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Trabalho ou realização?
A transgressão é completamente rejeitada tanto pelo tsadic
quanto pelo benoni. Isso é verdadeiro no que tange ao futuro e
também ao passado. As proibições negativas sempre
foram, e sempre serão observadas, e os preceitos positivos sempre
foram, e sempre serão cumpridos por ambos. Apesar disso, se examinarmos
a maneira pela qual cada um chegou a seu nível espiritual, fica
claro que seus caminhos não são paralelos. Um deles chegou
com facilidade a este nível elevado. O outro teve de lutar muito
e superar diversas dificuldades. A dúvida que nos resta agora é:
qual deles tem maior valor e maior importância, as supremas realizações
da pessoa, ou os esforços que faz?
Com e sem guerra
As palavras do Profeta Malachi: "E você retornará e
verá a diferença entre o justo e o perverso, entre aquele
que serve a D’us e aquele que não O serve" – estão
explicadas no capítulo 15 do Tanya. Após classificar as
pessoas segundo seus diversos níveis de realização
espiritual, Rabi Shneur Zalman agora explica que a frase "aquele
que serve a D’us" não se refere necessariamente a um
tsadic, e "aquele que não O serve" não se refere
obrigatoriamente a um perverso, um rasha. Os termos "aquele que serve
a D’us" e "aquele que não O serve" descrevem
dois tipos diferentes de benonim. Nenhum desses dois tipos de benoni tem
qualquer conexão com o pecado, como o Tanya explicou previamente.
Aquele que serve a D’us é um benoni que atingiu seu nível
espiritual por meio de intensa labuta e esforço, por exemplo através
de contemplação profunda e concentrada, que provoca amor
e reverência a D’us em sua mente. Este amor e referência
lhe permitem superar quaisquer obstáculos que possam bloquear seu
caminho.
Em contraste, a pessoa que o Profeta descreve como "aquele que não
O serve", é o benoni que cumpre toda a Torá sem qualquer
conflito ou esforço. Ele simplesmente não requer a guerra
e a batalha do outro tipo de benoni para superar seu yetser hará.
Ele não anseia por nenhum dos prazeres do mundo, porque por natureza,
não tem paixão por prazeres. Ele está também
livre de conflitos com o desejo sexual, devido à sua natureza frígida.
Se alguém o vê como um estudante assíduo que nunca
pára de aprender e refletir sobre a Torá, isso é
porque ele por natureza tem um temperamento obstinado. De fato, até
alguém que não seja estudioso pode-se acostumar a aprender
com grande diligência, até que esta diligência se torne
uma segunda natureza, portanto ele atinge um ponto onde não precisa
mais lutar para servir a D’us. Certo, em seu estado anterior ele
de fato tinha de fazer um constante esforço para servir a D’us.
Como tal, ele era então classificado como "aquele que serve
a D’us". No entanto, sua posição atual é
tal que ele não precisa mais lutar contra si mesmo e é portanto
chamado "aquele que não O serve".
O Serviço é exigido
"O homem nasceu para labutar" – declara o versículo.
Segundo os ensinamentos da Chassidut de Chabad, a Torá e mitsvot
que são cumpridas com esforço e labuta são altamente
valorizadas. As mitsvot que a pessoa cumpre por hábito, ou a Torá
que um estudante naturalmente diligente aprende como resultado do amor
oculto que permeia o coração de todo judeu (como uma herança
de nossos antepassados Avraham, Yitschac e Yaacov) é incomparável
ao serviço de D’us que é acompanhado de intensos esforços
para o refinamento pessoal, e que é permeado com amor intelectual
e reverência, adquiridos por meio de seu próprio grande esforço.
Além disso, com cada preceito que cumprimos, Divindade e santidade
são atraídas a este mundo. Por meio de intensos esforços
e labuta, merecemos atrair o nível mais elevado de santidade a
este mundo. Na linguagem da Cabalá, isso é chamado a "luz
que transcende" toda a ordem da criação.
Assim, podemos ver labuta e esforço como um ideal em si. Conta-se
a história de um notável discípulo do Tsêmach
Tsêdec, o terceiro Lubavitcher Rebe, de abençoada memória,
Rabi Menachem Mendel Schneerson, a quem foi concedida uma audiência
privada com o Rebe. O indivíduo queixou-se ao Rebe de que não
tinha um desejo ardente de estudar Torá. Por natureza, ele simplesmente
não apreciava estudar, e dia após dia ele se forçava
a sentar-se e estudar. Pediu ao Tsêmach Tsêdec que o aconselhasse
nesse particular. O Rebe respondeu: "Ao contrário, isso é
muito bom pois, apesar disso, você sobrepuja suas inclinações
naturais e se força a aprender. Isso é de fato admirável.
Mas o que deveria eu fazer, pois tenho um desejo natural de aprender?"
Esta anedota ilustra o tema acima mencionado – que em termos de
servir a D’us, subjugando a própria inclinação
natural e forçar-se a aprender Torá é incomparavelmente
melhor que o estudo motivado pelo prazer e pelo deleite.
Quem é valorizado
Deve-se enfatizar que embora nós geralmente valorizemos muito aquele
que jamais cedeu à transgressão, embora não seja
"alguém que serve a D’us", mesmo assim, a Chassidut
preza especialmente "aquele que serve a D’us".
Nos ensinamentos chassídicos este ideal é expresso pela
citação do versículo: "Gloriosa aos olhos de
D’us é a morte dos devotos." Isso é explicado
pela Chassidut da seguinte forma: O Eterno, bendito seja, valoriza e preza
especialmente aqueles que se "matam" em Seu serviço –
isso equivale a dizer, os que são denominados "aqueles que
servem a D’us".
Conta-se que certa vez outro aluno do Tsêmach Tsêdec recebeu
uma audiência privada com o Rebe. O chassid levou consigo o neto,
para que o Rebe abençoasse o garoto. O chassid pediu ao Rebe para
abençoar seu neto com uma boa memória, para que ele pudesse
se lembrar de tudo que via e ouvia do Rebe e dos chassidim. Assim, automaticamente,
ele adquiriria a reverência ao Céu.
O Tsêmach Tsêdec respondeu-lhe: "Por mais de cinqüenta
anos meu avô, Rabi Shneur Zalman, autor do Tanya e do Shulchan Aruch
HaRav, e seu filho, meu sogro Rebe Dov Ber e eu, temos feito todos os
esforços para ter certeza de que a reverência ao Céu
de nossos chassidim seja adquirida por meio de intensos esforços
pessoais, e não por meio de um dom que vem automaticamente e por
si mesmo…"
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