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Estátua da Liberdade para os milhões de emigrantes que procuram
na terra americana um abrigo seguro, é o símbolo da promessa
de liberdade. Mas o que poucos sabem, é que o poema gravado nos
pés da estátua, famoso em todo solo americano, e que expressa
a angústia e a esperança destes homens, é de autoria
de uma poetisa judia americana, Emma Lazarus.
Escritora americana de grande renome Emma nasceu em 1849, em Nova York
filha de uma abastada família Sefardita. Educada por tutores particulares
demonstrou muito cedo seus dons poéticos, publicando em 1867, seu
primeiro livro em versos, "Poemas e Traduções".
Coletânea escrita entre a idade de 14 a 17 anos, chamou a atenção
de Ralph Wald Emerson, com o qual Emma se correspondeu durante muitos
anos. Sua aptidão para a poesia foi grandemente louvada por Bryant
e Whitman.
Em 1871, seu segundo livro "Admerus e outros poemas" contém
um trabalho com tema judaico, "Na sinagoga judaica de Newport".
Esta poesia foi reproduzida pelo "American Hebrew", jornal da
comunidade judaica, juntamente com a tradução de Emma de
grandes poetas sefarditas da época de ouro da Espanha, como Ibn
Gabirol e de Judah Halevi. Suas primeiras obras foram grandemente influenciadas
pelos horrores da Guerra Civil Americana. Mas a partir de seu segundo
livro, Emma começou a se aproximar, cada vez mais, da comunidade
judaica.
Em 1870, o Rabino Gustav Gotheil convenceu-a a traduzir e escrever uma
série de poesias para um novo livro de rezas que estava sendo editado.
A onda de perseguições na Rússia, aos judeus, que
resultaram em uma migração em massa para os Estados Unidos,
afetou a vida e as ações da Emma Lazarus. Os pogroms de
Kishinev de 1907, horripilaram o mundo e no seio da comunidade judaica
americana, revolta provocada pelos ataques, foi essencial para formação
do "Comitê Judaico Americano", cujo objetivo era o combate
ao anti-semitismo. Estes acontecimentos despertaram a consciência
judaica de Emma Lazarus, tornando-a porta voz de seu povo na América,
e levando-a posteriormente ao sionismo. Desde aquele momento tornou-se
notável a série de artigos que escreveu sobre o judaísmo.
Mas para Emma, as palavras não eram suficientes para exprimir sua
angústia e preocupação com os milhares de refugiados
judeus que chegavam a terras americanas.
Certa vez o poeta americano William James escreveu para Emma: "O
poder de brincar com palavras e pensamentos deveria ser o ponto culminante
de uma vida rica em muitos outros aspectos". Mas o que se tornou
"o ponto culminante" na vida de Emma foi seu incansável
trabalho de assistência aos milhares de refugiados judeus que perseguidos
chegavam famintos. Emma juntou-se a grupos judaicos de assistência
e lançou-se em todo tipo de trabalho. Nada era duro ou difícil
para ela. Chegou a usar seu próprio dinheiro para ajudar os emigrantes
em sua fase de adaptação. Trabalhou incessantemente na própria
Stanten Island, a famigerada ilha, por onde os emigrantes eram obrigados
a passar por uma humilhante seleção, que determinava quem
poderia entrar em terras americanas.
As palavras e as ações de Emma Lazarus foram de extrema
importância nesta época, servindo de incentivo para que muitos
outros se juntassem aos esforços dos comitês de ajuda aos
refugiados.
Escreveu nesta época "Sou toda para Israel. Não tenho
outro pensamento, paixão e desejo, além do meu próprio
povo". Desta preocupação incessante, nasceu o livro
"Canções de um Semita".
Em 1883, a França presenteou os Estados Unidos com a Estátua
da Liberdade, que chegaria ao solo americano em 1885. Necessitando-se
de um pedestal para a estátua foi organizado um leilão para
levantar fundos. Neste foram leiloados manuscritos de poetas famosos,
entre os quais Longfellow e Mark Twain. Pediram também a Emma uma
contribuição literária. Apesar de relutante enviou
seu poema "The New Colossus" para o leilão.
Assim que o poeta James Russel Lowell leu seus versos, escreveu: "Gostei
do soneto mais do que gostei da Estátua da Liberdade. O soneto
deu ao objeto em questão uma ‘raison d´être’,
que é, sem dúvida, necessária mais do que o pedestal".
Sua morte prematura, aos 38 anos, foi considerada uma perda para a literatura
americana e para a humanidade, em geral. Raramente surgem no mundo figuras
tão talentosas, ao mesmo tempo, tão dedicadas a aliviar
a miséria de outros.
Em sua honra este poema onde fica expressa sua inteira dedicação
à causa dos oprimidos foi fixado em bronze, aos pés da estátua.
Não
como a fama do gigante de Bronze, da Grécia,
com suas pernas conquista, espaçadas, todas as terras,
aqui em nossos portais lavrados pelo pôr-do-sol marinho,
uma mulher poderosa, com uma tocha, cuja flama
é o relâmpago aprisionado, e seu nome, mãe de todos
os Exílios.
De seu punho farol brilha a acolhida abrangente,
seus olhos meigos, comandam.
O porto, estendido nas alturas emoldurado pelas cidades gêmeas
"Guarde terras ancestrais, com sua pompa histórica!",
grita ela com lábios silenciosos, "Dêem-me os cansados,
os pobres, suas massas apinhadas,
que anseiam por respirar em liberdade.
A recusa desventurada de seu porto abundante
envia a mim esses desabrigados assolados pela tempestade.
Ergo meu tocheiro ao lado do Portão Dourado. |