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O
Rasha
Para entender a quem o título "perverso" (rasha) se refere,
precisamos primeiro entender o grande valor das mitsvot, e de modo correspondente,
as conseqüências da transgressão. Quando um judeu cumpre
os preceitos de seu Criador, ele se conecta com D’us. Etimologicamente
a palavra para mandamento, mitsvá, está relacionada à
palavra tzavta, significando um "nó", ou "vínculo".
Neste sentido, uma mitsvá conecta um judeu ao Eterno, bendito seja.
De modo contrário, quando um judeu transgride, ele atinge o efeito
oposto. Com cada averá (transgressão ou pecado, etimologicamente
relacionado à palavra over, "transferir"), uma pessoa
se afasta do domínio do
Eterno, e se transfere (over) a outro domínio, por assim dizer.
Em outras palavras, no momento da transgressão, embora esteja para
pecar apenas uma vez, a pessoa é imediatamente chamada de perversa.
Assim, o termo rasha expressa o relacionamento de uma alma judaica com
a transgressão. Denota sua infortunada disposição
ou prontidão para transgredir a vontade de seu Criador. Como, em
princípio, a transgressão não é algo alheio
a esta pessoa, e ela potencialmente poderia vir a pecar, está incluída
na categoria de alguém que realmente peca, embora neste ponto específico
no tempo esteja ocupada com algo que não é pecaminoso em
si mesmo. Segundo esta classificação, explanada no capítulo
1 do Tanya, tal pessoa é chamada um completo rasha. Isso é
comparável a um artesão que é chamado de carpinteiro
ou sapateiro, etc., mesmo quando está ocupado com algo que não
seja a carpintaria ou conserto de sapatos.
Para receber o título de "rasha", não é
necessário que a pessoa caia em transgressões graves, para
as quais a punição seria a excisão ou um dos quatro
tipos de morte que o Beit Din (Corte Rabínica) tinha o poder de
emitir. É suficiente que alguém transgrida um mandamento
menos importante para estabelecer o fato de que ele não está
no domínio do Criador, mas sim num domínio seu. Isso equivale
a dizer que com qualquer pecado ele passa por cima, ou se transfere a
outro domínio. De modo correspondente, isso significa que ele não
se coloca mais sob a autoridade de D’us.
Como declara o Tanya: "Mesmo alguém que transgride um mandamento
rabínico de menor importância é chamado perverso",
pois as injunções rabínicas também são
a vontade de D’us, assim como os preceitos ordenados pela Torá.
A única diferença entre eles é que alguns mandamentos
o Eterno, bendito seja, decidiu dar ao povo judeu através de Moshê,
nosso mestre, na Torá outorgada ao povo judeu no Monte Sinai, ao
passo que foi a vontade d'Ele que outros mandamentos fossem ensinados
por Nossos Sábios, de abençoada memória.
A missão da alma
No capítulo 11 do Tanya, Rabi Shneur Zalman descreve o funcionamento
interno da alma de um perverso. De modo geral, podemos distinguir duas
categorias de pessoas perversas, o rasha completo, ou rasha que possui
apenas o mal, e o rasha incompleto, que possui algo de bom. O primeiro
é aquele cujas ações na vida são motivadas
apenas por objetivos maus, e nenhum bem ilumina seu ser interior. É
verdade também que apesar disso, ele permanece um judeu com uma
alma que é uma parte do D’us acima. No entanto, sua alma
Divina não tem impacto perceptível sobre ele, e ele está
inconsciente da alma que paira acima dele de maneira distante e externa.
Um rasha que conhece o bem, no qual o bem existe, é aquele que
sente remorso. Isso ocorre independentemente da sinceridade ou não
de seu remorso, e da adequada expressão de arrependimento, ou se
eles são apenas sentimentos de culpa sem qualquer valor.
Podemos dizer que o rasha completo é aquele cujo ser interior é
todo mau, ao passo que o rasha que possui algo de bom, muito embora possa
transgredir, mesmo assim está consciente do bem dentro de si. Isso
é verdadeiro mesmo que a bondade Divina não seja dominante
dentro dele, e do ponto de vista da ação prática
ela seja subjugada e anulada pelo mal dentro dele.
Um estado de fraqueza
As duas almas, a alma Divina e a alma animalesca, batalham dentro do homem
pelo controle do corpo e de todos os seus membros. Ambas as almas foram
originalmente colocadas dentro dele com poderes iguais. Desde que um dos
lados não seja enfraquecido, embora a guerra entre eles seja constante,
a pessoa é chamada, na linguagem do Tanya, de benoni. No entanto,
se um dos lados prevalece e enfraquece o outro, a definição
da pessoa mudará. Assim, por exemplo, um tsadic no qual exista
algum vestígio de mal, um tsadic imperfeito, é aquele que
enfraqueceu sua alma animalesca, e o mal dentro dele está dominado,
e anulado, pelo bem dentro dele. Em contraste, o título "rasha
no qual existe o bem" aplica-se àquele que enfraqueceu sua
alma Divina para que o bem dentro de si seja dominado, e anulado, pelo
mal. Portanto o título "rasha no qual existe o bem" expressa
não somente o fato de que há algum bem dentro dele, como
também expressa o fato de que o bem dentro dele está subjugado
e anulado pelo mal!
Segundo a explicação do Tanya, se uma pessoa tem o potencial
para pecar – mesmo que sejam apenas transgressões menores
e de forma esporádica – mesmo assim é um sinal de
que sua alma Divina está maculada, e que ela foi enfraquecida.
Isso aplica-se até mesmo a uma pessoa que se ocupa com Torá
e mitsvot e que serve a D’us em todos os seus dias.
Embora sua alma Divina esteja subjugada e seja subserviente ao mal de
sua alma animalesca apenas numa extensão muito pequena, mesmo assim,
os poderes de suas duas almas são desiguais. Neste sentido, ele
é chamado um "rasha no qual existe o bem". Ele é
um rasha, sendo que tem a capacidade de pecar. Mesmo assim, "existe
o bem dentro dele", embora o bem seja subjugado pelo mal.
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