.
 

O Tanya - parte 37

índice
 
 

O Rasha

Para entender a quem o título "perverso" (rasha) se refere, precisamos primeiro entender o grande valor das mitsvot, e de modo correspondente, as conseqüências da transgressão. Quando um judeu cumpre os preceitos de seu Criador, ele se conecta com D’us. Etimologicamente a palavra para mandamento, mitsvá, está relacionada à palavra tzavta, significando um "nó", ou "vínculo". Neste sentido, uma mitsvá conecta um judeu ao Eterno, bendito seja. De modo contrário, quando um judeu transgride, ele atinge o efeito oposto. Com cada averá (transgressão ou pecado, etimologicamente relacionado à palavra over, "transferir"), uma pessoa se afasta do domínio do
Eterno, e se transfere (over) a outro domínio, por assim dizer. Em outras palavras, no momento da transgressão, embora esteja para pecar apenas uma vez, a pessoa é imediatamente chamada de perversa.

Assim, o termo rasha expressa o relacionamento de uma alma judaica com a transgressão. Denota sua infortunada disposição ou prontidão para transgredir a vontade de seu Criador. Como, em princípio, a transgressão não é algo alheio a esta pessoa, e ela potencialmente poderia vir a pecar, está incluída na categoria de alguém que realmente peca, embora neste ponto específico no tempo esteja ocupada com algo que não é pecaminoso em si mesmo. Segundo esta classificação, explanada no capítulo 1 do Tanya, tal pessoa é chamada um completo rasha. Isso é comparável a um artesão que é chamado de carpinteiro ou sapateiro, etc., mesmo quando está ocupado com algo que não seja a carpintaria ou conserto de sapatos.

Para receber o título de "rasha", não é necessário que a pessoa caia em transgressões graves, para as quais a punição seria a excisão ou um dos quatro tipos de morte que o Beit Din (Corte Rabínica) tinha o poder de emitir. É suficiente que alguém transgrida um mandamento menos importante para estabelecer o fato de que ele não está no domínio do Criador, mas sim num domínio seu. Isso equivale a dizer que com qualquer pecado ele passa por cima, ou se transfere a outro domínio. De modo correspondente, isso significa que ele não se coloca mais sob a autoridade de D’us.

Como declara o Tanya: "Mesmo alguém que transgride um mandamento rabínico de menor importância é chamado perverso", pois as injunções rabínicas também são a vontade de D’us, assim como os preceitos ordenados pela Torá. A única diferença entre eles é que alguns mandamentos o Eterno, bendito seja, decidiu dar ao povo judeu através de Moshê, nosso mestre, na Torá outorgada ao povo judeu no Monte Sinai, ao passo que foi a vontade d'Ele que outros mandamentos fossem ensinados por Nossos Sábios, de abençoada memória.

A missão da alma

No capítulo 11 do Tanya, Rabi Shneur Zalman descreve o funcionamento interno da alma de um perverso. De modo geral, podemos distinguir duas categorias de pessoas perversas, o rasha completo, ou rasha que possui apenas o mal, e o rasha incompleto, que possui algo de bom. O primeiro é aquele cujas ações na vida são motivadas apenas por objetivos maus, e nenhum bem ilumina seu ser interior. É verdade também que apesar disso, ele permanece um judeu com uma alma que é uma parte do D’us acima. No entanto, sua alma Divina não tem impacto perceptível sobre ele, e ele está inconsciente da alma que paira acima dele de maneira distante e externa.

Um rasha que conhece o bem, no qual o bem existe, é aquele que sente remorso. Isso ocorre independentemente da sinceridade ou não de seu remorso, e da adequada expressão de arrependimento, ou se eles são apenas sentimentos de culpa sem qualquer valor.

Podemos dizer que o rasha completo é aquele cujo ser interior é todo mau, ao passo que o rasha que possui algo de bom, muito embora possa transgredir, mesmo assim está consciente do bem dentro de si. Isso é verdadeiro mesmo que a bondade Divina não seja dominante dentro dele, e do ponto de vista da ação prática ela seja subjugada e anulada pelo mal dentro dele.

Um estado de fraqueza


As duas almas, a alma Divina e a alma animalesca, batalham dentro do homem pelo controle do corpo e de todos os seus membros. Ambas as almas foram originalmente colocadas dentro dele com poderes iguais. Desde que um dos lados não seja enfraquecido, embora a guerra entre eles seja constante, a pessoa é chamada, na linguagem do Tanya, de benoni. No entanto, se um dos lados prevalece e enfraquece o outro, a definição da pessoa mudará. Assim, por exemplo, um tsadic no qual exista algum vestígio de mal, um tsadic imperfeito, é aquele que enfraqueceu sua alma animalesca, e o mal dentro dele está dominado, e anulado, pelo bem dentro dele. Em contraste, o título "rasha no qual existe o bem" aplica-se àquele que enfraqueceu sua alma Divina para que o bem dentro de si seja dominado, e anulado, pelo mal. Portanto o título "rasha no qual existe o bem" expressa não somente o fato de que há algum bem dentro dele, como também expressa o fato de que o bem dentro dele está subjugado e anulado pelo mal!

Segundo a explicação do Tanya, se uma pessoa tem o potencial para pecar – mesmo que sejam apenas transgressões menores e de forma esporádica – mesmo assim é um sinal de que sua alma Divina está maculada, e que ela foi enfraquecida. Isso aplica-se até mesmo a uma pessoa que se ocupa com Torá e mitsvot e que serve a D’us em todos os seus dias.

Embora sua alma Divina esteja subjugada e seja subserviente ao mal de sua alma animalesca apenas numa extensão muito pequena, mesmo assim, os poderes de suas duas almas são desiguais. Neste sentido, ele é chamado um "rasha no qual existe o bem". Ele é um rasha, sendo que tem a capacidade de pecar. Mesmo assim, "existe o bem dentro dele", embora o bem seja subjugado pelo mal.

     
   
top