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O
Permitido e o Proibido
Como
o corpo humano é um recipiente para a alma dentro dele, e a alma
age e se expressa através do corpo, a Torá nos proíbe
de consumir aqueles tipos de comida e bebida que têm efeitos negativos
sobre o corpo. Por exemplo, comer carne e leite juntos naturalmente proporciona
uma disposição de crueldade; beber o sangue de animais cultiva
tendências animalescas; outros tipos de alimentos proibidos causam
embotamento e insensibilidade do coração e da mente. Em
termos mais familiares – 'você é aquilo que come.'
Esta é a maneira comum de explicar a superioridade da comida e
bebida casher.
Nos capítulos sete e oito do Tanya, Rabi Shneur Zalman analisa
os efeitos negativos da comida não-casher. O princípio central
que o autor elucida nestes capítulos é que a vitalidade
contida no alimento casher é essencialmente diferente da vitalidade
que anima a comida não-casher.
Proibido significa atado
Do ponto de vista semântico a palavra assur, proibido, significa
literalmente "atado" ou "acorrentado", e a palavra
muter, permissível, literalmente, significa "desatado"
ou "liberado". Além do fato de que comida casher recebe
sua vitalidade de kelipat noga, ao passo que comida não-casher
recebe sua força de vida de três kelipot completamente impuras,
a vitalidade da última é também "acorrentada"
firmemente às "forças alheias" – i.e., às
kelipot. De forma contrária a vitalidade da comida casher, "desatada"
não é "acorrentada" às kelipot, embora
possa ter alguma conexão com elas. Esta doutrina tem grande importância
no serviço de "extração e elevação
das centelhas de santidade" encontradas em todas as coisas, e esta
é a missão sagrada de todo judeu.
Um exemplo prático que serve para ilustrar mais claramente esta
diferença. Quando uma pessoa ingere comida casher com a intenção
adequada, i.e., usa a energia que extrai do alimento para servir a D’us,
eleva a vitalidade daquele alimento de seu status original derivando de
kelipa noga ao âmbito da santidade. Assim, através da intenção
adequada ele provoca uma mudança fundamental na energia residindo
dentro daquele alimento. No entanto, se uma pessoa involuntariamente consome
alimento que não seja casher, porém sua intenção
é servir a D’us com a energia que recebe daquela comida,
e ademais isso é de fato o que ele faz – reza e estuda Torá
com a energia que adquiriu de sua refeição – mesmo
assim, a vitalidade naquela comida não é elevada. A razão
para isso é que a obra de elevar as coisas desse mundo ao âmbito
da santidade é possível somente com aqueles objetos que
derivam sua vitalidade de kelipa noga. Em contraste, aquelas coisas que
derivam sua vitalidade das três kelipot impuras, não podem
ser elevadas – sua vitalidade permanece atada e acorrentada à
"forças estranhas".
Um receptáculo para Santidade
Este assunto precisa de maiores esclarecimentos. Quando uma pessoa fortalece
seu corpo ingerindo determinados tipos de comida, e utiliza esta força
e energia para servir a D’us, que diferença faz que tipo
de alimento ele comeu? Por que o alimento casher pode ser elevado e o
não-casher não pode?
Para entender esse ponto, examinemos outro exemplo. Quando uma pessoa
pondera sobre algum assunto intelectual e transpõe seus pensamentos
para o papel, diríamos que os conceitos que ele ponderou têm
o mesmo efeito na mão que escreve como têm no cérebro
que pensou neles?
Obviamente não! A mão de fato serve como um instrumento
para expressar uma idéia. Porém, nenhuma mudança
ocorre na mão em si, como resultado de expressar essa idéia.
O motivo para isso é que a mão não é o "receptáculo"
adequado para o intelecto, e portanto não é elevada ou alterada
de nenhuma forma ao ser usada como um instrumento para expressar idéias.
Este não é o caso com o cérebro, que é um
"recipiente" para o intelecto. Portanto, quando o cérebro
é utilizado para pensar e estudar assuntos intelectuais, é
afetado por aqueles assuntos. Torna-se mais refinado, mais astuto, etc.,
como se evidencia claramente pela experiência diária.
Assim como há uma diferença entre o cérebro e a mão
no que tange a assuntos intelectuais, assim também há uma
diferença entre aquilo que é permitido e aquilo que é
proibido a respeito de sua habilidade de absorver ou conter santidade.
A comida casher é não apenas um produto que se tem permissão
para comer. É também uma substância que tem o potencial
de ser elevada ao âmbito da santidade. De modo contrário,
alimentos não-casher não podem ser elevados ao reino da
santidade. Eles simplesmente não têm este potencial. E portanto,
no que diz respeito aos alimentos, é irrelevante se a pessoa come
comida não-casher involuntariamente ou de propósito.
Mesmo com a melhor das intenções, a vitalidade da comida
não-casher não pode ser revestida nas palavras da Torá
e de prece e ser elevada com elas.
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