Podemos Confiar na Mídia?
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  Por Simon Jacobson
 

Não sou do tipo que fica depressa (ou mesmo lentamente) agitado. Mas um artigo no New York Times de hoje agitou-me totalmente. Falava sobre uma vítima de uma tentativa de assassinato, a quem os editores chamaram de, bem, um… agitador.

Aqui está a abertura do artigo: “Um israelense-americano que tem insistido por mais acesso e direitos judaicos num site religioso bastante contestado em Jerusalém foi baleado e ficou gravemente ferido na noite desta quarta-feira por um atacante não identificado numa aparente tentativa de assassinato.”

Que reação você teria ao ler isso? Assim que você rotula alguém com um nome pesado e incitante como “agitador” - especialmente no início de um artigo - você já o declara culpado de alguma forma, e com efeito causa preconceito ao leitor.

Aqui você tem um exemplo flagrante de deturpar uma história com um termo provocativo. Ao usar a palavra “agitador” como manchete, essencialmente, um jornal renomado - nada menos que o venerado NY Times - está explicando, se não justificando, o ataque. Afinal, um agitador não merece ser atacado? Ele não provocou isso para si mesmo?

Ao permitir sua própria perspectiva preconceituosa influenciando este artigo, o grande NY Times se torna um agitador por si mesmo - impondo sua opinião sobre seus leitores.

O Times ousaria descrever um gay ou um ativista dos direitos civis (sob ataque) com o nome “agitador”?

Um relato objetivo teria parecido ditar que você primeiro narra os fatos (um homem tentou assassinar outro) antes de comentar sobre a personalidade e caráter da vítima.

O Times ousaria sequer abrir um artigo com a declaração que “uma mulher promíscua foi sexualmente atacada por um homem”, sugerindo de alguma forma que a vítima estava errada? Jamais. É simplesmente uma forma de o jornalismo amarelo apresentar um caso sem permitir que o leitor decida com base nos fatos.

Não importa se você concorda ou não com a opinião de Yisroel Glick, as pessoas civis podem todas concordar que assassinos, reais ou em potencial, são os verdadeiros agitadores. Assim, uma manchete adequada ao artigo deveria ter dito: “Pretenso terrorista ou agressor muçulmano fere ativista israelense.”

Deja vu
Este episódio trouxe lembranças de outra história “preconceituosa” do NY Times, que testemunhei pessoalmente. Durante os levantes de Crown Heights no verão de 1991, quando os negros estavam atacando judeus e vandalizando suas lojas e casas, culminando no sangrento assassinato de Yankel Rosenbaum, o Times cobriu os eventos em seu próprio estilo inimitável. Numa reportagem pretensamente justa e equilibrada, o Times escreveu que primeiro um carro num desfile judaico de automóveis atingiu e matou uma criança negra, Gavin Cato. Então um grupo de negros matou o Sr. Rosenbaum - como se os dois fossem eventos idênticos. Na verdade, foram tão diferentes quanto possível: a primeira morte trágica foi com certeza um acidente; a última - um assassinato deliberado e planejado.

Numa tentativa de consertar o registro, submeti na época um artigo descrevendo os eventos daquela noite conforme os testemunhei pessoalmente. Desnecessário dizer, o Times não aceitou minha descrição.

Parece que afinal, meu avô estava certo. Anos atrás, quando eu era adolescente, ele me disse que tudo que é escrito no jornal é mentira, até a data na primeira página, porque o jornal foi impresso na noite anterior…

Na época discuti com meu avô, apresentando minha perspectiva “progressista” de que ele desconfiava de todas as novidades, pois estava vindo da primitiva União Soviética, onde a propaganda mandava na imprensa, e um jornal pode se chamar de “verdade” (Pravda em russo significa “verdade”; o jornal comunista yidish era chamado “emes” - verdade em yidish, não importando se era escrito com ayin, mem, ayin, samech) imagine um jornal nos Estados Unidos sendo chamado de “A Verdade”. Mas atualmente, no moderno e evoluído mundo livre, onde a liberdade de imprensa é um direito divino, podemos confiar na mídia. “Zeide”, eu disse, “vivemos num novo mundo. Hoje a mídia merece confiança.”

Não era importante que o genro dele, meu pai, era um jornalista. Pensando bem, isso pode ter sido parte do motivo pelo qual meu avô estava desprezando a mídia. Mas hoje, quando eu próprio já sou avô, comecei a pensar que meu zeide poderia ter alguma razão.

Para que você não pense que me transformei num sujeito suspeito ou um teórico da conspiração, desconfiando de toda história que leio, deixe-me assegurar a você que este não é o caso (posso ser). É somente para enfatizar que devemos aceitar tudo que lemos - até vindo de fontes estabelecidas e respeitáveis - com uma pitada de sal.

Lembremos que a mídia acima de tudo (devido à responsabilidade que eles têm ao transmitir as notícias ao público): somos todos preconceituosos e subjetivos, levando por dentro noções pré-concebidas. A pessoa honesta, homem ou mulher de integridade, não é aquela que é objetiva, mas o humilde - aquela que reconhece a própria subjetividade, e se sente responsável por apresentar uma história mudada (mesmo que levemente), devido a um ponto de vista pessoal ou baseado no auto-interesse. (Outro exemplo disso são aqueles jornalistas e eruditos que sentem orgulho pelo seu envolvimento nas palestras em Oslo, esperando atingir glória, e quando aquelas palestras fracassam, seu orgulho ferido pode fazer com que caiam e mantenham posições obstinadas e preconceituosas sobre Israel e a solução dos dois estados).

E reconheça que às vezes aqueles que acusam outros de agitadores podem ser os maiores agitadores de todos.

 

 

 
   
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