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Em um pronunciamento
bastante incisivo, o primeiro-ministro francês Manuel Valls denunciou
em 13 de janeiro na Assembleia Nacional em Paris o aumento do antissemitismo
na França e fez mea culpa coletivo: "Nós não
demonstrarmos indignação suficiente."
Valls assinalou a ameaça representada pelo antissemitismo: "Eu
digo às pessoas que não reagiram suficientemente até
agora e aos nossos compatriotas judeus, que, desta vez, o antissemitismo
não será mais aceito. A história nos ensinou que
o despertar do antissemitismo é o sintoma de uma crise da democracia
e de uma crise para a República. É por isso que temos de
responder com força”.
Recordando uma série de atentados antissemitas na França
nos últimos anos, como o assassinato de três crianças
pequenas e um rabino por um terrorista islâmico em uma escola judaica
em Toulouse em 2012, e o estupro de uma jovem judia no subúrbio
parisiense de Créteil, em dezembro de 2014, Valls afirmou que estes
e outros incidentes "não produziram a indignação
nacional que nossos compatriotas judeus esperavam."
"Como podemos aceitar que na França, onde os judeus foram
emancipados há dois séculos, e martirizados durante o Holocausto
há 70 anos, gritos de morte aos judeus sejam ouvidos nas ruas?
Como podemos aceitar que franceses sejam assassinados por serem judeus?
Como podemos aceitar que nossos compatriotas sejam mortos quando saem
para comprar o pão para o Shabat?”
Valls observou que "há um antissemitismo histórico
de muitos séculos. Mas há também um novo antissemitismo
que nasce em nossos bairros, vindo pela internet, que, contra o pano de
fundo do ódio ao Estado de Israel, defende o ódio a todos
os judeus. Temos que ser claros e usar as palavras certas para combater
este antissemitismo inaceitável".
"Esta é a mensagem que temos para comunicar alto e claro.
Como podemos aceitar que, em certas escolas e faculdades o Holocausto
não possa ser ensinado? Como podemos aceitar que quando se pergunta
a uma criança: ‘Quem é o seu inimigo’, a resposta
seja ‘o judeu?’ Quando os judeus da França são
atacados, toda a França é atacada, a consciência universal
é atacada. Nunca nos esqueçamos disso".
O primeiro-ministro também confrontou o comediante antissemita
Dieudonné: "Nunca deixaremos estes assuntos passarem em silêncio.
Devemos ser intransigentes com aqueles que pregam o ódio”.
Valls terminou seu discurso analisando a diferença entre a blasfêmia
e o discurso de ódio, "Quando um cidadão se aproxima
e me faz a seguinte pergunta: ‘Mas eu não entendo, como é
que você quer silenciar esse comediante, e ao mesmo tempo coloca
os cartunistas do Charlie Hebdo em um pedestal?’.
E eu respondo: ‘Há uma diferença fundamental entre
a liberdade de ser insolente – a blasfêmia não é
crime e nunca será - e o antissemitismo, o racismo, a apologia
do terrorismo e a negação do Holocausto - crimes que devem
ser punidos cada vez com maior rigor."
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