O canto da vida

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17.02.2006 - 19 de Shevat 5766
     
 

O famoso naturalista Loren Eiseley descreveu certa vez um episódio que provavelmente jamais teremos chance de ver. Ele estava numa floresta perto de uma campina. Sentou-se apoiado num tronco de árvore, contemplando a grama banhada pelo sol, e adormeceu. De repente, foi acordado pelos pios de pássaros rodeando a árvore.

Num galho de uma árvore alta ali na campina estava um enorme corvo, ofensivo e autoritário em seu negrume, tinha no bico um filhotinho de ave, lutando para se libertar. O bando de pássaros voava freneticamente em círculos ao redor do corvo. Este engoliu o pequenino e ficou imóvel, impávido. De repente, de todas as partes da campina, apareceram centenas de passarinhos de diversas variedades, atraídos pelos gritos dos pais indefesos. Eles gritavam em desespero, Porém o assassino, a ave negra, somente os observava, saciada e imperturbável.

Então o naturalista viu o maravilhoso triunfar da vida sobre a morte. Em meio à dor frenética, o grito desvaneceu-se abruptamente. Ele prestou atenção, e um som mavioso lhe chegou aos ouvidos. Pôde ouvir a nota cristalina do canto de um único pardal. Como se tivesse recebido uma deixa, outro pássaro entoou o seu canto. E depois outro, e mais outro – até que todas as aves começaram a cantar a canção do pardal – ainda à sombra do corvo. Porque a vida é doce, e o brilho do sol é maravilhoso.

"Na verdade, eles se esqueceram do corvo, pois eram cantores da vida, e não da morte."

O corvo levou uma vida; o pardal elevou a vida acima da morte.

     
 
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