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O verdadeiro serviço
A prece é o
tempo que a pessoa devota diariamente ao serviço do coração.
O Tanya examina as realizações do benoni durante sua hora
de prece, e analisa a guerra que ele empreende contra sua alma animalesca
durante todo o dia. Ao final do capítulo 13 do Tanya, Rabi Shneur
Zalman faz uma pergunta: Como entendemos as realizações
de um benoni? Sua alma Divina conseguiu apenas temporariamente sobrepujar
a alma animalesca. E o que fazemos com o amor que o benoni sente na hora
da prece, mas que depois passa? Perante nós está uma pessoa
que, apesar de todos seus esforços, consegue servir a D’us
apenas temporariamente. O que se pode dizer sobre seu serviço?
Sua devoção a D’us é genuína e sincera,
ou é imperfeita desde o início, ou talvez até artificial
ou falsa?
Antes de discutir esse assunto, vamos primeiro definir os conceitos verdade
e falsidade. A palavra "verdade" denota um estado imutável,
ao passo que "falso" expressa a idéia de instabilidade
e mudança. Um estado intermediário é expresso pela
palavra "cazav" que poderia ser traduzida como "tortuoso".
Isso expressa uma situação intermediária que não
é propriamente enganar, nem é exatamente verdade no sentido
de ter continuidade eterna. Assim, podemos reformular todas as questões
acima, e fazer apenas uma pergunta abrangente – nesta hierarquia
de níveis, onde se pode encontrar o benoni?
Comparado
a um Tsadic
Fica claro pelas palavras do Tanya que avaliar as realizações
de uma pessoa depende da perspectiva da qual as examinamos. Nós
comparamos seu sucesso com aqueles que são mais bem sucedidos que
ele, ou ao contrário, nós o medimos segundo as condições
e posição atuais nas quais o encontramos?
Os tsadikim servem a D’us em perfeita verdade, como se eles e D’us
fossem verdadeiros irmãos. O amor entre eles é permanente,
e está tão profundamente enraizado que parece ser inato
e perfeitamente natural, sem qualquer necessidade de ser despertado. Esta
é a natureza de um tsadic. Quanto à alma Divina de um tsadic,
sua ânsia em se fundir com a luz de D’us é assombrosa.
Constantemente, todos os dias ele anseia que sua existência seja
anulada perante seu Criador. Sua alma expira num desejo profundo de se
unir a D’us. Um tsadic não precisa de meditação
ou qualquer outro preparativo da alma para despertar seu amor a D’us.
Fica claro que em comparação com um tsadic, o amor a D’us
do benoni, que arde em seu coração como uma chama na hora
da prece, não é de forma alguma chamado verdadeiro serviço,
pois é apenas um deleite passageiro que desaparece após
a prece. A esse respeito, o versículo em Mishlê declara:
"A linguagem da verdade será estabelecida para sempre",
significando que se algo é totalmente verdadeiro, não passa
por nenhuma mudança, sendo imutável. Mas o versículo
continua: "A língua da falsidade é apenas momentânea",
significando que coisas temporárias e passageiras não são
consideradas como "verdadeiras", pois a falsidade não
tem permanência ou um apoio firme.
Em relação a si mesmo
Se, no entanto, examinarmos o status do benoni no que tange à sua
situação pessoal, e avaliarmos o grau de sua alma Divina
quando comparado com o estado de sua alma animalesca enquanto esta está
dentro dele, podemos dizer sem sombra de dúvida que sua prece deveria
ser considerada perfeitamente verdadeira e o serviço completo para
ele – para o benoni. Sim, se um tsadic tivesse de atingir através
de suas preces apenas o nível de amor a D’us do benoni, isso
seria considerado como uma séria deterioração de
seu elevado nível espiritual, e poderia até ser considerado
literalmente como falso serviço para ele. Mas para o benoni em
seu nível, e em relação apenas a si mesmo, suas realizações
são completamente virtuosas. Além disso, até quando
comparado a um tsadic, não podemos zombar das conquistas do benoni
e elas devem ser consideradas pelo menos relativamente verdadeiras, a
"linguagem da verdade".
Um tsadic é alguém que transformou sua alma animalesca em
santidade, ou tirou por completo o mal dentro de si. Se seu amor a D’us
desaparecesse depois da prece, seria de fato um sinal de que, desde o
início, não era um amor puro e completo. Era "falso"
desde o início. O surgimento de amor em um benoni, e seu desaparecimento
depois da prece, não deveriam ser vistos como um defeito inerente,
mas sim como uma imperfeição que flui de um fator incidental
– da alma animalesca que reside nele com todo poder e força.
Conseqüentemente, a conquista do amor a D’us durante a prece
deve ser considerado como completamente virtuoso, segundo o nível
do benoni. Ou seja, apropriada à qualidade e nível de sua
alma.
Além disso, é incorreto dizer que após a prece o
amor a D’us que o benoni sentiu durante a oração desaparece
completamente. É verdade que ele não está consciente
desse amor. Não está revelado em seu coração.
Mesmo assim, permanece dentro dele como uma capacidade de amar, oculta
nas profundezas de sua alma. Está no poder de sua vontade despertar
esse amor e levá-lo de um estado potencial até a ação.
Vemos então que o amor que impregna o benoni durante a prece é
sempre considerado – por ele – como a "linguagem da verdade".
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