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Há
cerca de trezentos anos, o café tem sido uma bebida popular em
todo o mundo civilizado, mas pouco se sabe sobre a maneira exata como
foi descoberto.
Talvez você tenha ouvido algumas lendas antigas sobre cabras pastando
nas montanhas, comendo os frutos do cafeeiro, e em seguida dando cabriolas
devido às propriedades estimulantes do café.
Existem outras narrativas que falam sobre um fanático religioso
expulso de Moca que se refugiou nas montanhas da Arábia. Ele provou
alguns frutos estranhos que cresciam num arbusto. Como eram amargos, ele
tentou melhorar o sabor tostando-os sobre o fogo. Isso os tornou quebradiços,
e ele tentou amolecê-los na água, e quando a água
na qual os grãos estavam imersos se tornou marrom, este Sr. Omar
(pois este era o seu nome) bebeu e descobriu como aquilo era bom e revigorante.
Isso foi lá pelos idos do século treze. Muito antes disso
o café crescia à vontade na Abissínia.
O café, até o final do século dezessete, vinha totalmente
da Arábia e era conhecido como Moca, o nome da cidade de sua origem.
Mais ou menos naquela época, espertos mercadores holandeses, percebendo
a crescente demanda e as perspectivas de um novo comércio, induziram
seu governo a experimentar a plantação de café nas
possessões das Índias Orientais Holandesas. O governador
da Ilha de Java distribuiu sementes em várias partes da Ilha e
devido à fertilidade do solo e as condições climáticas
favoráveis, logo as plantas se desenvolveram. De Java, o café
espalhou-se para as Índias Ocidentais e finalmente para a América
do Sul e Central, onde o clima era particularmente propício ao
rápido desenvolvimento do cafeeiro. Ali o seu cultivo foi feito
de maneira extensiva, até agora, e provavelmente 90% de todo o
café cultivado vem do Hemisfério Ocidental.
Assim o centro da produção se mudou do antigo mundo para
o novo e, com um começo promissor, o café atualmente é
uma das produções mais rentáveis do comércio
mundial. O consumo chega a 2 bilhões de quilos, dos quais cerca
de 57% são fornecidos pelo Brasil. Os Estados Unidos lideram como
país consumidor de café, com cerca de metade de toda a quantidade
consumida mundialmente. O consumo per capita excede 7 quilos por ano.
O cafeeiro é plantado com as sementes totalmente amadurecidas,
selecionadas com esta finalidade. Quando as mudas atingem trinta centímetros
de altura, são levadas para a plantação e dispostas
em fileiras, com três metros de distância entre elas. Quando
estão totalmente crescidas, atingem a altura de 3 metros ou pouco
mais.
Cada arbusto produz anualmente até um quilo e meio de café,
depois do quarto ou quinto ano. Os cafeeiros podem produzir até
os 100 anos de idade, mas seu período mais produtivo vai do 5º
ao 50º ano. A folhagem é de um verde escuro brilhante. As flores
são pequenas em formato de estrelas, perfumadas, e crescem em cachos.
O
desenvolvimento do fruto exige cerca de seis meses e, quando maduro, tem
uma cor vermelho profundo e é conhecido como "cereja".
Durante a estação da colheita, os serviços de todos
os trabalhadores da fazenda e suas famílias são necessários
para que o fruto possa ser colhido rapidamente e encaminhado para os preparativos
finais.
O café é preparado de duas maneiras:
1 – O processo natural. 2 – O processo de lavagem.
"O café natural" é obtido permitindo-se que os
frutos permaneçam na planta após terem amadurecido. O sol
tropical em pouco tempo faz com que a umidade da polpa se evapore, e o
fruto se torne enrugado e preto. Neste estágio os trabalhadores
fazem os frutos caírem ao chão, onde as mulheres e crianças
os varrem e ensacam. São em seguida enviados para o "benefício",
ou fábrica, para tratamento. Este consiste de uma rápida
lavagem para remoção dos gravetos e outras substâncias
estranhas.
As sementes são então espalhadas num pátio de cimento
para secar, e permanecem expostas ao sol durante cerca de sete dias. Todas
as noites, porém, são juntadas e cobertas com lonas para
protegê-las do orvalho, pois a umidade neste estágio seria
prejudicial.
Quando o café está totalmente seco, a película externa
torna-se quebradiça e pode ser removida facilmente por uma máquina
debulhadora.
Os frutos são então separados de acordo com o tamanho e
qualidade, após o qual são empacotados para exportação.
O processo natural de seleção é usado quase que inteiramente
no Brasil.
"O café lavado" exige um manuseio totalmente diferente,
como o nome sugere, uma verdadeira lavagem ocorre durante a secagem.
Em vez de tirar os frutos secos dos galhos, como é feito com o
"café natural", cada fruto maduro é apanhado individualmente,
transportado para uma máquina de polpa, bastante similar à
que processa as cerejas. Esta máquina remove a polpa. Deixando
o grão de café envolvido numa casca dura como o couro. Os
grão são colocados em grandes tanques de cimento ou barris
cheios de água. Os frutos permanecem nestes tanques por cerca de
vinte a trinta horas. Durante a imersão, ocorre uma fermentação
que muda o sabor, produzindo aquilo que se conhece como "acidez".
Depois que o processo de lavagem é completado, o método
de secar e debulhar é parecido com o do "café natural".
Na aparência, porém, o grão lavado mudou por completo.
Está muito mais limpo e com melhor aparência, e quando devidamente
lavado e curado, fica de um verde escuro e tem mais valor que o grau correspondente
de "café natural". Seu valor aumenta ainda mais quando
os grãos imperfeitos ou danificados que não puderam ser
removidos pela máquina são retirados à mão.
Isso é conhecido como "catar à mão".
O cafeeiro exige clima quente e pode ser cultivado com lucro num cinturão
de vinte graus ao norte ou ao sul da linha do Equador. A condição
do solo, local da plantação e altitude, todos são
vitais para o cultivo do café, e todos têm maior ou menor
influência na qualidade do café produzido. Os cafés
mais finos vêm das plantações situadas a mil ou mil
e quinhentos metros acima do nível do mar, onde os dias são
quentes e as noites frescas, e onde os cafeeiros são plantados
num solo gradualmente inclinado para melhor drenagem.
A colheita em cada país é similar em aparência e sabor
de ano para ano, embora o excesso de chuvas ou a sua falta possa modificar
de alguma forma a aparência, e o excesso de umidade durante a estação
seca possa provocar um efeito prejudicial na qualidade da bebida.
Há uma grande diferença, especialmente na xícara,
do produto de cada país. Cada qual tem suas características
peculiares e sabor individual. A mistura do café é realmente
uma arte em si. Ao juntar sabores distintos e individuais, em proporções
exatas, os especialistas produzem um café delicioso.
Suave estimulante
Os estimulantes são substâncias que excitam os nervos e alguns
órgãos do corpo. Os nervos estimulados enviam mensagens
ao cérebro e dele para outras partes, com muita rapidez. Isso faz
a pessoa agir e pensar de maneira mais alerta e animada.
O café (como o chá) contém cafeína que eleva
a pressão sanguínea e age como um leve estimulante. Uma
ou duas xícaras diárias de café provavelmente é
algo inofensivo para a maioria das pessoas. Porém algumas pessoas
acham que beber café antes de ir para a cama pode causar insônia.
Os médicos às vezes aconselham determinados pacientes a
se absterem completamente de café, ou a beberem um café
descafeinado. Em muitas fábricas e escritórios, portanto,
"a pausa para o café" é fornecida aos empregados
às custas da empresa. Isso é considerado boa política
– e bom investimento, pois a pausa para o café recobra as
energias e estimula os trabalhadores a trabalharem com maior eficiência.
Para muitas pessoas, o café é simplesmente uma bebida deliciosa,
mas para nós ele possui também uma mensagem especial, relacionada
à nossa vida espiritual.
Na vida espiritual e religiosa também é possível
ficar cansado e desgastado por realizar sempre os mesmos deveres. Durante
as preces diárias e o cumprimento de nossas mitsvot podemos nos
tornar mecânicos, sem vitalidade e entusiasmo.
Uma "pausa para o café" espiritual, portanto, é
necessária. Quais são os estimulantes espirituais que podem
renovar a alma como o café renova o corpo?
A própria Torá, com toda a certeza, é o maior estimulante
da vida religiosa e espiritual, mas algumas partes da Torá são
ainda mais estimulantes para determinadas pessoas. Estas partes são
Mussar (ética religiosa) e especialmente a Chassidut, que despertam
as qualidade que fornecem vitalidade e entusiasmo no cumprimento de todas
as mitvsot.
Existem também alguns dias do ano que agem como estimulantes em
nossa vida judaica.
Shabat e Yom Tov, o mês de Tishrei, e ocasiões similares
são nossas doses, nossas "xícaras de café"
no sentido espiritual. Seu objetivo não é fornecer estimulantes
espirituais temporários, mas inspiração para o ano
inteiro. No entanto, é provável que o efeito desapareça
sob o estresse da rotina diária, que lida principalmente com coisas
materiais. Portanto uma "pausa para o café" espiritual,
reavaliando nossa atuação no estudo e na prática
é uma necessidade vital e permanentemente estimulante.
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