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O famoso naturalista Loren Eiseley descreveu certa vez um episódio
que provavelmente jamais teremos chance de ver. Ele estava numa floresta
perto de uma campina. Sentou-se apoiado num tronco de árvore, contemplando
a grama banhada pelo sol, e adormeceu. De repente, foi acordado pelos
pios de pássaros rodeando a árvore.
Num galho de uma árvore alta ali na campina estava um enorme corvo,
ofensivo e autoritário em seu negrume, tinha no bico um filhotinho
de ave, lutando para se libertar. O bando de pássaros voava freneticamente
em círculos ao redor do corvo. Este engoliu o pequenino e ficou
imóvel, impávido. De repente, de todas as partes da campina,
apareceram centenas de passarinhos de diversas variedades, atraídos
pelos gritos dos pais indefesos. Eles gritavam em desespero, Porém
o assassino, a ave negra, somente os observava, saciada e imperturbável.
Então o naturalista viu o maravilhoso triunfar da vida sobre a
morte. Em meio à dor frenética, o grito desvaneceu-se abruptamente.
Ele prestou atenção, e um som mavioso lhe chegou aos ouvidos.
Pôde ouvir a nota cristalina do canto de um único pardal.
Como se tivesse recebido uma deixa, outro pássaro entoou o seu
canto. E depois outro, e mais outro – até que todas as aves
começaram a cantar a canção do pardal – ainda
à sombra do corvo. Porque a vida é doce, e o brilho do sol
é maravilhoso.
"Na verdade, eles se esqueceram do corvo, pois eram cantores da vida,
e não da morte."
O corvo levou uma vida; o pardal elevou a vida acima da morte.
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