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O
mundo das kelipot
O Em sua visão da carruagem Divina (Merkavá) o profeta Yechezkel
previu o banimento do povo judeu, a escuridão do exílio
e a destruição do Templo Sagrado. Em sua profecia, ele declara:
"Então eu olhei, e vejam! Uma tempestade de vento estava vindo
do norte, uma grande nuvem, e um fogo ardente, e um brilho reluzente (nogá)
circundando-a." A literatura cabalista explica que as quatro expressões
gráficas no versículo descrevem as forças espirituais
(kelipot, literalmente, "cascas" ou "conchas") que
prevalecem no mundo, ocultando a Divindade.
É uma prática aceita na Cabalá referir-se às
primeiras três kelipot como uma só unidade. E embora existam
diferenças claras entre elas, e cada uma seja um nível diferente
de mal (quanto mais longe de nogá, mais profundamente enraizado
e mais poderoso é o mal dentro dela), mesmo assim, de modo geral,
estão na mesma categoria. Estas são as "três
kelipot completamente impuras e do mal", não contendo nenhum
bem". Assim, exceto pela "centelha de Divindade" que as
anima, e da qual elas estão totalmente alheias, são inteiramente
do mal.
A quarta kelipá, chamada noga, é essencialmente diferente
das outras três, pois dentro dessa kelipa reluz um raio de santidade.
Ora, as proporções de bem e mal que compreendem noga variam
nos diferentes mundos espirituais, Atzilut, Beriá, Yetzirá,
Assiyá. Apesar disso, mesmo neste mundo inferior, "chamado
mundo de Assiyá, embora seja quase todo de mal, existe um pouco
de bem mesclado dentro dele."
A Fonte de Vitalidade
No sexto e sétimo capítulos do Tanya, Rabi Shneur Zalman
diferencia aquelas coisas que recebem sua força de vida das três
kelipot completamente más e aquelas que recebem sua vitalidade
da quarta kelipá, noga. Na primeira categoria estão as almas
de todas as criaturas vivas que são impuras e proibidas de ser
comidas, e a força de sustento de seus corpos. A existência
e vida de toda a vegetação proibida, também, assim
como orlá [o fruto produzido durante os três primeiros anos
de vida de uma árvore], e uma mistura de sementes de cereal numa
vinha." Na segunda categoria estão "a vitalizante alma
animalesca no judeu… que se reveste no sangue humano… e as
almas dos animais, feras, pássaros e peixes puros [segundo as leis
da Torá] e são [assim] permitidos para consumo [pelos judeus],
como também a existência e vitalidade de tudo no mundo inanimado
e no mundo vegetal que é permitido para consumo."
Além da vitalidade daquelas criaturas acima mencionadas, cuja força
de vida é implantada nelas desde o início de sua criação,
o Tanya também discute um aspecto adicional da vitalidade que é
extraído das kelipot segundo o serviço do homem e suas ações.
Quando um judeu ativa uma das "vestes" de sua alma, seu pensamento,
fala ou ação ao violar uma das 365 proibições
negativas, suas ações são nutridas pelas kelipot
impuras. E quando ele ocupa os poderes de sua alma com assuntos mundanos
que não são proibidos, mas mesmo assim não são
pelo mérito dos Céus, a vitalidade de seu pensamento, fala
e ação derivam de kelipá noga.
Uma mistura de bem e mal
Kelipá noga contém tanto o bem quanto o mal, sendo considerada
uma categoria intermediária entre as três kelipot impuras
e a categoria de santidade. Embora as três kelipot impuras não
contenham qualquer bem, o âmbito da santidade não contém
mal algum. Assim, kelipá noga está conectada tanto à
santidade quanto à kelipá. Seu status é flexível
e pode ser elevado ao nível da santidade, ou pode despencar até
as kelipot impuras.
A Chassidut explica que como kelipá noga encerra tanto o bem quanto
o mal, pode afetar uma pessoa em ambas as direções. Por
exemplo, quando alguém come alimentos permitidos, mesmo que sejam
sancionados pela melhor supervisão rabínica, do aspecto
do mal dentro deles uma pessoa pode chegar à posição
de "yeshurun engordou e ficou rebelde", onde seu corpo se torna
maciço e grosseiro, e a influência de sua alma é diminuída.
De modo contrário, do aspecto do bem dentro do alimento, uma pessoa
pode receber energia adicional e vitalidade em seu corpo e na sua alma,
as quais pode utilizar para servir a D’us. Portanto, qual aspecto
do alimento que ele consome dominará, afetando-o de uma maneira
ou de outra, depende de seu próprio comportamento e ações.
Se ele come para satisfazer seu apetite físico, a vitalidade contida
naquele alimento é degradada e torna-se absorvida nas kelipot,
e seu efeito sobre ele será negativo. No entanto, se ele come pelo
mérito do Céu, a fim de ampliar sua mente para o serviço
de D’us e Sua Torá, etc., então a vitalidade do alimento
que ele consome ascende ao âmbito da santidade, e seu efeito sobre
ele será positivo.
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