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O Tanya - parte 46

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O verdadeiro serviço

A prece é o tempo que a pessoa devota diariamente ao serviço do coração. O Tanya examina as realizações do benoni durante sua hora de prece, e analisa a guerra que ele empreende contra sua alma animalesca durante todo o dia. Ao final do capítulo 13 do Tanya, Rabi Shneur Zalman faz uma pergunta: Como entendemos as realizações de um benoni? Sua alma Divina conseguiu apenas temporariamente sobrepujar a alma animalesca. E o que fazemos com o amor que o benoni sente na hora da prece, mas que depois passa? Perante nós está uma pessoa que, apesar de todos seus esforços, consegue servir a D’us apenas temporariamente. O que se pode dizer sobre seu serviço? Sua devoção a D’us é genuína e sincera, ou é imperfeita desde o início, ou talvez até artificial ou falsa?

Antes de discutir esse assunto, vamos primeiro definir os conceitos verdade e falsidade. A palavra "verdade" denota um estado imutável, ao passo que "falso" expressa a idéia de instabilidade e mudança. Um estado intermediário é expresso pela palavra "cazav" que poderia ser traduzida como "tortuoso". Isso expressa uma situação intermediária que não é propriamente enganar, nem é exatamente verdade no sentido de ter continuidade eterna. Assim, podemos reformular todas as questões acima, e fazer apenas uma pergunta abrangente – nesta hierarquia de níveis, onde se pode encontrar o benoni?

Comparado a um Tsadic

Fica claro pelas palavras do Tanya que avaliar as realizações de uma pessoa depende da perspectiva da qual as examinamos. Nós comparamos seu sucesso com aqueles que são mais bem sucedidos que ele, ou ao contrário, nós o medimos segundo as condições e posição atuais nas quais o encontramos?

Os tsadikim servem a D’us em perfeita verdade, como se eles e D’us fossem verdadeiros irmãos. O amor entre eles é permanente, e está tão profundamente enraizado que parece ser inato e perfeitamente natural, sem qualquer necessidade de ser despertado. Esta é a natureza de um tsadic. Quanto à alma Divina de um tsadic, sua ânsia em se fundir com a luz de D’us é assombrosa. Constantemente, todos os dias ele anseia que sua existência seja anulada perante seu Criador. Sua alma expira num desejo profundo de se unir a D’us. Um tsadic não precisa de meditação ou qualquer outro preparativo da alma para despertar seu amor a D’us.

Fica claro que em comparação com um tsadic, o amor a D’us do benoni, que arde em seu coração como uma chama na hora da prece, não é de forma alguma chamado verdadeiro serviço, pois é apenas um deleite passageiro que desaparece após a prece. A esse respeito, o versículo em Mishlê declara: "A linguagem da verdade será estabelecida para sempre", significando que se algo é totalmente verdadeiro, não passa por nenhuma mudança, sendo imutável. Mas o versículo continua: "A língua da falsidade é apenas momentânea", significando que coisas temporárias e passageiras não são consideradas como "verdadeiras", pois a falsidade não tem permanência ou um apoio firme.

Em relação a si mesmo

Se, no entanto, examinarmos o status do benoni no que tange à sua situação pessoal, e avaliarmos o grau de sua alma Divina quando comparado com o estado de sua alma animalesca enquanto esta está dentro dele, podemos dizer sem sombra de dúvida que sua prece deveria ser considerada perfeitamente verdadeira e o serviço completo para ele – para o benoni. Sim, se um tsadic tivesse de atingir através de suas preces apenas o nível de amor a D’us do benoni, isso seria considerado como uma séria deterioração de seu elevado nível espiritual, e poderia até ser considerado literalmente como falso serviço para ele. Mas para o benoni em seu nível, e em relação apenas a si mesmo, suas realizações são completamente virtuosas. Além disso, até quando comparado a um tsadic, não podemos zombar das conquistas do benoni e elas devem ser consideradas pelo menos relativamente verdadeiras, a "linguagem da verdade".

Um tsadic é alguém que transformou sua alma animalesca em santidade, ou tirou por completo o mal dentro de si. Se seu amor a D’us desaparecesse depois da prece, seria de fato um sinal de que, desde o início, não era um amor puro e completo. Era "falso" desde o início. O surgimento de amor em um benoni, e seu desaparecimento depois da prece, não deveriam ser vistos como um defeito inerente, mas sim como uma imperfeição que flui de um fator incidental – da alma animalesca que reside nele com todo poder e força. Conseqüentemente, a conquista do amor a D’us durante a prece deve ser considerado como completamente virtuoso, segundo o nível do benoni. Ou seja, apropriada à qualidade e nível de sua alma.

Além disso, é incorreto dizer que após a prece o amor a D’us que o benoni sentiu durante a oração desaparece completamente. É verdade que ele não está consciente desse amor. Não está revelado em seu coração. Mesmo assim, permanece dentro dele como uma capacidade de amar, oculta nas profundezas de sua alma. Está no poder de sua vontade despertar esse amor e levá-lo de um estado potencial até a ação. Vemos então que o amor que impregna o benoni durante a prece é sempre considerado – por ele – como a "linguagem da verdade".

     
   
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