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Falando ao Coração
O Midrash declara que homens perversos são governados pelo coração,
ao passo que os justos governam o próprio coração.
Os tsadikim transformaram o poder do desejo de sua alma animalesca, e
a domaram para assuntos sagrados. Eles estão no controle de seu
coração. Em contraste, o perverso no qual "o coração
deseja e os membros completam o serviço", não têm
controle sobre o coração. De fato, o oposto é verdadeiro
– eles são controlados pelos desejos de seu coração.
O benoni se encontra numa posição intermediária entre
essas duas. Ele não governa seu coração na mesma
extensão que o tsadic, pois os desejos mundanos ainda ardem dentro
dele. Por outro lado, ele não é como o perverso, subserviente
aos desejos de seu coração. A mente do benoni governa seu
coração, e se ele for constante em seu serviço, o
Eterno, bendito seja, o ajuda. No entanto, ele depende completamente da
reação inicial do benoni. Quando seu coração
deseja e anseia por algum prazer material, ele volta-se para si mesmo,
por assim dizer, e diz de maneira breve e forçada: "Não
desejo ser um rasha, sequer por um instante."
Argumentos Convincentes
Um benoni tem muito medo de transgredir. A explicação disso
é lógica e simples. Ele diz a si mesmo: "Sob nenhuma
circunstância eu desejo ser afastado do único D’us;
como está escrito: "Teus pecados te separam [de D’us]".
Não é que o benoni se assuste com as punições
que resultariam da transgressão. Ele também não explica
a si mesmo que o momento da transgressão constitui um motim contra
a autoridade do Criador, pois o pecado se opõe à Sua sagrada
vontade. Ao contrário, ele se abstém de transgredir porque
o próprio fato de que isso cria uma "cortina de ferro"
que o separaria de D’us. Esta separação duraria por
um período muito longo, e teria muitas conseqüências
negativas. Quando os desejos do mal são expressos em pensamento,
palavra ou ação, envolvem sua alma em vestes impuras. Estas
vestes o impediriam de amar a D’us, e de ficar em reverência
perante Ele. Estes atributos não iluminariam sua alma. O cumprimento
de qualquer preceito atrai a Divindade Celestial, e aquele que cumpre
a mitsvá merece uma revelação da Divindade. Em contraste,
a pessoa que fez com que sua alma fosse maculada por meio das kelipot
impuras não é um recipiente adequado para atrair e absorver
esta Divindade Celestial.
Além disso, o benoni até explica para si mesmo seu poderoso
desejo de unir sua nefesh, ruach e neshamá com D’us. Apegar-se
a D’us dessa maneira (devekut), é possível somente
quando o pensamento, fala e ação são ativos na Torá
e mitsvot. Seu cumprimento da Torá e mitsvot flui de seu amor a
D’us, do amor oculto que é encontrado inerentemente no coração
de cada judeu. Ponderar a essência da transgressão e suas
conseqüências negativas dá-lhe força para não
cair no assunto de cometer falhas. Ao expressar melhor sua vontade a seu
coração, um benoni dá a si mesmo a força para
não falhar em seu cumprimento de mitsvot.
Aprendendo com quem não tem mérito
É um fenômeno interessante que às vezes deparamos
com pessoas que conseguiram evitar graves transgressões, e que
conseguiram até passar por diversos testes, porém violaram
alguns preceitos menos importantes.
É explicado na Chassidut que o poder do auto-sacrifício
(mesirut nefesh) – a disposição de sacrificar-se pelo
mérito da Torá e mitsvot – é encontrado em
todo judeu, mesmo naqueles que são classificados como os menos
merecedores. É somente porque o espírito da insensatez entra
nele que ele peca. Quando o espírito da insensatez domina uma pessoa,
esta não sente a beleza de ser judeu, e não compreende a
perda que sofre quanto se afasta de D’us. Através desse espírito
de insensatez o pecador imagina que uma transgressão mínima
não afetará seu judaismo, e que sua alma não será
separada, portanto, do D’us de Israel. Assim, não há
nada que o previna agora de cair em transgressão. Além disso,
o espírito da insensatez também o faz esquecer seu amor
oculto a D’us. E agora não há nada para persuadi-lo
a fazer o bem. Dessa maneira, seu desejo inato de apegar-se a seu Criador
começa a falhar, como uma vela tremulante.
Nossos Sábios declaram em Avot: "O homem sábio é
aquele que aprende com todos os homens." Ao comparar os poderes interiores
da alma, mesmo do judeu menos merecedor, com sua própria conduta,
o benoni extrai uma porção dupla de instrução
moral.
"Certamente não sou inferior a ele" – diz para
si mesmo, referindo-se a um judeu não-merecedor. "Não
sou inferior no que diz respeito ao amor oculto que é inerente
no coração de todo judeu, e que insiste para que sacrifique
sua alma a fim de santificar o Nome de D’us, e não ficar
separado de seu Criador. E eu certamente não pecarei e não
farei aquilo que possa provocar minha separação de Sua unidade
abençoada. Embora um judeu não-merecedor possa cair em pecado,
eu não desejo ser tolo como ele e negar a verdade. Sei da gravidade
da transgressão e não serei tolo a ponto de ser enganado
por isso."
Esta firme decisão dá ao benoni o poder de enfrentar os
desejos de seu coração, e evitar transgredir com qualquer
uma das três "vestes" de sua alma – pensamento,
palavras ou ação.
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