|
Duas Missões
O Eterno, bendito seja, criou Seu mundo de tal maneira que tudo nele exige
retificação e aperfeiçoamento, como declaram Nossos
Sábios no versículo: "Que D’us fez para fazer"
– ou seja, para retificar. É explicado na Chassidut que a
palavra "olam" (mundo) deriva da palavra "haelem",
que significa ocultação. Assim, o mundo foi criado de tal
maneira que a luz Divina da Criação está oculta dentro
dele. Esta ocultação é tão poderosa que a
escuridão (num sentido espiritual) reina no mundo. Além
disso, é um mundo de escuridão dobrada e redobrada. Nele
são encontradas as kelipot e poderes profanos (aos quais a Cabalá
se refere como os poderes de sitra achara, o "outro lado"),
que são literalmente contra D’us. O Eterno, bendito seja,
deu ao homem a missão de retificar esta situação.
Dessa maneira, ele merece ser um parceiro na criação do
mundo.
Obras cabalistas explicam que a Divina luz pode permear o mundo em uma
de duas maneiras: Uma, através do serviço de subjugar a
sitra achara, e segundo, "transformando a escuridão em luz".
Nos capítulos 14 e 27 do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que
estes dois tipos de serviço, e o resultado que eles obtêm,
são duas missões na vida, a primeira das quais é
o dever do benoni cumprir, e a segunda é realizada pelas almas
dos tsadikim.
A tarefa de acordo com a capacidade
Todo homem recebeu o livre arbítrio. Este é um princípio
fundamental do pensamento judaico. Toda pessoa, independentemente do tipo
e qualidade de sua alma, pode escolher o bem ou, D’us não
o permita, o mal, e pode até tornar-se um completo rasha. No entanto,
aquilo que a pessoa pode vir a conseguir ao escolher o bem, depende da
qualidade e tipo de sua alma. Existem aquelas almas que receberam a tarefa
de provocar a total anulação do mal, e a transformação
da escuridão espiritual na luz da santidade. Quando estas almas
foram criadas, foi decretado que se elas escolhessem o bem e realizassem
tudo que estivesse ao seu alcance realizar, receberiam do Alto o dom do
"deleite amoroso". Este maravilhoso amor de D’us, no qual
a pessoa despreza totalmente o mal, transforma os poderes do mal da alma
animalesca dentro dele em faculdades sagradas. Embora superficialmente
possa parecer que os trabalhos desta pessoa influenciam apenas a ela própria,
na verdade suas ações têm ramificações
e conseqüências, que afetam o mundo inteiro.
Existem outros tipos de almas cuja missão neste mundo é
subjugar os poderes do mal. Foi decretado que estas almas estarão
constantemente em guerra contra o yetser hará, a fim de conquistá-lo
e derrotá-lo. No entanto, alguém que tenha este tipo de
alma não pode esperar que seu yetser hará deixe de atormentá-lo,
embora tenha lutado uma batalha contra ele. Além disso, ao contrário
de um tsadic, ele não tem esperança de receber o elevado
nível de amor denominado 'deleite amoroso" como um presente
do Alto. Pois a maneira de o benoni atrair santidade e este mundo é
subjugando seu yetser hará.
Causando prazer a D’us
Quando o Eterno, bendito seja, criou o mundo, desejou com Sua abençoada
vontade derivar prazer do serviço do povo judeu, que atrai a luz
de D’us ao mundo. Rabi Shneur Zalman explica que há dois
tipos de deleite que o Eterno tem no serviço de Seu povo. Assim,
não somente há duas missões diferentes que devem
ser cumpridas; há também dois tipos diferentes de serviço
de cada um, dos quais o Eterno deriva um diferente tipo de prazer.
O Zohar explica o pedido de Yitschac a seu filho: "Prepara-me pratos
saborosos, como eu gosto" como sendo o pedido da Shechiná,
a Divina Presença, ao povo judeu como um todo – de que eles
deveriam fazer Seus "pratos saborosos". Estes são os
dois tipos de deleite ("pratos" no plural) que resultam dos
dois aspectos diferentes do serviço Divino.
Ora, assim como ocorre com iguarias físicas, existem aqueles tipos
que são feitos com alimentos naturalmente doces, e aqueles outros
tipos preparados com alimentos do tipo temperado ou azedo. O serviço
de um judeu deve ser visto da mesma maneira. O deleite que o Criador tem
no serviço dos tsadikim que não precisam mais lutar contra
o mal dentro de si é comparável ao deleite que alguém
sente ao comer alimentos naturalmente doces, deliciosos. O deleite que
o Criador tem com o serviço de um benoni que subjuga seu yetser
hará é similar ao prazer que alguém sente quando
ingere alimentos fortes ou azedos, que foram especialmente marinados e
preparados.
Assim como cada tipo de iguaria tem seu mérito particular, para
que o desejo do paladar por alimentos doces não se satisfaça
ao comer alimentos temperados e vice-versa, o apetite por comidas fortes
não pode ser satisfeito quando se come doces. Assim também,
no que diz respeito ao serviço espiritual do povo judeu. O mundo
exige todos os tipos de serviço. Cada pessoa deveria deleitar-se
em preparar as iguarias que lhe são exigidas.
O nível atingível por toda pessoa
No início do capítulo 14 do Tanya, Rabi Shneur Zalman enfatiza
que o nível de benoni é "atingível por todo
homem; cada pessoa deve esforçar-se para consegui-lo." Não
é exigido de todos que sejam tsadikim, mas todos deveriam ser um
benoni. O nível de um benoni, embora seja em si um nível
elevado, é adequado a todas as pessoas, e cada qual é obrigado
a aspirar a obtenção desse nível.
Segundo o Tanya, "toda pessoa pode, a qualquer tempo, ser um benoni".
Em todos os tempos e em todas as situações nas quais as
pessoas se encontram, mesmo se estas circunstâncias sejam extremamente
desagradáveis e o coração esteja confuso e atormentado,
ou mesmo "fechado" e insensível à luz da Torá,
mesmo assim ele pode "afastar-se do mal e fazer o bem na prática
– em ação, fala e pensamento", Alguém
que ainda não atingiu este nível deve começar a obra
que leva a ele. Quem já está neste nível (seja ele
benoni por nascimento, ou se atingiu este nível após teshuvá
e muito esforço espiritual) deve mesmo assim ser firme em seu serviço,
a fim de manter estas conquistas e continuar a ser merecedor desse elevado
título, o nível de um benoni.
|