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Guerra
Mundial
"O Homem é um pequeno mundo, um microcosmo" – declara
o Talmud. Daí conclui-se que a guerra entre a alma Divina e a alma
animalesca que irrompe dentro de um judeu pode ser considerada como uma
guerra mundial. As duas almas que habitam todo judeu não vivem
em paz e fraternidade. A batalha entre elas não é uma briga
ideológica ou desentendimento similar à discórdia
que existe entre duas pessoas com interesses diferentes. É simplesmente
guerra. Este assunto é discutido no capítulo nove do Tanya.
Rabi Shneur Zalman o descreve como uma batalha entre dois reis "que
entraram em guerra por uma cidade, que cada qual deseja capturar."
Assim como na guerra cada lado tem seus objetivos militares e suas próprias
táticas e estratégias, e seus próprios quartéis
de onde parte para lutar, assim também com cada uma dessas duas
almas.
A morada de cada alma
Cada uma dessas duas almas reside numa parte diferente do corpo. A alma
animalesca, que é predominantemente emocional, mora no coração,
a base das emoções. A alma Divina, que é essencialmente
racional, reside no cérebro, a morada do intelecto.
Mais especificamente, no próprio coração, a morada
da alma animalesca é o ventrículo que está cheio
de sangue, o esquerdo. E "assim como o sangue tem sua fonte no coração,
e a partir do coração circula até cada órgão,
subindo também ao cérebro"– assim também
é com a alma animalesca oculta no sangue. É no coração
que as paixões animalescas, que incitam o homem a desejos corporais
e à fúria, e a sentimentos semelhantes, são geradas
e desenvolvidas. E a partir do coração estas emoções
se espalham e invadem todo o corpo. Se elas requerem ajuda e orientação
estas emoções sobem até o cérebro, que serve
simplesmente como uma ferramenta para realizar as paixões do coração.
A morada da alma Divina é essencialmente no cérebro, e a
partir daí estende-se ao ventrículo direito do coração.
O último serve como uma segunda morada da alma Divina. O ventrículo
direito do coração não contém sangue como
tal. Ao contrário, o sangue passa através de suas câmaras.
O lado direito do coração é o receptáculo
da força de vida da pessoa (é onde o oxigênio que
sustenta a vida é adicionado ao sangue). Além disso, é
a base do yetser tov, a boa inclinação, como declara o versículo
de Cohêlet: "O coração do homem sábio
está à sua direita" (oposto ao "coração
do tolo" que está à esquerda). A revelação
do amor ardente do homem para com D’us reside neste lado do coração,
e aqui é sentida "a alegria do coração na beleza
de D’us e a majestade de Sua glória" quando o homem
sábio contempla e percebe intelectualmente a glória e grandeza
de D’us. A alma Divina também afeta o corpo como um todo,
com o qual se comunica por meio das três "vestes" da alma
– pensamento, fala e ação.
Uma nação prevalecerá sobre a outra
O versículo "Uma nação prevalecerá sobre
a outra" refere-se a um conflito entre Yaacov e Essav. Em termos
de vida espiritual judaica, este versículo é entendido como
uma alusão à alma Divina e à alma animalesca que
estão constantemente lutando uma com a outra. Além disso,
esta batalha não está confinada às respectivas moradas
das almas Divina e animalesca. A frente de batalha está em todo
o corpo, e cada alma lança constantemente sua força contra
a outra.
Rabi Shneur Zalman compara o corpo a uma cidade, seus membros a cidadãos,
e as duas almas a reis. Numa guerra entre dois reis, cada um tenta conquistar
uma cidade estratégica, e depois governá-la. (Conquistar
uma cidade implica que o povo pode ser forçado a agir segundo os
desejos do rei, contra os desejos do povo, ao passo que governar a cidade
implica que o domínio do rei sobre eles é expresso de tal
maneira que eles obedecem voluntariamente seus comandos, como declara
o versículo: "E Seu domínio eles aceitaram de bom grado
sobre si mesmos.")
As mesmas idéias aplicam-se ao âmbito das almas. A alma Divina
e a alma animalesca empreendem guerra uma com a outra numa tentativa de
governar o corpo e todos os seus órgãos, para que a conduta
geral da pessoa seja segundo a vontade da alma vitoriosa. Além
disso, o corpo e todos os seus membros obedecerão o vencedor em
tudo que este decretar, mesmo que não entendam as razões
para os editos do rei, pois o rei vitorioso assim o decretou.
Deve ser enfatizado que esta guerra interna não é algo que
veremos ocasionalmente. A guerra é constante. E como o homem é
recriado diariamente como uma nova criatura, esta guerra toma dimensões
diferentes a cada e todo dia de sua vida.
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