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Enganar a Si Mesmo
Antes de uma criança nascer neste mundo, sua alma é obrigada
a fazer um juramento de que será um tsadic. Para isso, a alma é
nutrida e saciada com os poderes espirituais que lhe possibilitarão
cumprir a missão para a qual ela desceu ao mundo físico.
A esse respeito, nossos Sábios oferecem conselhos indispensáveis:
"Mesmo que o mundo todo diga que você é um tsadic, seja
como um perverso a seu próprio ver."
Desta declaração, entendemos que mesmo se todos aqueles
a examinarem a conduta de alguém chegarem à conclusão
que é um tsadic, ele, pessoalmente, não deveria enganar-se
e aceitar isso como verdade. Além disso, mesmo que ele próprio
tenha considerado a maioria de seus atos como "afastando-se do mal
e fazendo o bem", e pareça a ele que é de fato um tsadic,
não deveria permitir que este conhecimento crescesse até
ficar fora de proporções. Em vez disso, deveria ser "como
se fosse um perverso em sua própria opinião". Não,
D’us não o permita, que ele seja de fato um perverso, pois
se ele sentir que é perverso, isso o fará com que se torne
deprimido. Deve ser apenas como se ele fosse perverso em sua própria
estimativa. Esta descrição se apropria a uma pessoa cuja
conduta é boa, mas cujo ser interior é bastante similar
ao de um perverso. Ou seja, o benoni.
O Inimigo se Fortalece
Parece lógico afirmar que o benoni que ainda não conseguiu
destruir seu yetser hará é obrigado a ficar num estado de
eterno alerta. Embora ele tenha triunfado sobre seu yetser hará,
e tenha conseguido deixá-lo de lado, não há prova
de que o mal dentro dele esteja ao menos parcialmente anulado. A pessoa
comum que levanta pela manhã, reza e separa um tempo para estudar,
e depois vai para seu negócio – tal pessoa deveria estar
cônscia de que, mesmo que domine o mal dentro de si, mesmo assim
este permanece no lugar e conserva sua força original. Não
é apenas que o mal ainda espreita no lado esquerdo de seu coração.
Sua atividade é extensiva em despertar desejos de todos os tipos
de prazeres mundanos. Qualquer falta de atenção às
verdadeiras capacidades de seu inimigo é passível de resultar
em desastre. Qualquer auto-engano em avaliar o próprio nível
espiritual pode provocar uma cessação do estado de guerra,
e a pessoa estará inadequadamente preparada. Os resultados dessa
negligência não precisam de explicação.
No capítulo 13 do Tanya, Rabi Shneur Zalman explica que uma pessoa
precisa estar consciente de que embora possa conseguir superar o mal dentro
de si todas as vezes, mesmo assim é possível que com a passagem
do tempo o mal dentro dele fique mais forte e mais poderoso. De fato,
isso ocorre de maneira natural e sem sofisticação –
com uma pessoa ativando seus maus impulsos por meio de excesso de comida
e bebida, e outros prazeres desse mundo.
A idéia acima mencionada é de fato um princípio geral.
Assim como uma faculdade física que é constantemente exercitada
desenvolve-se e se fortalece, assim também com as faculdades espirituais
da pessoa. Além disso, é irrelevante para qual propósito
elas são usadas. Quando são usadas, elas se fortalecem.
Em nosso caso, a pessoa deve saber que estudar Torá e cumprir os
preceitos não têm o poder de impedir a alma animalesca de
desenvolver-se e ficar mais forte pelo constante uso em conceder suas
necessidades físicas como comer, beber e similares.
E um lutará contra o outro
Segundo o Tanya, mesmo aqueles que dedicam toda sua vida ao serviço
espiritual não estão protegidos ou imunizados contra as
forças da alma animalesca. Nem mesmo aquele que deseja a Torá
de D’us, que estuda dia e noite por seu próprio mérito,
não tem provas de que o mal foi desalojado. É importante
enfatizar que embora a alma animalesca esteja propensa a consentir na
conduta de eruditos, não tendo escolha neste assunto, a luz da
Torá e todas as revelações celestiais que são
atraídas por meio deste aprendizado afetam apenas sua alma divina
que é parte de D’us aqui em baixo. Não possuem influência
alguma em sua alma animalesca, no entanto, que permanece fiel a sua própria
vontade e aspirações.
Mesmo um benoni que reza o dia inteiro, ou seja, ele experimenta a sagrada
vitalidade de suas preces durante todo o dia, deveria também estar
consciente de que o mal dentro de si está apenas "adormecido"
durante o dia, mas que não foi completamente eliminado de dentro
dele. Quem pode saber se o yetser hará pode irromper com novas
energias se for despertado, assim como Yaacov e Essav sobre quem a Torá
afirma: "E um lutará contra o outro." Eles não
se igualarão em grandeza, e quando um subir o outro cairá.
Isso aplica-se também à guerra das almas no serviço
espiritual de uma pessoa. No auge de seu status de elevada espiritualidade,
uma pessoa deve levar em consideração que embora o yetser
hará esteja de fato num estado de fraqueza na hora da prece, mesmo
assim, depois da hora da prece é provável que desperte outra
vez. Então brotará renovado e revitalizado por seu repouso!
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