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Era
um sonho de infância que se tornava realidade. Eu sempre quis ser
um cientista, e aqui estava eu, aprendendo a fazer exatamente isto num
laboratório de química orgânica numa universidade,
usando nada menos que um avental branco, medindo miligramas de cristais,
milímetros de solventes, misturando e cozinhando, assistindo e
esperando as reações mágicas, registrando os resultados
que mais uma vez validariam a teoria do átomo.
Toda pessoa é obrigada a dizer: “Bishvili
nivra há’olam” – “Por minha causa, o universo
foi criado.”A química é sobre moléculas,
e as moléculas são feitas de átomos. Se você
entendesse como os átomos se conectam uns aos outros, você
poderia entender tudo, porque essa era a realidade trazida aos seus componentes
mais básicos.
Ou assim eu pensava.
No meio dessa sessão de laboratório, enquanto literalmente
centenas de estudantes como eu, ainda não graduados, estavam correndo
contra o relógio, acompanhando receitas bombásticas para
manufaturar moléculas grandes e complicadas a partir das partes
mais simples, fui chamado de lado por um dos diversos supervisores, um
estudante doutorando em química que queria conversar.
“Agora não,” descartei-o quase rudemente. “Tenho
de terminar esse experimento e ainda há muito a fazer.”
“Não se preocupe a esse respeito,” disse ele. “Isso
é importante.”
“Mas e quanto aos resultados?”
“Quem você pensa que está marcando você, por
falar nisso? Não sabe quais resultados você deve conseguir
com esse experimento?”
“Claro que sei. Porém teoria é uma coisa, a prática
é outra.”
“Na verdade, é aí que quero chegar. Que nota você
quer conseguir – um A? Vou dá-lo a você. Apenas venha
até aqui com esses outros caras e escute o que tenho a dizer.”
Aquilo tudo me parecia bem estranho mas, veja só, se ele estava
disposto a me dar um A de qualquer maneira, por que não? Um grupo
com cerca de seis alunos ficou em silêncio em volta do estudante
enquanto nossos colegas se ocupavam com as tarefas à mão.
Se eu sou tão importante, o que tudo
o mais está fazendo aqui?“Basicamente quero apenas
que vocês saibam que os átomos não são reais.”
“O que isso quer dizer?”
“A teoria atômica, bem, afinal, não passa de uma teoria.
Não sabemos o que realmente está se passando no nível
submicroscópico. Ocorre que quando você presume que a teoria
é verdadeira, as observações são previsíveis,
mas poderia haver outras teorias sobre a matéria que também
explicam essas observações.
“Além disso, grande parte da teoria atômica não
faz qualquer sentido. Quanto mais você a estuda, mais estranha ela
fica. Na verdade não explica nada. Pode apenas descrever nossas
observações com modelos matemáticos. Mas por que
aqueles modelos matemáticos deveriam funcionar? Ninguém
realmente sabe.”
Francamente, na hora pensei que ele estivesse louco – quem sabe,
talvez estivesse. Porém estou pensando sobre ele hoje enquanto
enrolo o Rolo de Torá de volta ao início e à criação
do homem, o primeiro homem, Adam.
Segundo os sábios, a criação do homem foi diferente
daquela de qualquer outra forma de vida. Todas as plantas e animas foram
criados por espécies, em grandes números, ao passo que o
homem foi criado no singular. Até sua parceira foi criada separadamente
um pouco depois. Mas por que foi assim? Qual era o propósito dessa
atenção especial ao ser humano?
Isso, dizem nossos sábios, é para enfatizar a imensurável
importância individual de cada ser humano – homem, mulher
ou criança. De fato, toda pessoa é obrigada a dizer: “Bishvili
nivra há’olam” – “Por minha causa, o universo
foi criado.”
Para o judeu ortodoxo, isso pode parecer como apenas outra pérola
de sabedoria vinda do tesouro da Torá. Mas para alguém como
eu, que foi doutrinado nas ciências, é como uma bomba, e
por dois motivos: primeiro, pula na face da noção popular
de que tudo evoluiu no decorrer de bilhões de anos através
de eventos aleatórios. É claro que não há
prova disto, e na verdade há bons motivos para se duvidar, mas
é parte de nosso legado secular, remanescente da opinião
materialista do Século Dezenove. Segundo esta crença, todo
significado é imaginário e a “verdade” é
que a vida não passa de um soluço sem sentido no grande
esquema cosmológico das coisas, e qualquer outra crença
é um mito sem substância. Mais um ponto contra “Por
minha causa o mundo foi criado”.
O segundo motivo para o cientista secular ficar surpreeendido com essa
declaração é a pura enormidade do universo. Toda
a humanidade habita uma fina biosfera num minúsculo planeta numa
pequena galáxia numa pequena família de galáxias
flutuando na inimaginável vastidão do espaço. Se
eu sou tão importante, o que tudo o mais está fazendo aqui?
A esmagadora maioria de cada átomo é
espaço vazio. A coisa não é realmente coisa –
são campos de energiaIronicamente, é o próprio
modelo racionalista e materialista das coisas que levaram ao seu próprio
desfavor. Como os cientistas tentam explicar os fenômenos? Por análise,
ou seja, separando-os. Pegue um sistema, desmembre-o, examine as partes,
desmembre-as em partes menores até finalmente você chegar
aos átomos e suas partes componentes, os quanta.
De acordo com essa abordagem, se entendermos os blocos de construção
do quantum, entenderemos a natureza como um todo. Porém esses quanta
não se comportam como blocos de construção normais.
Por um lado, a esmagadora maioria de cada átomo é espaço
vazio. A coisa não é realmente coisa – são
campos de energia. E os elétrons que ocupam a maior parte do volume
do átomo são entidades misteriosas que fazem incontáveis
coisas estranhas como pular de nível em nível sem passar
pelo espaço intermediário.
Talvez a propriedade mais surpreendente do quantum seja que não
pode ser considerado objetivamente real até ser observado. Parece
que a maneira pela qual você olha para ele determina o que é.
Se você escolher observá-lo como uma onda, ele é e
sempre será uma onda. Se você preferir olhar como uma partícula,
é e sempre será uma partícula. Não importa
que algo não possa ser tanto onda como partícula ao mesmo
tempo. Por exemplo, uma onda pode passar por dois buracos ao mesmo tempo,
ao passo que uma partícula pode passar somente por um. De repente,
não parece mais tão absurdo dizer “por minha causa
o mundo foi criado”.
Os físicos se referem a esta mistura de sujeito-objeto como observadores,
e como tudo é feito a partir destes quanta, a nova física
de alguma forma coloca o homem de volta no meio da realidade física.
Talvez um exemplo mais radical disso seja a não-localidade. Desde
1982, experimentos têm sido replicados ao mundo mostrando que nossa
opção de como observar a realidade em um local define como
ela se desdobra também em outros locais. Por exemplo, se você
arremessar pequenas partículas alfa (núcleos de hélio)
num bloco de cálcio da maneira certa, terá pares de fótons
que voam em direções opostas. Ocorre que você pode
escolher qual das duas propriedades opostas um dos pares tem, e por mais
estranho que pareça, tendo feito isso, seu gêmeo distante
irá necessariamente mostrar a propriedade oposta.
Por exemplo, observar o primeiro fóton como forças “girando
para cima”, o outro ficará “girando para baixo”,
mas você poderia igualmente ter escolhido o primeiro fóton
como “girando para baixo”, o que teria forçado o segundo
a “girar para cima”. O surpreendente disto é que o
efeito é não-local, o que significa que a observação
impacta instantaneamente o aqui e agora, bem como objetos remotos e tempos
anteriores. E como se acredita que todos os quanta do universo estão
conectados, ou “ligados”, como os físicos dizem, cada
observação impacta o mundo como um todo.
Passo a passo, “por minha causa, o mundo foi criado” está
soando mais e mais plausível.
O detalhe é que os mesmos físicos que costumavam nos ensinar
que os seres humanos são irrelevantes, ajuntamentos aleatórios
de poeira reciclada, agora estão nos dizendo exatamente o oposto:
que todo e cada um de nós tem o poder de determinar a realidade
física e até a história do universo como um todo,
até voltar às suas origens. E tudo isso apenas exercitando
as faculdades humanas.
Ao explorar o átomo, revelamos percepções dentro
de Adam, e o papel singular e central da humanidade em como o universo
se desdobra. Essa nova/velha visão da vida tem implicações
existenciais enormes e assustadoras, e a pessoa poderia facilmente ser
sobrepujada.
Como antídoto, tente a seguinte anedota, contada por Monty Charness
ao meu filho por ocasião do seu bar mitsvá. Um homem deu
ao filho o mapa mundi, mas o mapa estava rasgado em muitos pedaços.
O pai disse que cabia ao menino colocar o mundo de volta no lugar, mas
não seria fácil. Em apenas alguns minutos, o menino voltou
com o mapa perfeitamente montado.
“Como fez isso tão depressa? É especialista em geografia
universal?”
“De modo algum! Eu vi que do outro lado havia a foto de um menino,
Eu sabia que se conseguisse montar o menino, o mundo ficaria certo, e
foi o que eu fiz.”
Não vamos nos deixar assustar pelo destino do mundo grande e complicado
que está em nossas mãos. Em vez disso, vamos nos concentrar
em restaurar nossa própria imagem, como um judeu feliz buscando
bondade e gentileza, e então o outro lado do desenho se ajustará
no lugar, um mundo tão pronto como nós somos… para
Mashiach, agora.
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