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Serviço e Luz
No capítulo 115 do Tanya, Rabi Shneur Zalman faz distinção
entre duas frases encontradas nas Escrituras: "Um servo de D’us"
e "Aquele que serve a D’us". À primeira vista,
estes termos parecem quase idênticos.
Para esclarecer as diferenças entre eles, notemos primeiro que
cada um dos termos contém duas palavras com diferenças aparentemente
insignificantes entre elas. O primeiro refere-se a um servo", ao
passo que o segundo a "aquele que serve". O primeiro termo,
novamente, refere-se a um "servo de D’us" (o Nome usado
é o Inefável Nome de D’us, o Tetragrama), ao passo
que a segunda frase refere-se a "aquele que serve a D’us"
(o nome Elokim é usado. Nossos Sábios explicam que este
nome geralmente denota o aspecto de severidade ou restrição).
Ambas as expressões "um servo" e "aquele que serve"
denotam estados interiores de alma diferentes. O termo "aquele que
serve" está no tempo presente, sugerindo que a pessoa está
atualmente trabalhando em seu serviço Divino. Em contraste, a palavra
"servo" descreve alguém que já conseguiu realizar
seu serviço. O Tanya classifica "aquele que serve a D’us"
como o benoni, cuja vida inteira é dedicada à guerra interna
contra seu yetser hará. Ele descreve uma pessoa de quem cada passo
positivo para a frente é acompanhado por mudanças em sua
personalidade e as normas às quais ele se acostumou. Em contraste,
o "servo de D’us" está classificado no Tanya como
o tsadic que conseguiu tirar de dentro de si o yetser hará, portanto
"seu coração está vazio dentro dele". Isso
equivale a dizer que ele não tem conflito com o mal. Assim como
o termo "sábio" aplica-se àquele que já
adquiriu sabedoria, não a alguém no processo de aprendizado,
e como o termo "rei" que é concedido a alguém
que já se tornou um rei, assim também o tsadic não
é chamado "um servo de D’us" até que tenha
atingido o estágio em que não luta mais contra o mal dentro
de si.
Há uma terceira categoria de pessoa que também cumpre todos
os mandamentos, do maior ao menos importante. No entanto, ele é
caracterizado pelo fato de que sua vida não é acompanhada
por uma batalha interna. Isso não é porque não exista
mal dentro dele, mas ao contrário, ele é estudioso por natureza
e tem um yetser hará sem paixão, que não o incomoda
nem o tenta a praticar más ações. Como o Tanya enfatiza
a importância de servir a D’us, a pessoa que acabamos de descrever
é chamada de "alguém que não serve a D’us".
Não apenas ele não é "um servo de D’us",
ele nem ao menos é alguém que está no processo de
servir. Apesar disso, surpreendentemente, de uma perspectiva específica,
esta pessoa está classificada na mesma categoria que "um servo
de D’us", e não com sua companhia, o benoni, ao qual
se refere como "aquele que serve a D’us".
Uma dupla recompensa
Não há qualquer comparação entre as recompensas
espirituais e as realizações de "aquele que serve a
D’us", e aquele que estuda Torá e cumpre mitsvot sem
labuta e esforço. Nossos Sábios expressam isso resumidamente
no Tratado Chaguigá: "Aquele que revisa seus estudos cem vezes
não pode ser comparado àquele que revisa seus estudos cento
e uma vezes."
Nos dias de nossos Sábios, para que a tradição oral
fosse adequadamente transmitida através das gerações
desde o tempo de Moshê, tinha de ser completamente absorvida pela
memória, pois era proibido anotar a Torá Oral. Assim, o
costume era revisar cada parte do estudo por cem vezes. Embora estudar
aquela parte por cem vezes fosse claramente acompanhado de muita labuta
e esforço, mesmo assim, como esta era a norma aceita, aquele que
o fazia não era chamado "aquele que serve a D’us".
Somente após revisar seus estudos uma vez adicional, além
de seu hábito regular, a pessoa merecia o valorizado título
de "aquele que serve a D’us". Do ponto de vista psicológico,
esta revisão adicional é extremamente difícil de
conseguir, pois exige que a pessoa quebre seu hábito e a norma
estabelecida.
O Talmud ilustra este ponto pela analogia de um mercado de condutores
de burros. Os condutores cobravam um zuz por dez parsi (milhas persas)
percorridas, mas exigiam dois zuz para dirigir por onze parsi, pois dirigir
uma décima primeira milha excedia a prática costumeira,
e portanto o preço era desproporcional à distância
envolvida.
Da mesma forma, revisar seus estudos pela centésima primeira vez
não expressa a assiduidade extra da pessoa, ou um esforço
adicional comparável ao esforço feito em todas as revisões
prévias de seus estudos. Ao revisar mais uma vez, ocorria uma mudança
fundamental dentro do estudante, pois agora ele é intitulado "aquele
que serve a D’us". Todo judeu atrai santidade para si e para
o mundo, por meio do cumprimento de uma mitsvá. Mas este nível
de santidade é incomparável àquele que é atraído
para si mesmo e ao mundo quando a pessoa serve ao Criador além
de seu costume natural. A santidade atraída por intermédio
de tal serviço ao Criador é incomparavelmente maior que
mitsvot e serviço Divino que não são acompanhados
por esforços incomumente extenuantes.
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