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O Tanya - parte 29

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Um elevado nível de teshuvá

Assim como cura é um termo geral que abarca grande área de problemas físicos e enfermidades e seu tratamento, assim também o conceito de teshuvá – arrependimento, ou retorno ao serviço de D’us – compreende um vasto espectro de problemas e doenças espirituais. "Teshuvá" – declaram Nossos Sábios – "traz cura para o mundo."

A transgressão incorre em muitas conseqüências negativas, espalhadas em muitas áreas diferentes. Toda transgressão constitui uma rebelião contra a autoridade do Criador do universo; o pecador profana seu corpo e sua alma; ele causa uma mancha na raiz da alma acima e nos mundos superiores. Ao cumprir cada mandamento positivo, um fluxo de luz Divina é atraído ao mundo, e se a mitsvá não é cumprida então o mundo fica privado do fluxo da luz Divina que poderia ter sido atraído até ele. Transgredir uma proibição da Torá cria uma barreira entre o pecador e D’us, como protesta o Profeta: "Teus pecados te afastam de D’us!" Além disso, ensinamentos cabalistas explicam que através do pecado uma pessoa adiciona vitalidade às kelipot, e erege uma "cortina de ferro" entre si mesma e D’us. Assim, teshuvá, que retifica todas as distorções e perversões causadas pelo pecado, é um assunto complexo, diverso e extenso.

Purificação Interna


A terceira seção do Tanya, denominada "A Epístola do Arrependimento", é dedicada a uma discussão dos princípios fundamentais de teshuvá. No sétimo capítulo da primeira parte do Tanya, Rabi Shneur Zalman discute um aspecto diferente, muito mais elevado de teshuvá – como teshuvá aplica-se a um benoni. Neste sentido teshuvá não é arrependimento por transgressão, pois um benoni não tem qualquer conexão com o pecado no presente. Alguém que no passado teve um deslize e consumiu alimentos proibidos e se arrepende sinceramente – a tal ponto que não resta nenhuma impressão de seu pecado – mesmo assim se confronta com um problema. Como consumiu comida não-casher, absorveu energia e vitalidade que permanece ligada e acorrentada a forças alheias. Como então ele se purifica e elimina o mal dentro de seu corpo?

Separar a vitalidade e as centelhas de santidade do alimento não-casher que ele consumiu, e elevá-los a partir das kelipot, pode ser conseguido de duas maneiras: Primeiro, quando chegar o tempo em que "E Eu [D’us] removerei o espírito de impureza da terra"; segundo, quando o pecador "se arrepende tão firmemente que seus pecados premeditados se transmutam em verdadeiros méritos". Claramente, a primeira alternativa não depende diretamente do homem. Ao contrário, é decretada lá do Alto. A segunda alternativa, no entanto, está ao alcance do homem, e ele pode atingi-la por meio de seu próprio serviço Divino. Ele tem a capacidade de remover de si mesmo o "espírito de impureza" que se apega a ele, e fazê-lo sumir do mundo.

Pecados em méritos


Segundo o Talmud, o arrependimento devido ao medo transforma transgressões deliberadas em pecados involuntários. No entanto, quanto ao arrependimento por grande amor "foi dito que os pecados premeditados [do penitente] tornam-se, para ele, como virtudes." Rabi Shneur Zalman explica que este amor não é o nível de amor a D’us que a Torá ordena a todo judeu atingir. Ao contrário, este é amor "que vem das profundezas do coração, com grande amor e fervor, e de uma alma desejando apaixonadamente apegar-se a D’us, bendito seja. Além disso, este amor brota de uma grande sede por D’us, como uma pessoa perdida numa terra estéril e seca anseia desesperadamente pela água.

Assim, um ba'al teshuvá, um penitente sincero, exatamente porque sua conduta anterior indesejável "o removeu para longe da luz do Divino Semblante", anseia e deseja apegar-se a D’us. E esta sede e esta ânsia são muito maiores que a sede do justo que nunca pecou. Isso é o que Nossos Sábios sugerem com a declaração: "Onde ficam os penitentes, nem mesmo os perfeitamente justos podem ficar" – pois o último não experimenta a mesma sede e ânsia que o penitente sincero.

Em retrospecto, fica claro que quanto ao arrependimento que brota do amor, quanto mais grave a transgressão que o penitente cometeu no passado, e portanto maior a angústia e remorso que sente agora por causa de sua distância de D’us, maior será a sede de apegar-se ao Eterno, bendito seja. Assim, podemos dizer que o pecado em si, que originalmente o separou de D’us, agora lhe traz maior amor e sede por D’us. Por isso, seus pecados premeditados do passado o trazem às virtudes do presente. Quando o penitente chega a este estágio, conseguiu extrair as centelhas de santidade dos alimentos proibidos que estavam anteriormente presos nas kelipot impuras.

     
   
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