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O Tanya - parte 47

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Falando ao Coração

O Midrash declara que homens perversos são governados pelo coração, ao passo que os justos governam o próprio coração. Os tsadikim transformaram o poder do desejo de sua alma animalesca, e a domaram para assuntos sagrados. Eles estão no controle de seu coração. Em contraste, o perverso no qual "o coração deseja e os membros completam o serviço", não têm controle sobre o coração. De fato, o oposto é verdadeiro – eles são controlados pelos desejos de seu coração.

O benoni se encontra numa posição intermediária entre essas duas. Ele não governa seu coração na mesma extensão que o tsadic, pois os desejos mundanos ainda ardem dentro dele. Por outro lado, ele não é como o perverso, subserviente aos desejos de seu coração. A mente do benoni governa seu coração, e se ele for constante em seu serviço, o Eterno, bendito seja, o ajuda. No entanto, ele depende completamente da reação inicial do benoni. Quando seu coração deseja e anseia por algum prazer material, ele volta-se para si mesmo, por assim dizer, e diz de maneira breve e forçada: "Não desejo ser um rasha, sequer por um instante."

Argumentos Convincentes

Um benoni tem muito medo de transgredir. A explicação disso é lógica e simples. Ele diz a si mesmo: "Sob nenhuma circunstância eu desejo ser afastado do único D’us; como está escrito: "Teus pecados te separam [de D’us]".

Não é que o benoni se assuste com as punições que resultariam da transgressão. Ele também não explica a si mesmo que o momento da transgressão constitui um motim contra a autoridade do Criador, pois o pecado se opõe à Sua sagrada vontade. Ao contrário, ele se abstém de transgredir porque o próprio fato de que isso cria uma "cortina de ferro" que o separaria de D’us. Esta separação duraria por um período muito longo, e teria muitas conseqüências negativas. Quando os desejos do mal são expressos em pensamento, palavra ou ação, envolvem sua alma em vestes impuras. Estas vestes o impediriam de amar a D’us, e de ficar em reverência perante Ele. Estes atributos não iluminariam sua alma. O cumprimento de qualquer preceito atrai a Divindade Celestial, e aquele que cumpre a mitsvá merece uma revelação da Divindade. Em contraste, a pessoa que fez com que sua alma fosse maculada por meio das kelipot impuras não é um recipiente adequado para atrair e absorver esta Divindade Celestial.

Além disso, o benoni até explica para si mesmo seu poderoso desejo de unir sua nefesh, ruach e neshamá com D’us. Apegar-se a D’us dessa maneira (devekut), é possível somente quando o pensamento, fala e ação são ativos na Torá e mitsvot. Seu cumprimento da Torá e mitsvot flui de seu amor a D’us, do amor oculto que é encontrado inerentemente no coração de cada judeu. Ponderar a essência da transgressão e suas conseqüências negativas dá-lhe força para não cair no assunto de cometer falhas. Ao expressar melhor sua vontade a seu coração, um benoni dá a si mesmo a força para não falhar em seu cumprimento de mitsvot.

Aprendendo com quem não tem mérito

É um fenômeno interessante que às vezes deparamos com pessoas que conseguiram evitar graves transgressões, e que conseguiram até passar por diversos testes, porém violaram alguns preceitos menos importantes.

É explicado na Chassidut que o poder do auto-sacrifício (mesirut nefesh) – a disposição de sacrificar-se pelo mérito da Torá e mitsvot – é encontrado em todo judeu, mesmo naqueles que são classificados como os menos merecedores. É somente porque o espírito da insensatez entra nele que ele peca. Quando o espírito da insensatez domina uma pessoa, esta não sente a beleza de ser judeu, e não compreende a perda que sofre quanto se afasta de D’us. Através desse espírito de insensatez o pecador imagina que uma transgressão mínima não afetará seu judaismo, e que sua alma não será separada, portanto, do D’us de Israel. Assim, não há nada que o previna agora de cair em transgressão. Além disso, o espírito da insensatez também o faz esquecer seu amor oculto a D’us. E agora não há nada para persuadi-lo a fazer o bem. Dessa maneira, seu desejo inato de apegar-se a seu Criador começa a falhar, como uma vela tremulante.

Nossos Sábios declaram em Avot: "O homem sábio é aquele que aprende com todos os homens." Ao comparar os poderes interiores da alma, mesmo do judeu menos merecedor, com sua própria conduta, o benoni extrai uma porção dupla de instrução moral.

"Certamente não sou inferior a ele" – diz para si mesmo, referindo-se a um judeu não-merecedor. "Não sou inferior no que diz respeito ao amor oculto que é inerente no coração de todo judeu, e que insiste para que sacrifique sua alma a fim de santificar o Nome de D’us, e não ficar separado de seu Criador. E eu certamente não pecarei e não farei aquilo que possa provocar minha separação de Sua unidade abençoada. Embora um judeu não-merecedor possa cair em pecado, eu não desejo ser tolo como ele e negar a verdade. Sei da gravidade da transgressão e não serei tolo a ponto de ser enganado por isso."

Esta firme decisão dá ao benoni o poder de enfrentar os desejos de seu coração, e evitar transgredir com qualquer uma das três "vestes" de sua alma – pensamento, palavras ou ação.

     
   
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