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Entre
um Tsadic e outro
O mal "do lado
esquerdo de seu coração" foi banido e eliminado. Seu
yetser hará está inativo, e emoções más
não são provocadas. O conflito de vontades dentro dele não
ocorre, e somente a vontade de D’us ecoa dentro dele. Estes são
os picos aos quais o serviço Divino do tsadic imperfeito pode elevá-lo,
até que ele consiga remover completamente as "vestes imundas"
dos deleites mundanos, e transforme o "poder do desejo" de sua
alma animalesca em santidade, como o perfeito tsadic consegue fazer.
Um conhecido ditado chassídico declara que as trevas não
podem ser afastadas com um bastão, somente com luz. Remover o prazer
pelas coisas deste mundo, que profanam as vestes da alma animalesca de
um judeu, não pode ser feito à força bruta, por meio
de diversas formas de auto-aflição. Remover o prazer pelas
coisas deste mundo somente é possível através do
amor a D’us. De fato, o grau de amor a D’us é o critério
pelo qual os tsadikim podem ser classificados em vários níveis.
Amor a D’us e ódio ao mal
Um perfeito tsadic mereceu o nível de amor chamado ahavah b'ta'anugim
– "deleite amoroso" ou "amor bem-aventurado".
Este é o nível de amor no qual um tsadic vivencia "deleite
na Divindade que é um prenúncio do Mundo Vindouro".
Por causa de seu intenso amor a D’us o tsadic despreza assuntos
mundanos que não são pertinentes à santidade. Similar
à maneira que uma pessoa acha as expressões de afeição
e estima insuficientes para refletir o amor que tem por um amigo muito
querido, porém sente que deve também odiar aqueles que se
opõem a seu amigo, assim também no que diz respeito ao amor
do perfeito tsadic por D’us. Devido a seu intenso amor por D’us,
ele tem desprezo absoluto pelo "outro lado", o oposto da santidade.
Além disso, este ódio ao mal é absoluto, como disse
o Rei David nos Salmos: "Eu os odeio com um ódio consumado.
Eles tornaram-se meus inimigos." No entanto, o tsadic incompleto
ainda não atingiu este nível de amor, e de modo correspondente,
ainda não chegou ao mesmo nível de ódio ao mal que
o perfeito tsadic. Nas profundezas de sua alma, pode-se encontrar "algum
vestígio de amor e prazer com ele" – com o mal.
De fato, a diferença entre a absoluta abominação
do mal e a abominação incompleta do mal não é
simplesmente uma questão de quantidade – onde um tsadic despreza
mais o mal que o outro. Ao contrário, esta diferença é
qualitativa. O perfeito tsadic, cujo amor a D’us é daquele
nível chamado "deleite amoroso", e cujo deleite na vida
está apenas em assuntos de santidade, tem desprezo absoluto com
as coisas do mundo material que não estejam conectadas ao reino
da santidade.
Este ódio é análogo à abominação
natural das pessoas por coisas desprezíveis que elas não
podem tolerar fisicamente. Em contraste, o tsadic imperfeito, cujo amor
a D’us não é tão grande quanto o do tsadic
perfeito, não considera as coisas mundanas tão repulsivas
fisicamente como o faria uma pessoa comum. Em vez disso, ele simplesmente
as considera como algo a evitar, pois perturbariam seu Divino serviço.
Transformando o mal em bem
Somente quando os prazeres deste mundo foram completamente erradicados,
como ocorre com um tsadic perfeito, o "poder do desejo" pode
ser redimido e transformado em verdadeiro bem. No entanto, se o tsadic
tem alguma conexão com as "vestes imundas", o "poder
do desejo" de sua alma animalesca não pode ser transformado
completamente, embora em geral ele esteja ocupado em afastar o mal e transformá-lo
em bem. E portanto, ele é incapaz de utilizar este poder para objetivos
positivos e benéficos.
De modo geral, o banimento do mal e sua conversão ao bem pelo tsadic
incompleto é comparável a transformar água salobra
em potável diluindo-a em água boa, doce. Quanto mais se
adiciona água doce, menos se sentirá o gosto ruim da água
salobra. Mesmo assim, embora o gosto da água não seja mais
perceptível, não se pode dizer que ele não existe.
Pelo contrário, o sabor da água salobra chega a afetar de
algum modo o sabor da água potável. Uma analogia diferente
aplica-se ao perfeito tsadic que transformou o mal em bem. Isso é
comparável à melhoria da água por Moshê em
Marah, onde "D’us mostrou a ele uma determinada árvore,
que ele jogou dentro da água, e a água se tornou doce."
Neste caso, o sabor ruim se transformou em doçura.
Quanto ao tsadic imperfeito, em quem a menor quantidade de mal é
apenas anulada no bem, o mal poderia vir a ser despertado. Em contraste,
o mal que o completo tsadic erradicou completamente jamais pode ser re-despertado!
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