhãs, e ele sugeriu que eu procurasse
saber o que o Rebe gostaria que eu dissesse. Eu não sabia o que
me deixava mais confuso e surpreso: que Elie Wiesel me aconselhou a descobrir
o que o Rebe de Lubavitch gostaria que eu dissesse, ou que eu estava agora
em um mundo surreal, onde Elie Wiesel estava lendo sobre qual minian eu
frequento.
Liguei para o meu rabino Chabad e lhe contei que Elie Wiesel havia me
aconselhado a descobrir o que o Rebe gostaria que eu dissesse. "Ok,
vamos descobrir", disse ele, sem qualquer hesitação.
Contatamos um renomado rabino Chabad, uma pessoa que conheceu o Rebe e
tem um grande conhecimento de seus ensinamentos, bem , como da política
mundial e da mídia. Perguntamos a ele o que achava que seria a
mensagem do Rebe nessa situação.
"Se você tem um amigo e você não o vê por
um tempo, ele ainda é seu amigo. Mas, se você não
o vir por 50 anos, você não tem como saber com certeza se
ele ainda é seu amigo", disse ele. "Agora, se o seu filho
vai embora por pouco tempo, ou se o seu filho vai embora por meses e até
mesmo anos, ele ainda será seu filho. E se D'us não o permita,
você não vê o seu filho por 50 anos, ele continua sendo
seu filho. Nós não somos amigos de Israel. Nós somos
os filhos de Israel. Estávamos afastados por algumas centenas de
anos no Egito, milhares de anos na Pérsia, na Espanha, na América
do Norte. Estávamos longe por alguns anos em Auschwitz. Mas nós
ainda somos os filhos de Israel. Israel e os filhos de Israel são
um. Não importa onde ou quando você nasceu e vive, ou que
língua você fala. Somos sempre os filhos de Israel. Nós
e Israel existimos um pelo outro; foi dado por D'us. O judeu andando na
rua em Nova York, independentemente de saber ou se preocupar com Israel,
está vivo por causa de Israel, e Israel existe por causa dele."
Dois dias depois, eu estava no programa "Reliable Sources" da
CNN com Howard Kurtz. Não lembro o que ele me perguntou, mas eu
sei que a resposta foi de que os Filhos de Israel e a Terra de Israel
são um só e é isso que Helen Thomas e aqueles que
querem deslegitimar Israel estão negando. Dois meses depois atravessei
os Estados Unidos com o meu filho, entrevistando todos para um documentário
sobre o antissemitismo e o ódio (o filme estreou mais tarde no
Simon Wiesenthal Center Museum of Tolerance).
Ao voltar para casa fui convidado para ser o orador principal no simpósio
inaugural da Universidade de Yale sobre antissemitismo global. Antes da
minha fala, o presidente do simpósio, professor Charles Asher Small,
fez uma pausa para explicar para a plateia porque eu era o orador principal.
Disse que nunca assiste televisão, mas um dia ele foi visitar seus
país e por acaso estava passando o programa "Reliable Sources"
da CNN. Ele me ouviu dizer que "os filhos de Israel e a Terra de
Israel são um. Nós e Israel existimos um pelo outro; foi
dado por D'us". Ele disse que essas palavras fizeram com que ele
me convidasse para falar, pois essas palavras precisavam ser escutadas
na Universidade de Yale por todos os professores reunidos.
Providência Divina. Helen Thomas disse: "Vá pra casa".
E eu fui. Depois de ser um rabino conservador por mais de 20 anos, viajei
para casa, para as minhas raízes. Não só fui para
casa; fui a cem casas. Tenho viajado e falado em mais de cem Chabad Houses
em todo o mundo. A partir do Chabad House de Sydney e Melbourne para Manchester
Liverpool, de Boca para Boston, de Fairfield a Flamingo à Nova
Jersey, eu tenho sido inspirado e eu tenho, graças a D'us, inspirado
outros também. Cada vez que eu conto a minha história ofereço
minhas conclusões sobre a forma de combater o antissemitismo. Digo
ao meu público que o caminho para combater o antijudaico é
fazendo o judaísmo. Faça Tora. Faça mitzvot. Faça
Shabat. Faça casher. Eu sei que isso é o que o Rebe quer
que eu diga.
A Providência Divina me levou da Casa Branca para mais de cem Chabad
Houses. Há mais de 4.900 para visitar; cada uma me traz mais perto
de casa.
Adaptado de um artigo na N'sheí Chabad Newsletter,
uma revista para mulheres judias de todo o mundo. |