|
Não sou do tipo que fica
depressa (ou mesmo lentamente) agitado. Mas um artigo no New York Times
de hoje agitou-me totalmente. Falava sobre uma vítima de uma tentativa
de assassinato, a quem os editores chamaram de, bem, um… agitador.
Aqui está a abertura do artigo: “Um israelense-americano
que tem insistido por mais acesso e direitos judaicos num site religioso
bastante contestado em Jerusalém foi baleado e ficou gravemente
ferido na noite desta quarta-feira por um atacante não identificado
numa aparente tentativa de assassinato.”
Que reação você teria ao ler isso? Assim que você
rotula alguém com um nome pesado e incitante como “agitador”
- especialmente no início de um artigo - você já o
declara culpado de alguma forma, e com efeito causa preconceito ao leitor.
Aqui você tem um exemplo flagrante de deturpar uma história
com um termo provocativo. Ao usar a palavra “agitador” como
manchete, essencialmente, um jornal renomado - nada menos que o venerado
NY Times - está explicando, se não justificando, o ataque.
Afinal, um agitador não merece ser atacado? Ele não provocou
isso para si mesmo?
Ao permitir sua própria perspectiva preconceituosa influenciando
este artigo, o grande NY Times se torna um agitador por si mesmo - impondo
sua opinião sobre seus leitores.
O Times ousaria descrever um gay ou um ativista dos direitos civis (sob
ataque) com o nome “agitador”?
Um relato objetivo teria parecido ditar que você primeiro narra
os fatos (um homem tentou assassinar outro) antes de comentar sobre a
personalidade e caráter da vítima.
O Times ousaria sequer abrir um artigo com a declaração
que “uma mulher promíscua foi sexualmente atacada por um
homem”, sugerindo de alguma forma que a vítima estava errada?
Jamais. É simplesmente uma forma de o jornalismo amarelo apresentar
um caso sem permitir que o leitor decida com base nos fatos.
Não importa se você concorda ou não com a opinião
de Yisroel Glick, as pessoas civis podem todas concordar que assassinos,
reais ou em potencial, são os verdadeiros agitadores. Assim, uma
manchete adequada ao artigo deveria ter dito: “Pretenso terrorista
ou agressor muçulmano fere ativista israelense.”
Deja vu
Este episódio trouxe lembranças de outra história
“preconceituosa” do NY Times, que testemunhei pessoalmente.
Durante os levantes de Crown Heights no verão de 1991, quando os
negros estavam atacando judeus e vandalizando suas lojas e casas, culminando
no sangrento assassinato de Yankel Rosenbaum, o Times cobriu os eventos
em seu próprio estilo inimitável. Numa reportagem pretensamente
justa e equilibrada, o Times escreveu que primeiro um carro num desfile
judaico de automóveis atingiu e matou uma criança negra,
Gavin Cato. Então um grupo de negros matou o Sr. Rosenbaum - como
se os dois fossem eventos idênticos. Na verdade, foram tão
diferentes quanto possível: a primeira morte trágica foi
com certeza um acidente; a última - um assassinato deliberado e
planejado.
Numa tentativa de consertar o registro, submeti na época um artigo
descrevendo os eventos daquela noite conforme os testemunhei pessoalmente.
Desnecessário dizer, o Times não aceitou minha descrição.
Parece que afinal, meu avô estava certo. Anos atrás, quando
eu era adolescente, ele me disse que tudo que é escrito no jornal
é mentira, até a data na primeira página, porque
o jornal foi impresso na noite anterior…
Na época discuti com meu avô, apresentando minha perspectiva
“progressista” de que ele desconfiava de todas as novidades,
pois estava vindo da primitiva União Soviética, onde a propaganda
mandava na imprensa, e um jornal pode se chamar de “verdade”
(Pravda em russo significa “verdade”; o jornal comunista yidish
era chamado “emes” - verdade em yidish, não importando
se era escrito com ayin, mem, ayin, samech) imagine um jornal nos Estados
Unidos sendo chamado de “A Verdade”. Mas atualmente, no moderno
e evoluído mundo livre, onde a liberdade de imprensa é um
direito divino, podemos confiar na mídia. “Zeide”,
eu disse, “vivemos num novo mundo. Hoje a mídia merece confiança.”
Não era importante que o genro dele, meu pai, era um jornalista.
Pensando bem, isso pode ter sido parte do motivo pelo qual meu avô
estava desprezando a mídia. Mas hoje, quando eu próprio
já sou avô, comecei a pensar que meu zeide poderia ter alguma
razão.
Para que você não pense que me transformei num sujeito suspeito
ou um teórico da conspiração, desconfiando de toda
história que leio, deixe-me assegurar a você que este não
é o caso (posso ser). É somente para enfatizar que devemos
aceitar tudo que lemos - até vindo de fontes estabelecidas e respeitáveis
- com uma pitada de sal.
Lembremos que a mídia acima de tudo (devido à responsabilidade
que eles têm ao transmitir as notícias ao público):
somos todos preconceituosos e subjetivos, levando por dentro noções
pré-concebidas. A pessoa honesta, homem ou mulher de integridade,
não é aquela que é objetiva, mas o humilde - aquela
que reconhece a própria subjetividade, e se sente responsável
por apresentar uma história mudada (mesmo que levemente), devido
a um ponto de vista pessoal ou baseado no auto-interesse. (Outro exemplo
disso são aqueles jornalistas e eruditos que sentem orgulho pelo
seu envolvimento nas palestras em Oslo, esperando atingir glória,
e quando aquelas palestras fracassam, seu orgulho ferido pode fazer com
que caiam e mantenham posições obstinadas e preconceituosas
sobre Israel e a solução dos dois estados).
E reconheça que às vezes aqueles que acusam outros de agitadores
podem ser os maiores agitadores de todos.
|