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Numa aula do Ensino
Médio, minha irmã recebeu uma tarefa: Com U$ 90.000,00 por
ano e quatro filhos, ela deveria criar um orçamento que funcionasse.
Após lutar com a incumbência durante algum tempo, minha irmã
pediu ajuda à minha mãe.
“Mãe”, disse ela, “cortei tudo que poderia ser
cortado, e ainda não consigo equilibrar o orçamento!”
Em última instância, ela se livrou do carro fictício,
treinou seu filho fictício a se livrar das fraldas fictícias,
e abriu mão do celular fictício. Finalmente, o orçamento
ficou equilibrado.
Quando eu estava na escola, também estudei Economia, durante dois
semestres. Aprendi sobre macro e micro economias, sobre taxas de juros,
Banco Central e “otras cositas más”. Tirava excelentes
notas no curso e minha professora achava que eu tinha futuro no campo
da economia. Porém ninguém jamais me falou sobre equilibrar
orçamentos.
A vida seguiu em frente, e todas estas questões teóricas
sobre orçamentos se tornaram reais. Como então as pessoas
conseguem? perguntei a mim mesma. Será que conseguem? As questões
me incomodaram durante muito tempo. Como eu gostaria de poder dar uma
olhada no talão de cheques e no livro de contas de alguém!
Não para sentir inveja, apenas para aprender o mecanismo, saber
como a coisa toda funciona.
À medida que ficava mais velha e conversava com mais pessoas, esperava
aprender o segredo do sucesso econômico. Finalmente, descobri a
verdade: não há segredos. Apesar disso, um olhar para a
realidade nua e crua me foi benéfico, como espero que seja para
você.
Como eles conseguem?
Talvez a primeira pergunta que deva ser feita não é como
outras famílias conseguem; a questão deveria ser: elas conseguem?
Sim, existem famílias que são fabulosamente ricas, tendo
se destacado no mundo empresarial. Há outras cujos empregos cobrem
bem suas despesas; e no mundo de hoje, um emprego de fato precisa ser
lucrativo para fazer isto. Porém e quanto àqueles que não
se enquadram nessas categorias? Famílias com rendas mais modestas,
que mesmo assim parecem capazes de comprar imóveis, carros último
tipo, e outras armadilhas da vida luxuosa?
Por qualquer ângulo que se olhe, é impossível ter
um estilo de vida de moderado a luxuoso sem uma renda compatível.
Um olhar por trás das portas fechadas pode revelar uma dessas possibilidades:
as famílias estão recebendo ajuda de outros membros da família
ou da comunidade; sobrevivem graças a diversos programas de ajuda
do governo; ou estão profundamente endividadas.
Desde tempos imemoriais, sempre existiram os ricos, os pobres e a classe
média. O que pode ser diferente nos tempos de hoje é a grande
quantidade de dinheiro que as famílias precisam, apenas para seguir
vivendo. Uma família religiosa pode ser considerada classe média
alta ou até rica pelos padrões não-judaicos, e mesmo
assim estar lutando para colocar comida sobre a mesa. E isso sem contar
as despesas com bar mitsvot, seminários e casamentos para os filhos.
A tensão é enorme, para onde quer que você se volte.
Talvez o aspecto mais difícil seja o medo do impacto sobre os filhos.
Se eu não comprar uma mochila da Hello Kitty, não pagar
férias nas montanhas, um dote generoso, pensamos, como ela conseguirá
fazer amigos no primário/passar pela privação de
um verão na cidade/encontrar um bom rapaz para se casar?
Vendo-se sem opção, as famílias podem entrar no abismo
das dívidas, empréstimos e cartões de crédito,
gemach, ou contra a liquidez de suas casas. Quando usadas de maneira inteligente,
essas opções podem ser as unicas possibilidades de sobrevivência;
quando mal usadas ou abusadas, podem levar a família à completa
ruína financeira.
Planejar o orçamento dentro do próprio estilo de
vida
Presumindo que você não entrou em dívidas chocantes,
e não está vivendo acima dos próprios meios, o que
faz quando simplesmente não consegue fazer o dinheiro durar até
o fim do mês? Ou quando a conta bancária chega a zero todo
mês, e a família tem a eterna sensação de estar
vivendo no limite?
Se o déficit é relativamente pequeno, a solução
pode ser criar um plano viável de orçamento.
“Fazer o orçamento é na verdade apenas uma questão
de sentar-se e olhar no espelho financeiro,” explica Avraham Ostreicher
de Seviços Financeiros em Lakewood. “Itens desnecessários
têm o hábito de se tornarem essenciais sem que você
perceba.”
Conselhos simples logo no início. No entanto, a lista de itens
que podem ser considerados “desnecessários” é
extremamente ampla. É muito fácil olhar sobre o ombro para
a sociedade de outrem e rotular seus gastos como excessivos, materialistas
e repletos de ostentação. No entanto, cada sociedade tem
sua gama de estilos de vida. Para qualquer grupo que se olhe, sempre haverá
“os mais ricos” e os “mais pobres”. Em toda sociedade,
as pessoas têm conflitos com compras para o ego e estilos de vida
para afagar o ego.
Em uma sociedade, seria considerado “normal” para uma família
com sete pessoas morar num apartamento de dois quartos, “ostentação”
para eles morar num apartamento com cinco dormitórios, e “pobre”
para eles morar num apartamento com um só quarto. Em outra sociedade,
uma família de sete membros consideraria “normal” morar
numa casa com cinco quartos, “ostentação” morar
numa casa com dez dormitórios e “pobre” morar num apartamento
com três quartos. Na verdade, podemos todos ser considerados ostentosos
por possuir artigos de luxo como telefone, eletricidade e água
encanada’ porém quantas pessoas atualmente são capazes
de abrir mão da máquina de lavar roupas?
O planejamento precisa ser feito dentro do âmbito da realidade,
cada pessoa segundo suas necessidades e de acordo com a sociedade onde
vive.
Eli Pollock é um conselheiro em Baltimore que ajuda famílias
frum a planejar seus orçamentos. Quando o Sr. Pollock se encontra
com um cliente para ajudá-lo a planejar seu orçamento, ele
começa relacionando a renda e as despesas fixas. Essas incluem
o pagamento da casa, contas como luz, telefone, despesas com o carro,
plano de saúde, empréstimos e quaisquer outras despesas
fixas. Depois que isso tudo foi relacionado, fica aparente o quanto sobra
para despesas envolvendo comida, roupas e lazer.
Um engano comum a muitas pessoas é “fazer o orçamento
de trás para diante”: primeiro gastam o dinheiro nas despessa
móveis, ficando então sem dinheiro para as despesas fixas
como o pagamento da casa. Apesar disso, você não pode planejar
o orçamento numa maneira que o deixe de espírito alquebrado,”
explica o Sr. Pollock. “Você não precisa estar por
um fio, mas também não precisa vestir roupas que herdou
da sua avó.”
Avraham Ostreicher relata ter conversado com um homem que tinha uma renda
razoável, mas não conseguia economizar. Após revisar
cada gasto no talão de cheques do homem, ficou óbvio que
havia gastos exorbitantes em roupas para as crianças.
“Que tipo de roupas vocês compram para os seus filhos?”
perguntou Ostreicher.
“Não sei,” respondeu o homem. “É minha
mulher quem compra.” Ao perguntar, souberam que a jovem costumava
comprar doze roupas para cada criança a cada estação,
e cada roupa custava acima de cem dólares.
“Eu não diria a uma mulher como esta para começar
a comprar em liquidações de roupas usadas,” relata
Ostreicher. “Seria muito drástico para alguém acostumado
a este estilo de vida. Porém sugeri que em vez de doze roupas,
ela passasse a comprar dez.”
Por outro lado, para alguém acostumado a comprar pechinchas em
liquidações, ou até artigos usados, esta pode ser
uma solução. Planejar o orçamento é na verdade
olhar no espelho, mas não apenas para as finanças; o planejamento
financeiro corta até o âmago da pessoa, e a dispõe
a gastar menos para ter um bem maior.
Cortando o orçamento – realisticamente
Num mundo realista, que opções existem para planejar o orçamento?
A lista, uma vez que se faça uma pausa para pensar a respeito,
é longa.
“Sim, você precisa comer,” diz Ostreicher. “Mas
e todas aquelas iguarias que as pessoas compram e não comem e terminam
sendo jogadas no lixo, semana após semana? E você precisa
comprar um presente tão caro para a festa de seu amigo, ou pode
pesquisar nas lojas e cortar seus gastos em um terço? E todos aqueles
livros e publicações que as pessoas compram, mas não
conseguem ler?
“Não tento fazer com que as pessoas mudem completamente seu
estilo de vida,” continua Ostreicher. “Porém tento
fazer com que prestem atenção aos gastos desnecessários
dentro do seu estilo de vida. Praticando algumas restrições,
elas terminam por ficar mais saudáveis, financeiramente.
Eli Pollock recomenda alguns livros populares para auxiliar no orçamento
doméstico, para aqueles interessados em explorar todo o conjunto
de medidas que podem ajudar no planejamento dos gastos.
“Tente durante um mês, mesmo que pareça um tanto drástico,”
diz Pollock aos seus clientes. “Quando as pessoas me procuram com
problemas financeiros, parte da solução é reduzir
a compra de comida de conveniência e lanches rápidos.. Às
vezes, deve-se aprender todo um conjunto de maneiras de comprar.”
Sim, alguns protestam que estas medidas vão além do reino
da normalidade. Por outro lado, qual a Halachá que declara que
o desjejum deve consistir de cereal? Algumas mães podem decidir
que as economias simplesmente não valem a pena o esforço.
Outras podem achar que vale a pena se isso permitir que elas sejam financeiramente
independentes, ou que fiquem em casa com os filhos.
Pollock recomenda dar uma pequena recompensa a si mesmo pelo cuidado com
os gastos. “Se você foi cuidadoso e conseguiu economizar 10
dolares por semana durante os últimos cinco anos, parabéns!
Você merece usar aquele dinheiro numa viagem para Israel, ou algo
mais que sempre desejou. Enfatizo sempre que as pessoas devem ter metas
pelas quais trabalhar e se esforçar.”
Qualquer que seja a decisão para as suas circunstâncias pessoais,
a noção de planejar o orçamnto não pode ser
deixada de lado. Até os multimilionários devem praticar
alguma forma de restrição: ninguém tem recursos ilimitados.
E se isso não der certo…
“Quando um casal com renda de $150.000 por ano me procura com problemas
financeiros, isso é muito menos frustrante: tenho algo para trabalhar,”
diz Pollock. “Sei que vou conseguir colocá-los de novo na
linha: um déficit de $10.000 pode definitivamente ser coberto cortando
despesas e fazendo planejamento. Mas e quando a família ganha $50.000
por ano, estão numa crise total. Quanto mais eles podem cortar?”
Estas famílias provavelmente estão raspando e economizando
de todas as maneiras possíveis. Até o melhor planejador
financeiro não consegue criar renda a partir do nada. Quando uma
família chega ao ponto em que a lacuna entre a renda e as despesas
chega a dezenas de milhares de dólares, [no nosso caso, reais]
planejar o orçamento não é a única resposta.
Quais são as possibilidades? Os pais talvez tenham de encontrar
empregos adicionais. A família pode ter de considerar uma mudança
de moradia. Algumas talvez tenham de recorrer a vendas das propriedades
ou bens. E outras talvez tenham de receber fundos de tsedacá se
não há pessoas na família que possam ajudar. De uma
maneira ou de outra, a lacuna precisa ser preenchida.
Uma característica especialmente difícil do sistema americano
é que, uma vez que a família esteja acima da linha da pobreza,
tem muita probabilidade de ser atirada numa crise imediata. Embora isso
pareça um paradoxo, considere os fatos: famílias cuja renda
cai abaixo de um certo nível são geralmente elegíveis
para seguro médico subsidiado, auxílio moradia e isenção
de impostos, além de desconto nas matrículas. Quando a família
começa a se sair razoavelmente bem, é jogada num festival
de despesas. De repente, precisam pagar seguro saúde integral,
aluguel ou hipoteca, matrículas muito mais elevadas e impostos.
Dessa forma, o fenômeno de médicos, advogados e profissionais
liberais em dificuldades se tornou muito mais comum. Empresários
podem ser atingidos por problemas ainda maiores; devido à natureza
imprevisível do mundo comercial. Um negócio que deu errado
pode transformar pessoas ricas em pessoas com dificuldades da noite para
o dia.
Curvas na Estrada
Com o mundo na velocidade imprevisível em que gira hoje, é
duplamente importante olhar para a frente e planejar. Como diz o slogan
de Ostreicher: “As pessoas não planejam falhar; elas falham
em planejar.”
“Assim como você olha para as curvas na estrada quando dirige,”
diz Ostreicher, “precisa estar preparado para fazer as curvas quando
elas aparecem no âmbito financeiro. Há determinadas épocas
do ano que geram despesas maiores. Sucot, Pêssach, casamentos e
colônias de férias… Você precisa estar preparado.
Se pretende gastar muito em presentes de Chanucá, a hora de começar
a economizar para isso é entre Sucot e Chanucá. Se está
planejando ir para uma colônia de férias ou enviar as crianças
para acampamentos neste verão, deve começar a guardar $1000
por mês o ano inteiro, para que não seja surpreendido por
uma conta de $10.000 em junho. Um pouco de planejamento leva você
longe, muito longe. Planejar o orçamento não é uma
ciência sideral: muitas vezes, o bom senso é que está
sendo negligenciado.”
Dentre as necessidades, Ostreicher sente que é importante as famílias
terem um fundo para emergências, para um dia de chuva. O fundo deve
incluir o suficiente para manter a família por um ou dois meses,
“Al kol hatová sheyavo
- para tudo de bom que pode acontecer.” Deveria ser apenas para
simchás! Você esperava ter um filho, e nascem gêmeos’
agora precisam de dois carrinhos, dois berços, duas cadeirinhas
para o carro. A geladeira quebra; o carro está com problemas. Seja
o que for, o fundo de emergência precisa ser uma prioridade em seu
orçamento.”
Após levar em conta todas as eventualidades e despesas anuais,
o orçamento teórico da minha irmã no Ensino Médio
ficou equilibrado. No entanto, antes de deixar a sala de aula, e antes
de encerrar este artigo, devemos nos lembrar das lições
que foram ensinadas na mesma sala de aula durante as sessões limudei
kodesh: Parnassá (sustento) com todas as suas dificuldades e bênçãos
incipientes, é na verdade uma questão de siyata d’Shmaya.
Como explica o Chovos HaLevavos em Shaaar HaBitachon, nosso trabalho é
fazer nosso hishtadlus, e, ao mesmo tempo, saber que nossas ações
não têm efeito na quantidade definitiva de sustento que nos
será proporcionado. Precisamos rezar: precisamos olhar para a sabedoria
da Torá por orientação. Esteja ou não a pessoa
se saindo bem, a quantidade real de sustento que cada pessoa recebe é
resultado direto de um decreto Celestial. O ponto principal, de exatamente
quem irá receber e quando, é decidido em Rosh Hashaná,
a ser recebido por nós da Mão do Todo Poderoso.
Uma Sugestão
Com tudo que se fala atualmente sobre as dificuldades de se sair bem financeiramente,
o que pode ser feito sobre isto? No decorrer de sua provisão de tsedacá
a famílias necessitadas, Rabino Schochett tem notado grande quantidade
de maneiras que as famílias usam para lidar com seus problemas financeiros.
Baseado nessa experiência com famílias com problemas de orçamento,
Rabino Schochett acha que deve-se dar alguns passos para prevenir esse tipo
de situação. Talvez conselheiros e especialistas em finanças
possam dar cursos ou seminários sobre orçamento e responsabilidade
financeira para jovens casais, muito antes que eles caiam em dificuldades
financeiras reais. Um olhar para a realidade das necessidades das famílias
frum e uma diminuição nos números exigidos apenas para
se manter pode ajudar a abrir os olhos.
Na opinião de Rabino Schochett, um pouco de conhecimento prévio
pode a longo prazo ajudar pelo menos algumas famílias a se livrarem
das dificuldades financeiras. |