A mística e o romance, a música e o luar são apenas a forma encontrada pela natureza para vendar os homens a as mulheres para que se reproduzam?
  Por Rabino Simon Jacobson    
  Por que nos apaixonamos?  
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O que está por detrás da atração entre os sexos? A sexualidade é um assunto sobre o qual ninguém fica neutro. Todos têm uma natureza sexual, todos têm uma necessidade de sexualidade, todos têm uma personalidade sexual que foi formada no lar, pela escola, pela tentativa e erro da experiência da vida, e aquilo que amealha pelo caminho devido às influências sutis e não tão sutis da sociedade em que vive.

Ao procurar entender nossa sexualidade, devemos olhar para suas origens. De onde vem nossa sexualidade? Neste artigo, gostaria de olhar para duas abordagens a esta questão. Uma é a abordagem prevalecente, contemporânea e científica. E então faremos um contraste com a abordagem da Torá - especificamente, a perspectiva cabalística-chassídica da Torá.

Existem, naturalmente, numerosas teorias científicas seculares sobre a sexualidade. Examinemos aquela que é provavelmente a mais dominante: a teoria biológica ou evolucionária baseada essencialmente na idéia de que a "sobrevivência do mais apto" é a força primordial na natureza, e a fonte das características específicas de qualquer criatura, desde a simples célula da "cadeia evolucionária" até os animais e seres humanos.

Desta perspectiva, nossa sexualidade deriva do fato de que a perpetuação da espécie é atingida através de um relacionamento sexual entre o macho e a fêmea. O macho portanto procurará a fêmea mais fértil, e que terá o filho mais saudável; e a fêmea buscará o macho que forneça a semente mais sadia, que seja o mais viril e que proteja a prole.

Esta teoria explica muitas coisas sobre nossa sexualidade. Explica por que homens e mulheres procuram e se acasalam um com o outro. Explica por que certos aspectos na mulher ou no homem são extremamente atraentes ao sexo oposto - porque refletem elementos de fertilidade ou saúde, que são importantes para a perpetuação da espécie.

O que esta teoria basicamente afirma é que por trás da mística e da beleza, do romance e da sensualidade nos quais a sexualidade humana está envolvida - por detrás de tudo isso está uma força primária: a necessidade de existir, e de perpetuar aquela existência. Como o ser humano é um animal com um certo grau de sofisticação, a sexualidade humana evoluiu rumo a essa sofisticação. O homem moderno não está preparado para pensar em si mesmo como meramente uma máquina de produzir filhos, portanto, a fim de aliciar duas pessoas em uma união, a evolução e a biologia conspiraram para imbuir o ato sexual não apenas com prazer, mas também com uma mística que nos impele durante a jornada romântica.

Ao fitar os olhos do ser amado à luz de velas numa mesa posta para dois, o ser humano pode pensar que elevou-se acima do modelo de existência da "sobrevivência do mais apto"; na verdade, este "elevar-se" é apenas a forma que a natureza encontrou para envelopar aquela ânsia. Dois seres humanos cortejando-se são basicamente como duas abelhas cortejando uma à outra. Uma abelha zumbe de certo modo ou expele um determinado cheiro, mas em última análise tudo isso são táticas para aproximá-las a fim de acasalar e reproduzir-se. Da mesma forma, os acessórios da sexualidade humana - o romance, as flores, a música, o luar - são apenas as formas que a natureza usa para aproximar duas pessoas.

A natureza é impiedosa. Deve prevalecer. Portanto, a natureza encontra maneiras de fazer um macho e uma fêmea acasalarem.

Isso, basicamente, é a abordagem científica à sexualidade humana. Vamos agora contrastar tudo isso com a abordagem da Torá.

A concepção da Torá sobre a sexualidade humana é expressa nos capítulos introdutórios de Bereshit, e declara que a atração sexual entre os seres humanos é dirigida por uma força completamente diferente: sua busca pela imagem Divina, pelo seu ser quintessencial.

A Torá descreve o ser humano como tendo sido originalmente criado como um ser "com dois lados": "Macho e fêmea Ele os criou... e Ele chamou o nome deles: homem." D'us então dividiu esta criatura com dois lados em duas, e desde então, as metades divididas da imagem Divina buscam e anseiam uma pela outra.

Não são indivíduos pela metade; o homem é uma personalidade completa e a mulher também. Mas há elementos em sua pessoa transcendental, em sua inteireza, que permanecem incompletos se não encontram um ao outro. Falta alguma coisa em cada um deles; foram certa vez parte de um todo maior.

Expressar isso em termos mais místicos ou mais divinos: eles estão procurando tornar-se um com D'us.

A raça humana é na essência uma entidade, uma singularidade macho-fêmea. Quando o homem e a mulher aproximam-se e se juntam numa união marital, recriam a imagem Divina da qual foram ambos formados como um.

Os ensinamentos da Cabalá vão um pouco mais longe, vendo a dinâmica masculina/feminina não somente como dois sexos dentro de uma espécie. Segundo a Cabalá, estas são duas formas de energia que, na forma mais abstrata, são mencionadas como uma energia interna e uma energia projetante. A energia masculina e a energia feminina existem em cada homem e em cada mulher, e em todas as partes da natureza.

Mesmo a Divindade é às vezes descrita no feminino, e às vezes no masculino. Contrário à percepção comum do D'us "Patriarcal" na Bíblia, muitos dos atributos Divinos são femininos, como a Shechiná, que é a dimensão feminina da Divindade.

Portanto o que temos aqui é uma divisão de duas energias, e uma ânsia e inclinação a tornar-se uma só. A raça humana foi criada à imagem Divina, mas aquela raça humana é metade macho metade fêmea, e através de sua união tornam-se aquele todo maior, aquela imagem Divina que busca pela união com D'us, que busca uma realidade mais elevada.

Este é o âmago da atração sexual. Esta atração, que se manifesta em muitas sensações físicas, de um acelerar do coração até a atração física por outra pessoa, é essencialmente a atração do macho para a fêmea, e da fêmea para o macho, para tornarem-se um todo completo, divino, conectando-se à sua fonte em D'us. Não que tenham estado totalmente desconectados; mas conscientemente, as pessoas podem seguir seu próprio caminho narcisista, muitas vezes até egoísta. E aqui, há uma voz dentro de você, dizendo: Anseio por algo maior. Quando um homem é fisicamente atraído por uma mulher, ou uma mulher por um homem, isso pode parecer algo puramente biológico, mas da perspectiva judaica e da Torá, é apenas uma manifestação física de uma atração espiritual muito profunda.

Isso não é para dizer que o conceito de sexualidade da Torá não está intrinsecamente ligado ao objetivo de criar uma nova vida. Certamente é. Mas a perpetuação da espécie não é o único fim de nossa sexualidade. Em vez disso, é justamente o contrário: a natureza divina de nossa sexualidade - o fato de que a união do macho e da fêmea completa a imagem divina na qual foram criados - é o que nos dá o poder de trazer a vida a este mundo.

Portanto, há algo de divino sobre a própria união. Isso reflete-se na Halachá (Lei da Torá) que expande a santidade do casamento também às circunstâncias nas quais a geração de descendentes não é possível (como no caso de um homem e/ou mulher que estão além da idade de procriar, ou que são fisicamente incapazes de ter filhos). Se a sexualidade fosse simplesmente o mecanismo para a procriação, poder-se-ia argumentar: "Ei, sem a perpetuação da espécie, de que adianta o casamento e a sexualidade? Apenas um prazer egoísta? Onde está a santidade?" A resposta é: sim, a sexualidade é sagrada por si mesma. A união do homem e da mulher é um ato divino, uma experiência divina.

   
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