Ex-funcionário do Departamento de Estado relata sobre os esforços do governo americano para conseguir o retorno da coleção Schneerson
       
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  Por Leon S. Fuerth
   
 

Durante vinte anos, tenho tido a honra de servir Al Gore como conselheiro em assuntos de segurança nacional. Durante sua carreira na Câmara, no Senado e na Casa Branca, o Vice Presidente tem aproveitado muitas oportunidades para tentar transformar o mundo num lugar melhor.

Embora todos nós tentemos atingir este objetivo à nossa própria maneira, um Vice Presidente está na posição única de ter uma influência especialmente forte sobre os acontecimentos - e muitos destes esforços não merecem manchetes.

Gostaria de compartilhar uma breve história sobre um destes pouco conhecidos esforços.

Em dezembro de 1993, Al Gore fez sua primeira visita oficial à Rússia como Vice Presidente. Esta viagem apresentou uma oportunidade chave para a nova administração estabelecer um diálogo com o governo russo e expor seus objetivos para o relacionamento entre as duas nações.

Ao voarmos para o encontro com Boris Yeltsin, revisamos os vários pontos em nossa agenda. Além de tratar de extensos assuntos geopolíticos, planejávamos também cuidar de um item menor, mais pessoal - o retorno da coleção Schneerson, uma biblioteca de 12.000 textos confiscada pelos russos durante a revolução Bolchevique.

Era o ano de 1917 na cidade de Lubavitch, Rússia, e livros religiosos estavam sendo queimados durante um pogrom anti-judaico. Para impedir a destruição de muitos textos sagrados datados da época do Báal Shem Tov, Rabi Sholom Dov Ber de Lubavitch, o quinto Rebe de Chabad, enviou 12.000 livros de sua biblioteca para um armazém em Moscou para que fossem preservados.

Infelizmente, as autoridades bolcheviques retiraram os livros do armazém e os trancaram na Biblioteca Lenin, controlada pelo Estado.

Este confisco forçado representou uma séria injustiça. Os livros tinham pouco valor para as autoridades soviéticas, mas representavam uma parte importante do legado espiritual judaico.

Logo depois, o Rebe, sua família e seguidores fugiram da crescente perseguição na Rússia e emigraram para os Estados Unidos. A partir daí, como cidadãos americanos, a família Schneerson iniciou uma longa luta para reclamar sua preciosa herança para que pudessem compartilhá-la com o povo judeu e o mundo em geral.

Desde os anos de 1940, o governo americano tem insistido com as autoridades em Moscou para retornar estes livros aos seus verdadeiros proprietários. Al Gore perseguiu este objetivo com afinco no Senado no início da década de 90, trabalhando em conjunto com a Administração Bush e emergindo como um líder de um esforço bipartidário.

Gore passou uma legislação condicionando alguma ajuda à Rússia ao retorno dos livros, e mais tarde certificou-se que os arquivos Smolensk da Rússia - atualmente armazenados nos Arquivos Nacionais dos Estados Unidos - não fossem enviados de volta a Moscou até a liberação da coleção Schneerson.

Antes desta viagem a Moscou em 1993, o Vice Presidente Al Gore reafirmou seu comprometimento com esta causa e tornou claro aos russos que esperava um progresso imediato. Durante sua visita à Biblioteca Lenin, o Vice Presidente teve acesso aos livros prisioneiros.

Mal impressionado pela maneira pela qual os livros eram tratados na biblioteca, ele recusou uma seção de fotos organizada pela equipe. Mais tarde, o Vice Presidente recebeu um penhor de boa vontade: os russos disseram que um único texto à sua escolha voltaria à custódia do Lubavitcher Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson. O Vice Presidente escolheu um livro chamado O Tanya.

Jamais esquecerei aquele livro - tem uma capa de couro já gasta, com as letras gravadas em hebraico, e suas páginas amareladas contêm uma mensagem infinita. A história do livro representa o sofrimento dos judeus através dos tempos, e seu lançamento proporciona uma esperança para a sobrevivência dos justos neste mundo. Este Tanya era originalmente um presente dado pelos discípulos ao Rebe de Lubavitch; agora é um presente a toda a humanidade.

Mais sete livros foram em seguida devolvidos ao Presidente Clinton durante sua primeira visita à Rússia. A Administração continua trabalhando pelo retorno de toda a coleção, e sei que receberemos ininterrupto apoio bipartidário. Estou confiante que assim como o Tanya está agora alojado na sala do Rebe onde é seu lugar; a justiça encontrará seu lugar neste mundo.

A propósito, uma outra parte desta história recentemente ganhou um significado extra. Conforme já mencionei, o então Senador Gore foi o responsável pela legislação pedindo aos russos que devolvessem os livros; o co-responsável pela lei original foi o Senador Joseph Lieberman.

Leon S. Fuerth é ex-funcionário do Departamento de Estado para Serviço Exterior; atualmente faz parte do Comitê Constituinte e é conselheiro em segurança nacional para o Vice-Presidente Americano Al Gore.

 

 

   
   
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