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Rabi Yosef Wineberg, que já foi chamado de “embaixador
globe troter” e o primeiro nos Estados Unidos a ter uma aula regular
de Filosofia Chabad nas ondas do rádio, faleceu aos 94 anos. Membro
do corpo docente da United Lubavitch Yeshiva, era conhecido não
apenas pelo seu conhecimento erudito, mas também pelas suas palavras
calculadas e pacientes, e pelo característico calor chassídico
para com seu próximo.
Nascido em Mianow, na Polônia, Wineberg estudou nas escolas Chabad-Lubavitch
na Polônia, e escapou por pouco dos bombardeios alemães no
início da Segunda Guerra. Estava com o sexto Rebe de Lubavitch,
Rabi Yosef Yitschak Schneersohn, de abençoada memória, durante
as Grandes Festas após o início da invasão da Polônia
em setembro de 1939. O jovem estudante registrou os horríveis detalhes
em seu diário, um manuscrito fundamental usado por historiadores
pesquisando aquela época.
“Apesar do que estava acontecendo, o Rebe permaneceu completamente
calmo e controlado, não expressando qualquer medo,” escreveu
ele sobre a vida na Polônia pós-invasão.
A certa altura, o Sexto Rebe deu a ele sua pasta pessoal contendo seus
bens mais preciosos. Sob orientação do Sexto Rebe, Wineberg
escapou pela fronteira e foi até a União Soviética,
dali viajando para Vinius na Lituânia, e depois para o Japão.
Ele foi um dos nove estudantes de Lubavitch que receberam vistos para
viajar ao Canadá; em 1942, ele viajou a Montreal, onde o grupo
estebeleceu uma yeshivá de renome. Mais tarde mudou-se para Nova
York para angariar fundos em prol das escolas Lubavitch na sua sede no
Brooklyn.
Viagens Espirituais
Wineberg viajou o mundo todo em prol do sistema escolar, infundindo seus
esforços para angariar fundos com um calor que lhe granjeou muitos
admiradores. Construiu relacionamentos duradouros em muitas comunidades
judaicas e lançou os alicerces em vários locais para futuros
centros e escolas Lubavitch.
Após o falecimento do Sexto Rebe e a ascensão de seu genro,
Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória, Wineberg
começou a viajar em prol do sucessor a comunidades judaicas ainda
mais remotas, com uma missão refinada. Foi a diversos países
da África, incluindo Uganda e Madagascar, e a pedido do Rebe, procurava
judeus que não tinham conexões com nenhuma comunidade judaica.
“O Rebe me instruiu a fazer uma visita a Madagascar”, contou
ele ao então Rabino Chefe da África do Sul, Louis Isaac
Rabinowitz, “para encontrar qualquer ovelha perdida da Casa de Israel.
Você geralmente tem interesse nessas questões. Conhece algum
judeu na Ilha?”
Rabinowitz, que registrou a história num artigo publicado em 1961
pelo Southern African Jewish Times, informou Wineberg que dois anos antes,
somente um judeu habitava a ilha.
“Ele é um judeu francês completamente assimilado, que
não tem qualquer lealdade com o Judaísmo”, disse Rabinowitz.
“Não consigo ver qualquer propósito numa… visita
ali.”
Wineberg considerou o pedido do Rebe, e foi a Madagascar apesar do relato
negativo.
Por fim ele encontrou oito judeus, para quem afixou mezuzot nas casas,
deu um chifre de carneiro para usarem durante as Grandes Festas, e ensinou-os
como rezar em grupo.
“Também foram feitos arranjos”, registrou Rabinowitz,
para dar a eles instrução hebraica uma vez por semana.”
Para Pêssach, Wineberg prometeu enviar-lhes de Nova York tudo que
precisassem, incluindo matsá feita à mão.
“Estes judeus isolados que de outra forma seriam esquecidos serão
agora cuidados”, concluiu Rabinowitz. “Esta é outra
atividade… que vale a pena, por parte de Lubavitch.”
Esclarecendo o propósito de suas viagens, o Rebe escreveu a Wineberg
que até para “um só judeu, vale a pena fazer auto-sacrifício.
E ainda mais, quando estamos falando de vários judeus.”
Chassidismo nas Ondas do Rádio
Em 1959, Wineberg soube de um horário no rádio que era comprado
de uma estação local de Nova York que não era usado.
Perguntaram se tinha ideias sobre como preencher o ar, e ele teve a ideia
de dar uma aula sobre o Tanya, a obra fundamental do pensamento chassídico
escrita no Século 18 pelo Primeiro Rebe de Chabad, Rabi Shneur
Zalman de Liadi.
“Comecei a usar o tempo na rádio para falar sobre ideias
chassídicas,” disse Wineberg numa entrevista em 2010.
O Rebe mais tarde explicaria o conceito de infundir as ondas do rádio
com santidade, dizendo num discurso público em 1984 que “tudo
no mundo foi criado em prol de D'us.” Com certeza, tudo poderia
ser usado com razões negativas, mas isso cabe ao livre arbítrio
da pessoa, explicou o Rebe. Usar a rádio para disseminar ensinamentos
judaicos, por outro lado, revelava seu verdadeiro propósito na
criação.
Os programas de Wineberg mais tarde foram transcritos e publicados em
yidish como Shiurim B’Sefer HaTanya. Uma tradução
para o inglês foi lançada pela Kehot Publication Society
como o popular Lessons in Tanya. Traduções em outros idiomas
também foram publicados, e hoje, dezenas de milhares de pessoas
usam as ideias de Wineberg em seu estudo diário do Tanya, seja
nos livros ou online.
A tradição das aulas pela rádio ainda continua.
Aqueles que o conheceram descrevem Wineberg como um farol de calor judaico;
ele passava horas em prece contemplativa e estudo erudito. Suas preces
sinceras durante as Grandes Festas, quando ele liderava os serviços
na principal sinagoga da Sede Mundial Lubavitch, ainda produzem reações
emotivas naqueles que as recordam.
Amigos, membros da família e colegas disseram que ele incorporava
a própria essência do ensinamento Chabad, imergindo no cuidado
das necessidades espirituais e físicas do próximo, e ele
certa vez explicou a Herbet Weiner, autor de Nine and a Half Mystics,
que sua preocupação pelos outros era compreensível:
dentro de todo judeu havia um elemento puro de Judaísmo, disse
ele. “A própria alma é muito mais profunda do que
poderia parecer ao olho.”
O que está no âmago do estilo de vida Chabad, disse ele a
Weiner, é “a disposição de sacrificar-se. Nossos
[líderes] deixaram para nós um exemplo. Eles nos mostraram
que se alguma coisa é muito importante, pode ser feita. Se algo
importa bastante, tanto quanto a própria vida,” concluiu
ele, “você encontra uma maneira de fazer.”
Rabino Yosef Wineberg faleceu dia 7 de Tamuz, 27 de junho
de 2012 aos 94 anos deixando muitos filhos e netos que servem a comunidades
judaicas ao redor do mundo como emissários Chabad-Lubavitch.
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