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O Tanya - parte 49

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Duas Missões

O Eterno, bendito seja, criou Seu mundo de tal maneira que tudo nele exige retificação e aperfeiçoamento, como declaram Nossos Sábios no versículo: "Que D’us fez para fazer" – ou seja, para retificar. É explicado na Chassidut que a palavra "olam" (mundo) deriva da palavra "haelem", que significa ocultação. Assim, o mundo foi criado de tal maneira que a luz Divina da Criação está oculta dentro dele. Esta ocultação é tão poderosa que a escuridão (num sentido espiritual) reina no mundo. Além disso, é um mundo de escuridão dobrada e redobrada. Nele são encontradas as kelipot e poderes profanos (aos quais a Cabalá se refere como os poderes de sitra achara, o "outro lado"), que são literalmente contra D’us. O Eterno, bendito seja, deu ao homem a missão de retificar esta situação. Dessa maneira, ele merece ser um parceiro na criação do mundo.

Obras cabalistas explicam que a Divina luz pode permear o mundo em uma de duas maneiras: Uma, através do serviço de subjugar a sitra achara, e segundo, "transformando a escuridão em luz". Nos capítulos 14 e 27 do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que estes dois tipos de serviço, e o resultado que eles obtêm, são duas missões na vida, a primeira das quais é o dever do benoni cumprir, e a segunda é realizada pelas almas dos tsadikim.

A tarefa de acordo com a capacidade


Todo homem recebeu o livre arbítrio. Este é um princípio fundamental do pensamento judaico. Toda pessoa, independentemente do tipo e qualidade de sua alma, pode escolher o bem ou, D’us não o permita, o mal, e pode até tornar-se um completo rasha. No entanto, aquilo que a pessoa pode vir a conseguir ao escolher o bem, depende da qualidade e tipo de sua alma. Existem aquelas almas que receberam a tarefa de provocar a total anulação do mal, e a transformação da escuridão espiritual na luz da santidade. Quando estas almas foram criadas, foi decretado que se elas escolhessem o bem e realizassem tudo que estivesse ao seu alcance realizar, receberiam do Alto o dom do "deleite amoroso". Este maravilhoso amor de D’us, no qual a pessoa despreza totalmente o mal, transforma os poderes do mal da alma animalesca dentro dele em faculdades sagradas. Embora superficialmente possa parecer que os trabalhos desta pessoa influenciam apenas a ela própria, na verdade suas ações têm ramificações e conseqüências, que afetam o mundo inteiro.

Existem outros tipos de almas cuja missão neste mundo é subjugar os poderes do mal. Foi decretado que estas almas estarão constantemente em guerra contra o yetser hará, a fim de conquistá-lo e derrotá-lo. No entanto, alguém que tenha este tipo de alma não pode esperar que seu yetser hará deixe de atormentá-lo, embora tenha lutado uma batalha contra ele. Além disso, ao contrário de um tsadic, ele não tem esperança de receber o elevado nível de amor denominado 'deleite amoroso" como um presente do Alto. Pois a maneira de o benoni atrair santidade e este mundo é subjugando seu yetser hará.

Causando prazer a D’us

Quando o Eterno, bendito seja, criou o mundo, desejou com Sua abençoada vontade derivar prazer do serviço do povo judeu, que atrai a luz de D’us ao mundo. Rabi Shneur Zalman explica que há dois tipos de deleite que o Eterno tem no serviço de Seu povo. Assim, não somente há duas missões diferentes que devem ser cumpridas; há também dois tipos diferentes de serviço de cada um, dos quais o Eterno deriva um diferente tipo de prazer.

O Zohar explica o pedido de Yitschac a seu filho: "Prepara-me pratos saborosos, como eu gosto" como sendo o pedido da Shechiná, a Divina Presença, ao povo judeu como um todo – de que eles deveriam fazer Seus "pratos saborosos". Estes são os dois tipos de deleite ("pratos" no plural) que resultam dos dois aspectos diferentes do serviço Divino.

Ora, assim como ocorre com iguarias físicas, existem aqueles tipos que são feitos com alimentos naturalmente doces, e aqueles outros tipos preparados com alimentos do tipo temperado ou azedo. O serviço de um judeu deve ser visto da mesma maneira. O deleite que o Criador tem no serviço dos tsadikim que não precisam mais lutar contra o mal dentro de si é comparável ao deleite que alguém sente ao comer alimentos naturalmente doces, deliciosos. O deleite que o Criador tem com o serviço de um benoni que subjuga seu yetser hará é similar ao prazer que alguém sente quando ingere alimentos fortes ou azedos, que foram especialmente marinados e preparados.

Assim como cada tipo de iguaria tem seu mérito particular, para que o desejo do paladar por alimentos doces não se satisfaça ao comer alimentos temperados e vice-versa, o apetite por comidas fortes não pode ser satisfeito quando se come doces. Assim também, no que diz respeito ao serviço espiritual do povo judeu. O mundo exige todos os tipos de serviço. Cada pessoa deveria deleitar-se em preparar as iguarias que lhe são exigidas.

O nível atingível por toda pessoa


No início do capítulo 14 do Tanya, Rabi Shneur Zalman enfatiza que o nível de benoni é "atingível por todo homem; cada pessoa deve esforçar-se para consegui-lo." Não é exigido de todos que sejam tsadikim, mas todos deveriam ser um benoni. O nível de um benoni, embora seja em si um nível elevado, é adequado a todas as pessoas, e cada qual é obrigado a aspirar a obtenção desse nível.

Segundo o Tanya, "toda pessoa pode, a qualquer tempo, ser um benoni". Em todos os tempos e em todas as situações nas quais as pessoas se encontram, mesmo se estas circunstâncias sejam extremamente desagradáveis e o coração esteja confuso e atormentado, ou mesmo "fechado" e insensível à luz da Torá, mesmo assim ele pode "afastar-se do mal e fazer o bem na prática – em ação, fala e pensamento", Alguém que ainda não atingiu este nível deve começar a obra que leva a ele. Quem já está neste nível (seja ele benoni por nascimento, ou se atingiu este nível após teshuvá e muito esforço espiritual) deve mesmo assim ser firme em seu serviço, a fim de manter estas conquistas e continuar a ser merecedor desse elevado título, o nível de um benoni.

     
   
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